A Pequena Espiã
Pense aí em 3 filmes da sua infância que te moldaram o caráter ou personalidade. Não, não precisa me dizer (mas se quiser tem os comentários ali embaixo), mas eu quero que pense bem na sua resposta. Talvez se tu responder rápido demais acabe citando os 3 filmes favoritos da sua vida. Não, não, não, eu quero os 3 filmes que tu via MUITO numa idade em que tu mal sabia pronunciar "paralelepípedo" sem se engasgar e que olhando pra trás, acabaram te influenciando meio que subliminarmente.
Vai lá, eu espero.
...
...
Tchururu...
...
Acabou? Ótimo.
Talvez eu tenha te incentivado a rebuscar algo muito específico, que talvez tu nem lembrasse. Algum filme ou série ou gibi que tu acabou se relacionando com algum tema ou personagem que te fez dizer "bom, finalmente eu entendi porque eu me sinto atraído por mulheres-raposa e mulheres-gatas!"
Seu DOENTE.
Eu fiz esse mesmo exercício e eu acabei me lembrando de A Pequena Espiã.
Esse filme era arroz de festa na Sessão da Tarde, ao menos na minha época. Foi o primeiro filme produzido pela Nickelodeon logo depois que a Paramount foi comprada pela Viacom, consequentemente o primeiro longa do selo Nickelodeon Movies.
A essa altura a Nick já tava produzindo desenhos e live-actions próprios de alta qualidade, como A Vida Moderna de Rocko, Pete e Pete, Lendas do Templo Perdido, Clube do Terror, etc. O próximo passo natural era um longa, certo?
Então eles pegaram um livro de 1964 que foi banido em algumas escolas por supostamente ensinar as crianças a xingarem, mentirem e bisbilhotar a vida alheia.
...
Eu não sei vocês, mas isso é MUITO a cara da Nickelodeon nessa época.
Sim, parece bizarro, mas eu juro que teve um tempo que a Nickelodeon era legal.
Enfim, vejamos esse filme.
A Pequena Espiã (Harriet the Spy, 1996)
O filme nos mostra o dia-a-dia de Harriet, uma guria que sonha em ser escritora. Sua babá, Betty Rubble, a orientou que começasse desde agora a treinar. Então, inspirada por Dick Tracy e Maurício de Sousa, ela veste seu sobretudo amarelo e passa os dias e tardes livres observando as pessoas da sua cidade e fazendo anotações sobre elas, como um repórter, detetive, ou o pessoal do FBI que vigia as webcams.
Ela tem dois melhores amigos: Sport e Janie. Sport quer se tornar um grande jogador de baseball e Janie quer ser uma cientista. E como sempre, temos a Maria Joaquina da sala, Marion. Ou é Marian. Curiosamente o sobrenome dela, Hawthorne, me parece mais fácil de lembrar e escrever que o primeiro nome.
Deixa eu checar.
...
É Marion, eu tinha acertado de primeira. Ô raio. Enfim. Ela é a guria rica e mimada que sempre anda por aí com a guria cuja vida existe pra lamber os pés de Marion e querer ser como ela. A sala é composta de outros personagens fascinantes e memoráveis, como a guria apaixonada pela cópia do Felipe Dylon; o moleque ruivo que tem tanto conhecimento de etiqueta quanto o Pumba; a guria que criou peito e começou a usar sutiã e por isso se acha alguma coisa; o moleque de meia roxa que nunca fala nada; a professora que parece gente boa mas Harriet não confia e acha que ela vai matar alguém algum dia; por aí vai.
São personagens apresentados de forma unidimensional por Harriet (que descreve a todos sem misericórdia em seu caderno), mas no decorrer do filme alguns passam a ter um pouco mais de personalidade. Assim como crianças comuns a essa idade, quase todos tem uma característica estranha marcante e acabam sendo mais conhecidas por aquela característica, psicológica ou física. Eu lembro que na minha época tinha uma guria IGUALZINHA à guria cujos seios se desenvolveram.
