O Cristal Encantado: Era da Resistência (Temporada 1)


E então, FINALMENTE, Cristal Encantado: Era da Resistência está entre nós. Minha ansiedade pela série é algo no mínimo curioso: eu não cresci com o filme original, ou com Labirinto, e os filmes Muppets que permearam minha infância foram os pós-Jim, quando a Disney e os Henson tavam num chove-não-molha executivo.

Eu conheci a série em 2014, e com o passar do tempo eu fiquei mais intrigado pelo mundo, pelo processo de criação, e pelas intenções de Jim. Como outras obras que eu resenho, às vezes o que me intriga ou me atrai mais não é nem o produto final, mas a intenção do autor.

E depois de ter praticamente maratonado os quadrinhos de Dark Crystal, eu senti que pouco a pouco eu passava a entender melhor o filme e suas intenções. E era algo fantástico, algo bom, algo que valia a pena investir tempo assim como tem gente que investe tanto esforço mental com Senhor dos Anéis e Star Wars.

E talvez agora seja o momento dessa franquia brilhar.



Era da Resistência chega num momento incrivelmente único da Humanidade: nossa raça produz conteúdo com uma rapidez e quantidade absurdos, e qualquer um com um celular minimamente decente consegue contar uma história. O mesmo vale pros grandes estúdios, que porcausa dessa facilidade de criar conteúdo, tão conseguindo tirar a alma de toda e qualquer propriedade que você ama como se fosse George Martin batendo os dedos numa máquina de datilografar.

Digo, eu peguei um tempo onde Star Wars era um EVENTO. Eu era pequeno demais pra lembrar, mas toda vez que passava na TV era algo grandioso e digno de juntar todo mundo pra assistir. E era um tempo parecido com o de hoje, onde Star Wars já tinha o status de cult. Embora minhas memórias da época sejam confusas a ponto do meu primo vier me falando que iam fazer mais um Star Wars e eu "é não mah são filme antigo demais vai ter mais novo não". Isso foi em 2004, um ano antes de George Lucas lançar Tauó 3 - O Rebuliço dos Sentado.


Na real até a tradição de filmes-evento a indústria conseguiu estragar. Hoje TODO maldito filme TEM que ser grandioso, épico, e se achar mais importante do que realmente é, tipo Pearl Harbor. Star Wars não precisava fingir que era um filme-evento, ele já era naturalmente, embora todo mundo soubesse que metade da produção era pra fazer brinquedos e quinquilharias.

Enfim, hoje as detentoras das marcas e dos filmes que se tornaram clássicos cult sabem desse valor graças a esse poder de criação de conteúdo por parte dos fãs e aproveitam pra tirar uns trocados do público. É por isso que agora temos um Star Wars TODO ANO. Algo que deveria ser como assistir um espetáculo na Broadway agora soa mais como o cotidiano, automático, a ponto que ninguém mais pensa se REALMENTE querem ver os filmes, porque tão mentalmente condicionados a assistirem qualquer coisa que tenha personagens e músicas reconhecíveis de infância, e inclusive potencialmente estragando pra novas gerações que tão conhecendo Rei Leão agora PELO AMOR DE DEUS ALGUÉM TIRE BOB IGER ABSOLUTO HOMEM LOUCO.

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Mas... Isso é assunto pra outro dia.



Enfim, hoje estúdios tão mais do que dispostos a despejar literais caminhões de grana em produções baseadas em algo nostálgico. Isso não é necessariamente nada novo, mas tá bem mais potencializado agora. São como fazendeiros que semearam e regaram pacientemente e passaram essa tradição aos próximos fazendeiros, que agora podem colher todos os frutos.

Com a Jim Henson nem sempre foi assim.

Quer dizer, foi, mas nunca a essa escala. De fato, talvez eles tenham sido uma das poucas companhias que tiveram o privilégio de ter uma fanbase tão fiel quanto a de Dark Crystal. As outas que me vem à mente são a Disney e Warner, por motivos óbvios. Mas talvez a Henson tenha sido a única dessas a ter uma fanbase tão fiel e duradoura quanto os outros estúdios... mas ainda era nicho e com base em um único filme.


Como cê deve saber, Dark Crystal não foi exatamente o blockbuster na época. A crítica recebeu meio morna, e a bilheteria não foi lá essas coisas. Então Jim Henson fez Labirinto, a recepção da crítica foi ainda pior, o que fez o velho hippie mostrar o dedo do meio pra indústria de filmes e prometeu nunca mais fazer um longa na vida.