Não, sério! Eu era novato no colégio, e no período de um ano a puberdade atingiu aquela guria feito o trem que matou o Sykes em Oliver e Sua Turma. Não só o corpo dela se desenvolveu muito mais rápido que as outras gurias da sala, mas ela esticou o cabelo, começou a usar lente de contato, e era adepta da cor rosa tal qual a guria do filme. Mochila, caderno, estojo, os óculos no começo do ano, tudo era rosa e ela tinha uma caneta rosa com um pompom rosa na ponta. Eu só me toquei da mudança quando no final do ano fizeram uma retrospectiva e tinha uma foto dela no final do ano anterior, onde ela parecia uma batata.
...esse parágrafo mostra que eu provavelmente não aprendi a moral do filme, mas eu omiti nomes, então tá ok.
...espero.
...espero.
Meu ponto é: o filme mostra personagens extremamente memoráveis e identificáveis. Quase todo mundo conheceu alguém com algum traço parecido dos moleques da sala. Eu também lembro das duas gurias loiras que SEMPRE andavam juntas, a diferença era que uma era de fato linda de doer e a outra parecia o André Marques de peruca.
Aliás, eu esbarrei nesse evento duas vezes, uma na sala de aula e outra no transporte escolar.
Aliás, eu esbarrei nesse evento duas vezes, uma na sala de aula e outra no transporte escolar.
Inclusive eu ouvi histórias de um professor sobre um aluno que era mais ou menos igual o Menino das Meias Roxas, só que um dia ele foi desafiado a cheirar acetona na aula prática de química, virou o vidro no nariz, desmaiou, e quando acordou disse "PROFESSOR... ... .... EU VI JESUS!"
...ainda bem que nós brasileiros não temos o costume de fazer festas de reecontro de turmas. Não porque provavelmente eu seria processado pelos ex-colegas, mas por ver todo mundo formado em direito/medicina/agricultura interplanetária, com filhos e eu escrevendo sobre um filme pra crianças dos anos 90 que ninguém se importa, fadado a morrer sozinho tendo a única companhia de uma beagle e uma calopsita.
...enfim.
O filme funciona bem como um slice-of-life, e a narrativa tem muito toque de literatura. Cada segmento parece ser narrado de uma forma meio independente, mas ao mesmo tempo contando uma narrativa contínua. Por exemplo, temos os segmentos sobre a vida da Harriet, mas também vemos o pessoal que Harriet bisbilhota, e seus problemas; como o velho que faz imensas gaiolas de passarinhos mas é procurado pela vigilância sanitária por ter dezenas de gatos, ou a família chinesa do restaurante e o filho jovem que só quer passear de caminhão.
Na real essa é uma cena que SEMPRE me incomodou quando moleque: porque RAIOS o cara quer viver dando rolê no caminhão? A mãe dele até manda que ele veja televisão, o que é um atestado empírico de que alguma coisa tá errada. Normalmente mães mandam que tu saia da TV e vá tomar um ar puro, não o contrário. Pelo que eu entendi o cara quer o caminhão pra sair com a namorada.
...
Ah, sim, claro.Chega na gata "E AÍ PRINCESA? CURTIU O MEU POSSANTE?" e ela responde "ah tu é o moço que recolhe o lixo lá de casa". Vai lá campeão, acredite no seu potencial.
Enfim, o maluco insiste em sair com o caminhão, algumas cenas depois vemos o caminhão batido e a família toda brigando com ele, e no final ele consertando o caminhão com a namorada da maneira mais adorável possível.
QUE? COMO? HÃ? Enfim, é mais ou menos assim que funciona a narrativa, mas esses são só alguns trechos. Na maioria dos casos vemos Harriet tendo seus problemas familiares e pessoais e lidando com as dores do crescimento. Existem muitos filmes sobre amadurecimento (coming-of-age, como os "cinéfilos cultos" provavelmente chamam) sobre adolescentes e eu poderia ficar te citando vários mesmo sem ter visto todos.