Mas a semente já estava plantada. Com a criação de Dark Crystal e Labirinto, Jim se viu obrigado a desenvolver técnicas próprias e novas pra confecção de fantoches, num conceito novo e realista que hoje conhecemos como "criaturas". Creature Shop era pra Jim Henson o que a Industrial Light and Magic era pra George Lucas.

Mas o filme tinha qualidades legítimas, e conseguiu cativar um público de crianças, jovens e adultos que no decorrer de suas vidas, redescobriram o filme e passaram a naturalmente querer saber mais sobre suas histórias. Naturalmente porque visual e narrativamente o filme era tão rico em vida e detalhes quanto outras fantasias da época, como Senhor dos Anéis e Star Wars. E eles começaram a produzir material de fãs, como histórias e ilustrações, e, com a internet, divulgaram entre si.

A Henson não ficou alheia e começou a cultivar essa fanbase, e vez ou outra insinuava uma continuação de Dark Crystal. Houve até uma competição de fanfics onde o ganhador iria efetivamente escrever livros pro canon do mundo, e quadrinhos que eu já escrevi extensivamente aqui.

Mas obviamente, uma produção audiovisual seria cara e trabalhosa demais pra fazer. O patamar que o filme original criara já era altíssimo, uma nova empreitada na mesma mídia teria que estar à altura. A companhia já conseguia se sentir à vontade com histórias e visuais, mas o elemnto fantochesco é tão intrínseco ao DNA da história quanto a animação 2D em Mary Poppins e Roger Rabbit. Teria que ser feito com cautela.


De fato, testes foram feitos em 2016 quando a Netflix entrou na jogada de produzir algo baseado em Dark Crystal, usando um Skeksi fantoche e um Gelfling em CG. Fica claro pela imagem acima que isso não funciona como deveria.

E então eles fizeram tudo com fantoches.


Essa introdução parece ser meio longa e eu posso estar demorando pra chegar no ponto principal, mas isso tudo é importante pra que cê tenha uma noção do que realmente Dark Crystal representa: uma história que parece uma mistura de fábula com lenda com mito, algo familiar mas estranho, contada através de uma arte milenar. De certa forma, Dark Crystal é a própria representação da arte do fantochismo.

E a Netflix respeitou isso.



Se passando antes do filme original, a história começa numa época onde os gelflings se dividiam em clãs e se colocavam sob o reinado e liderança dos Skeksis, que manipulam os gelflings a seu bel-prazer, a ponto de colocar gelfling contra gelfling. De facto, esse é um dos pontos principais dessa era: os clãs meio que não se bicam bem entre si. Alguns coexistem, mas desconfiam uns dos outros em certo nível, ou totalmente fazem bullying mesmo no caso do clã que vive em cavernas subterrâneas, e vice-versa.

A história mesmo começa com os Skeksis descobrindo que o Cristal não lhes dá mais a mesma vitalidade e energia que antes, e o Imperador manda que o Cientista descubra meios alternativos de fazê-lo. E assim ele o faz, sugando energia de uma gelfling guarda do Castelo do Cristal.

Então acompanhamos alguns Gelfling que começam a perceber que há algo errado acontecendo. Brea é uma princesa, filha da rainha de todas as matriarcas dos clãs, e ao questionar as tradições de oferendas aos Skeksis (que lhe soam injustas), começa a estudar símbolos estranhos e buscar respostas que lhe são constantemente negadas pelos outros membros reais.


Rian, um guarda do Palácio do Cristal que descobre os planos malignos dos Skeksis, mas mesmo com os gelflings tendo a habilidade de compartilhar memórias (dreamfast), os Skeksis conseguem manipular a situação pra que ninguém acredite em Rian, que se vê obrigado a fugir e encontrar alguém disposto a ajudá-lo.

E temos Deet, que teve um encontro com a... Grande Árvore Deku, eu acho, que lhe dá a missão de ir pra superfície a fim de parar o Escurecimento, evento que tem tornado os animais agressivos devido à corrupção do Cristal.

Não, eu não vi dublado então eu não sei alguns temos específicos que eles traduziram, como Darkening e Dreamfast. Eu vou adaptar da forma que eu achar melhor e se achar ruim vá se engasgar com um milho de pipoca.


Como praticamente toda produção da Netflix, a série é escrita de uma forma que tu consiga ver vários episódios seguidos sem se cansar muito, ao contrário dos padrões semanais. Talvez esse seja um erro, porque, como eu pude constatar, quase tudo envolvendo Dark Crystal é algo que precisa ser apreciado lentamente.

Cada cenário, cada personagem, cada objeto, tudo foi minuciosamente planejado e feito artesanalmente em algum nível. Mesmo que usem impressoras 3D pra algumas partes mecânicas, mas objetos como o diário da Brea, ou o livro dos Skeksis, são frutos de um trabalho árduo de pesquisa e planejamento e artesanato e tu consegue sentir isso na tela.

Assim como os visuais, a própria história e construção de mundo são riquíssimos. Há uma imensa variedade de criaturas, lugares, plantas, personagens, mitologia. O que me leva a algumas perguntas.

Em Creation Myths os seres alienígenas conhecidos como Urskeks ensinaram Aughra sobre o cosmos, estrelas, sabedoria e conhecimento de seu planeta, como fazer miojo, todas essas coisas boas. E deram até um planetário/observatório/laboratório/sei lá o que pra que ela estudasse astronomia. Mas a primeira cena de Age of Resistance diz que os Skeksis que fizeram tudo isso, então... Confuso.


Dá pra dizer que tecnicamente foram os Skeksis, porque eles são parte dos Urskeks, que foram separados depois da ruptura do Cristal. Ok, mas Aughra diz que deixou o Cristal sob proteção dos Skeksis... Algumas lacunas sobre esses pontos específicos faltam e talvez sejam explicados na segunda temporada ou nos livros do J.M. Lee. Ao final de Creation Myths os Skeksis ainda tem a confiança dos gelflings, já que "agora eles são os lordes do Cristal" e os abutres reptilianos comemoram o fato de terem um assento na mesa da assembléia dos gelflings como uma vitória.

Então não é como se fosse uma inconsistência, mas faltam lacunas entre uma coisa e outra. Talvez explique nos livros que eu não li, não tenho certeza. Eles tão pra vender na Amazon em português, ao menos o primeiro e segundo volumes. O terceiro ainda não deu as caras por aqui, e nem sinal dos quadrinhos por enquanto (fora o Lendas do Cristal Negro que eu não achei em canto nenhum).

Mas isso é mais cata-piolhagem mesmo. A história ainda é mais grandiosa e mais épica que o filme original, e é uma história que faz valer o termo "fantasia sombria".


Temos momentos engraçadinhos aqui e acolá, e personagens adoráveis como Deet, que lembra muito alguns traços da Ariel e Rapunzel. Mas esse é um mundo cruel, dominado pelos Skeksis que agem como ditadores com aparência de benevolência. O egoísmo e mesquinhez deles faz com que os gelflings obedeçam suas ordens cegamente, como as criaturas ingênuas que são, o que leva os Skeksis a cometer o genocídio em prol de suas existências. E a série não se intimida de mostrar os personagens sofrendo, chorando (FANTOCHES CHORAM!!), ou desesperançosos. É o tipo de coisa que a gente tinha mais nos anos 80 e 90, e é algo que falta muito hoje em dia.

Parece que TUDO precisa ser mais sanitizado pra não ferir as sensibilidades de crianças e millenials. Até o Grinch sofreu muito desse efeito na sua última encarnação. Eu não consigo lembrar de filmes recentes que tenham ousado tanto, ou tentado assustar crianças a um nível saudável. Raios, até o filme de Peanuts pela Blue Sky teve que maneirar na depressão do Charlie Brown pra que não ferisse o merchandising ou algo assim. Depois de tantos anos vendendo pelúcias e cadernos, é fácil se esquecer como as tirinhas e desenhos originais do velho Minduim eram schadenfreudianamente depressivas.

Veja A Boy Named Charlie Brown e terão uma noção melhor do que é a essência das tiras. O filme da BlueSky é sensacional em seus próprios méritos e respeita o material de origem, mas assim como Pequena Sereia da Disney, eles não podiam ir em 100% da adaptação, e fizeram o melhor que podiam com isso em mente. Kudos pra eles.