Os que eu lembro de ter visto foram Construindo uma Carreira, Eu Te Amo Beth Cooper e Labirinto. Labirinto é uma forma mais abstrata e fantasiosa, mas ainda se trata sobre uma guria amadurecendo. Eu ainda quero terminar minha tese de que Sarah é a mesma personagem em Construindo uma Carreira, que é espetacular e todos vocês deveriam assistir. Beth Cooper é... Super Cine. Sabe, o equivalente noturno da Sessão da Tarde. Se quiser saber mais eu escrevi uma resenha no Letterboxd.
E me segue lá, vez ou outra eu escrevo brevemente sobre algum filme que talvez não venha parar aqui. Segue também a lista com os filmes resenhados no SRT porque... sei lá, só vai.
Onde eu tava? Ah sim, filmes de amadurecimento. Tem um MONTE desses sobre jovens e até sobre pré-adolescência, mas muito pouco sobre crianças. É normal ver crianças problemáticas ou com problema em filmes pra um público mais velho, mas quase nenhum direcionado pra crianças mesmo, e Pequena Espiã consegue te manter interessado nisso mesmo se for criança. É um filme que fala a linguagem de seu público tanto verbal quanto visualmente.
Harriet entra no Mundo Especial quando sua babá Golly (interpretada pela Betty dos Flintstones) decide deixar a família após uma noite fora com Harriet e um amigo, o que deixou os pais da guria preocupados. A princípio Harriet reage relativamente bem, tendo só uma leve depressão por ter que abandonar aquela que esteve sempre ao lado dela, orientando enquanto a entretia e cuidava. Golly na real lembra muito o estilo da Mary Poppins, até pra explicar coisas do mundo adulto, guiando a conversa pra algo que Harriet consiga entender e terminando em algum jogo de palavras ou algo assim pra tornar a situação mais leve. (O livro foi publicado no mesmo ano de lançamento do melhor filme da Disney, aliás)
Mas tudo piora quando Marion consegue o caderno de Harriet e lê suas notas sobre os colegas em voz alta, tornando a guria persona non grata até pros seus melhores amigos. Assim, Marion faz um clube de caça-espiões com os colegas e se dedicam a perturbar Harriet constantemente, até ao ponto de humilhá-la.
E a guria NÃO FICA POR TRÁS E SE VINGA. E vejam bem, não é coisa meio cômica como se espera, é uma humilhação que eu só lembro igual com a Ana Francisca em Chocolate com Pimenta. Os colegas insistem em sujá-la mais, e a professora acaba não percebendo que é um esforço deliberado das crianças pra torturar Harriet, como acontece vez ou outra, em certas situações os adultos não percebem quando crianças tão maquinando o mal e interpretam totalmente do avesso. Acontecia muito comigo, aliás.
Esse é um dos momentos mais marcantes do filme e é quando tu se dá conta de que esse não é um slice-of-life de comédia. Não é um filme que tenta ser engraçadinho.
Esse é um dos momentos mais marcantes do filme e é quando tu se dá conta de que esse não é um slice-of-life de comédia. Não é um filme que tenta ser engraçadinho.
Embora o design de produção seja colorido e os personagens atuem de uma forma relativamente exagerada (técnicas pra manter o interesse audiovisual das crianças, certamente), essa é uma história que tenta retratar o bullying de uma das formas mais realistas quanto pudesse. Talvez até dá pra argumentar que não é um filme tão sombrio quanto o tema pede, mas talvez por ele ser visto pelos olhos de uma criança. Como se a Harriet tivesse contando pra ti e tu pudesse ver as memórias dela, que são distorcidas de um jeito ou de outro.