Enfim, Age of Resistance é uma fábula sombria e nada de cruel que faz ou mostra é gratuito. Há motivos por trás de cada decisão, cada sofrimento. No fundo, é uma história sobre tragédia e esperança.

E a melhor parte é que nada é TÃO político como quase todas as produções Netflixianas. Até hoje eu não perdôo o que fizeram com Fuller House, de verdade. Eu já tava esperando o Imperador soltar um "I'LL MAKE THRA GREAT AGAIN", mas graças a Deus nada disso acontece. Os tons de fábula e analogia continuam sutis e nunca tomam uma direção muito específica e clara. Assim como o filme e conceito originais do filme, é uma história muito abstrata e você pode tirar as conclusões que quiser. Prova disso são algumas das declarações de uma das executivas da Netflix no making-of de Age of Resistance. Quando cês verem vão saber.

O máximo de lacração que existe é o fato da Deet ter dois pais, o que eu imagino que seja uma cláusula contratual da Netflix. Cê acha que eu tou exagerando, mas vai dar uma olhada nas Harassement Policies da empresa pós-MeToo.
Literalmente, é o tipo de coisa que não merece mais que uma nota de rodapé, como uma obrigação contratual.


O engraçado é que a série tem traços de grandes novelas recentes como Game of Thrones, com várias histórias paralelas que se cruzam, arcos pessoais de cada personagem, divisão em clãs porque sempre dá pra tornar um mundo interessante E formentar engajamento de fãs que se identificam com certas "casas" (inclusive eu simpatizei com o clã dos marinheiros por motivos óbvios, mas provavelmente eu seria um Grottan maldito que vive escondido debaixo da terra). Mas ao mesmo tempo a forma que os eventos são narrados e levados de um ponto ao outro lembram muito as narrativas oitentistas.

E enquanto Kira e Jen faltavam personalidade, aqui cada personagem é gostável o suficiente e diferentes em suas maneiras e motivações e objetivos. Rian é valente, Deet é curiosa e ingênua, Brea é determinada. E até os personagens recorrentes tem motivações reais e evolução, como a família da Brea.
E os personagens que já conhecemos (no caso, os Skeksis e em especial Chamberlain) também são fantásticos. Eu amo como eles conseguiram expandir o conceito de que cada Skeksi representava um pecado capital. Ainda não é o mote principal porque tem mais Skeksi que pecado capital, mas é notório a influência dessa idéia em cada um.

Eu inclusive amo como desenvolvem o Chamberlain pra ser esse ser asqueroso e manipulador. Tem um diálogo entre ele e Rian que resume muito bem não só o personagem, mas as mecânicas sociais desse mundo. Chamberlain tem uma lábia digna de um corretor de imóveis e é capaz de argumentar de maneira que te faz pensar duas vezes antes de responder, é sensacional.


O clima de fantasia e deslumbramento é bem diferente do que vemos em produções recentes e isso é espetacular. É como reencontrar um velho amigo que apesar de ter crescido e envelhecido, ainda tem aqueles mesmos traços de personalidade e trejeitos de quando vocês eram crianças.

Parte disso se deve também à própria natureza da animação.

Sim, é animação, outro dia disserto sobre isso.

Os fantoches tem aquela qualidade artesanal, mas a um nível muito superior dos originais. Agora não precisam de tanta gente pra manipular os bonecos, e podemos ver mais gelflings na mesma cena, ou até mesmo Skeskis pulando. Lembrando que em alguns momentos do original, eram necessários exércitos de gente pra manipular um personagem, e a televisão acoplada a suas cinturas era de tubo. Hoje com duas ou três pessoas e um tablet dá pra fazer todos os movimentos cobrescos de Chamberlain sem nenhuma dificuldade.

Os dedos de Jen e Kira eram esculpidos na madeira, hoje são feitos em impressoras 3D e que podem ser facilmente integrados a mecanismos pra que eles se abram e fechem e assim peguem objetos. É sensacional.

O mais impressionante é que eu sabia que ia ter CG, mas levada ao mínimo. Coisas como fazer personagens sorrirem de leve ou efeito de chroma key que não é novidade pra fantoches, é uma técnica usada desde Muppets Christmas Carol, talvez até antes mas Christmas Carol é quando eu me lembro. E quando usado bem, é um efeito FANTÁSTICO. O Fantasma do Natal Passado foi feito com esse efeito, pra dar a aparência fantasmagórica vestiram ele de panos brancos e gravaram num tanque de água. Assim, a roupa ia ficar flutuando ao redor do fantoche. GENIALIDADE!!