A Nickelodeon na época era conhecida por empurrar os limites do entretenimento pra crianças, basta ver a line-up deles na época. O que Pequena Espiã faz é algo que tá mais na linha de Ginger faria uns anos depois, que lidava com problemas reais e palpáveis de uma forma até meio crua, pelo que eu pude ver.
E é interessante como Golly teve percepção, ela decidiu se demitir do trabalho de babá porque viu que Harriet já tava madura o suficiente pra cuidar de si mesma. O problema é que os pais dela são completamente alienados da filha e o filme não se intimida de mostrar o casal brigando ou Harriet tendo seus ataques de ansiedade e pânico. Nada gratuito e a Michelle TRACHEBNERG é uma excelente atriz. Na real, todas as crianças são excepcionalmente boas nesse filme, não sei se foi uma safra boa de atores-mirim ou se o diretor é ORNITORRINCAMENTE bom.
Depois que Golly vai embora é que os problemas começam a aparecer na vida de Harriet. Os pais começam a discutir na frente dela (antes era algo que Harriet sabia que acontecia, mas eles nunca brigavam na frente dela); todos seus amigos não só a abandonam mas começam a persegui-la; Harriet cai numa depressão profunda, e algo que eu não tinha notado quando moleque: ela passa a conhecer melhor os próprios amigos.
Vejam bem, Sport e Janie são os amigos que tão SEMPRE com Harriet. Eles são tão unidos a ponto de fazerem um desenho no pé pra simbolizarem a amizade deles. Mas até então não tínhamos visto como a mãe da Janie no fundo não aprova as empreitadas científicas da filha, e Sport vive sozinho com seu pai, vivendo na pobreza e tomando de conta da feira e finanças até que o viúvo consiga fazer um livro de sucesso ou arranje um trabalho de verdade. Ao que tudo indica, Harriet parecia ignorar os problemas reais de seus amigos até Golly sair da sua vida, que foi a faísca que estoura sua bolha pra lhe mostrar que nem tudo na vida é do jeito que queremos, coisas ruins acontecem e Riverdale continua sendo renovada.
Revendo, eu pude notar como esse filme me moldou em alguns aspectos, especialmente uma fala específica da Harriet quanto aos seus sonhos: "Eu quero lembrar de tudo e saber de tudo". Ou algo assim. Talvez seja por isso que eu tenha um interesse mórbido em filmes obscuros e antigos e fique revirando páginas e páginas do Rarelust e vendo coisas como Rock and Rule e The Super Inframan. Eu quero ver/saber sobre esses filmes estranhos, desconhecidos, ou esquecidos/esquecíveis.
Eu não sei, talvez tenha algum valor em filmes assim, talvez encontre uma pérola escondida, ou ao menos um guia do que não fazer em sua produção. Tem vezes que eu me vejo mais como cientista do que como crítico ou resenhador ou blogueiro.
Mas a realidade dói, de qualquer jeito. Dói e A Pequena Espiã não tem medo de te mostrar, mesmo que seja coloridinho e tocando mambo como música de fundo.
Certos filmes eu considero obrigatórios pra qualquer um assistir ao menos uma vez, e esse entrou pra lista. É um filme divertido, por vezes engraçadinho, mas com uma narrativa slice-of-life e temas e problemas reais que crianças enfrentam, e crianças comuns, sem nenhuma habilidade especial, que se machucam, que erram. O mais próximo que eu consigo descrever é algo como Peanuts, sem a parte que é divertido tirar sarro do protagonista e que no final nem sempre as coisas acabam tão bem. A Pequena Espiã ainda tem um final feliz, mas o processo é doloroso. Como quase tudo na vida.
A propósito, quanto à polêmica do livro ter sido banido por supostamente encorajar crianças a mentir e bisbilhotar... Eu não li o livro, mas a mensagem de mentir é um pouco diluída. Golly coloca de uma maneira... Estranha. A idéia não é exatamente uma mentirinha que ajuda, mas... pode ser vista assim?