Aqui o negócio é levado a outro nível. Nunca um efeito em CG iria substitui totalmente um personagem. Mas tomadas de ação como a do Caçador lutando contra Rian e seu pai só são possíveis num ambiente totalmente digital, e ainda assim as texturas e direção de arte é aproximada e disfarçada o suficiente pra que percebamos, mas não nos importemos. É um pequeno elemento no meio das outras tomadas práticas impressionantes.

Outros personagens que se utilizam desse efeito são as aranhas gigantes cujo nome não me lembro, e o interessante é que eles misturam as técnicas, tal qual o ataque do T-Rex no primeiro Jurassic Park; temos cenas em CG e outras que é um efeito prático, tentando confundir nossa mente. E temos persoangens como o Lore, que eu JURAVA que era o único completamente em CG (com no mínimo alguns pedaços reais pra quando precisasse ser tocado por outros personagens), mas não, ele também é uma mistura e o boneco é surpreendente.

Quando a gente fica tão dessensibilizado pelo excesso de CG, é bom ver que ainda é possível uma harmonia entre o prático e o digital, quando o digital é feito pra ressaltar os efeitos práticos.


Talvez minha única cata-piolhagem técnica seja a falta de sincronia labial em algumas tomadas. Não é algo que ninguém que não tenha meu nível de demência vá notar, mas talvez chame atenção. Não sei exatamente o motivo, se foi pela rotina desgastante dos fantocheiros, ou pela forma que os bonecos foram construídos (mesmo que não tenham as mesmas limitações dos anos 80, ainda é um desafio pra acoplar o tanto de motorzinho dentro), ou o mais provável, alguma mudança de última hora de diálogo.

Normalmente numa animação os atores gravam as falas e depois os animadores trabalham em cima dos áudios. Aqui é o caminho inverso: primeiro se grava as cenas e depois os atores tem que dublar por cima. Sim, o ideal é que cada fantocheiro dublasse seu personagem, mas isso era basicamente impossível. Não é uma produção como Muppets ou Sesame Street ou Labirinto, os personagens exigem vozes específicas pra eles. Foi assim no filme original, inclusive.

E claro, a Netflix tem que garantir que seu público-alvo veja. Se não tiver Helena Bonhan-Carter e o cara de Hot Fuzz, como os millenials preguiçosos vão ter o mínimo de interesse em ver uma história rica em mitologia e criatividade?


Cristal Encantado: Era da Resistência é tudo aquilo que o filme original almejava ser. É uma fantasia sombria artistica e tecnicamente impressionante (tem mais de 100 fantoches e cenários gigantescamente físicos), com uma história engajante e que consegue apresentar esse mundo a uma nova geração de uma maneira e ritmo que lhes apraz, mas sem esquecer dos momentos de contemplação que fizeram o original ser tão especial.

Jim Henson estaria orgulhoso.

Minha recomendação é só que não façam como eu, demorem a assistir. Saboreiem, apreciem. Vejam um, no máximo dois episódios por dia. Senão vai acabar e logo logo vai dar saudade de Thra.

E também porque passar muito tempo sentado e parado faz mal, eu ainda tou me recuperando. E tem um pessoal em grupo de Facebook que quando eu terminei de ver, quase meia-noite JÁ TAVA ERA REVENDO

Tem um pessoal meio doente, viu.



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Se tu gostou de Era da Resistência e quer saber mais sobre esse mundo, dá pra comprar os quadrinhos na Amazon pelo Comixology. São versões digitais e incrivelmente baratas e convenientes, comparada às físicas, e tu ainda vai treinar teu inglês.


E se tu gosta de histórias de fantasia e contos clássicos mas tá cansado dos mesmos, tem os quadrinhos baseados no Storyteller, uma série produzida pelo Jim Henson que conta contos folclóricos europeus mais desconhecidos, como O Soldado e a Morte e Hans o Ouriço.

Algumas tem semelhanças com histórias conhecidas como Cinderela e Bela e a Fera, mas com narrativas e desfechos únicos. Os quadrinhos seguem o mesmo estilo, com histórias fechadas e sem necessidade cronológica, o que é ótimo se tu não tem paciência pra histórias longas e só quer algo pra passar o tempo.


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