No final das contas Golly quer ensinar Harriet a ter empatia, a incentivar, consolar seus amigos, mesmo que pra isso tenha que mentir de leve (como "Janie pode ganhar o Nobel no futuro" ou "mesmo que seu pai more longe não quer dizer que ele não te ame"; são exemplos do próprio filme). Mas... Depende do seu conhecimento sobre a causa...?
Eu não sei, a escolha de palavras da Golly não é a melhor, mas é uma coisa interessante a ser debatida outro dia.
Enfim, A Pequena Espiã é um filme MUITO melhor do que tem direito, tire um tempo e vá assistir.
Mas hey, um filme que teve um sucesso moderado merece uma continuação, certo? Digo, o livro mesmo teve continuações e um spin-off que aparentemente... não são lá grande coisa.
...
E aí o Disney Channel se meteu no meio e ignorou tudo.
Ao menos tiveram a decência de não colocar "Harriet the Spy 2". E a dublagem não traduziu como "A Pequena Espiã 2". Mas os elogios param por aí.
A história se passa num... universo alternativo? Sei lá ele ignora o livro e o primeiro filme, então eu presumo que sim. De fato, ele ignora DEMAIS o livro mas eu me adianto. Enfim, 2010 e Harriet quer ser a nova blogueira da sala, escrevendo um blog só pra sua própria sala ler através de uma senha. O que me parece uma idéia incrivelmente imbecil mas esse é o menor dos problemas.
Harriet começa contando sobre o pessoal que ela AINDA espiona mesmo tendo uns 16-17 anos. Porque é claro que uma guria bisbilhoteira consegue se passar desapercebida mesmo tendo o dobro do peso e tamanho de uma moleca de 11 anos. "kapón isso é matematicamente errado " NÃO ME INTERROMPA
Enfim, Harriet e Marion entram numa disputa pra decidir quem seria responsável pelo blog da sala, mas todo mundo prefere o blog da Marion e Harriet decide se aproveitar quando o destino lhe chama. Seu pai é um produtor de filmes (o que faz sentido se considerar o primeiro filme onde ele era um comediante, em Hollywood cê cai pra cima etc) e ganhou a oportunidade de uma vida ao começar a produzir a sequência de Spy Teen, a sensação adolescente do momento. Harriet acha um saco e a babação de ovo pro ator também, mas decide se infiltrar nas gravações e mostrar como ele é um babaca na vida real.
O que é engraçado é que Spy Teen parece muito Disney Channel se zoando, mas era uma trend que logo o estúdio principal iria adotar.
O que é engraçado é que Spy Teen parece muito Disney Channel se zoando, mas era uma trend que logo o estúdio principal iria adotar.
Ok, primeiro as coisas que eu gostei. Tem uma piada meio idiota mas que me pegou de surpresa na hora que o ator lá foi gravar uma cena pra cantar.
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Pronto, agora vamos pro resto. UAU, como esse filme é RUIM. Mas é um ruim MEDÍOCRE. Mesmo se ele ignorasse totalmente a IP de Harriet the Spy ainda seria um filme soberbamente maçante e desinteressante.
Ele nem sequer adapta o livro direito, mas tenta manter certos temas. O que não é ruim, no papel eu ainda consigo ver isso funcionando. Mas tendo só 1h30 de filme... É... Não dá pra desenvolver os personagens como deveria, logo não temos nenhum apego por absolutamente ninguém. Na real, os personagens secundários como Janie e Sport ou os "clones" da Marion são desprezáveis e literalmente ferramentas narrativas, tendo tanta personalidade quanto figurantes de uma fábula de Esopo. Mas Harriet, a protagonista, é totalmente diferente do que esperamos do básico.
Ela é mimada, birrenta, e a mania de bisbilhotar talvez funcione melhor com uma criança, mas uma guria da idade dela já soa doentio e ela deveria tar mais preocupada em escrever outras coisas, melhorar sua arte, sei lá. Eu não ligo se o filme vai ignorar as outras encarnações da história, ao menos nos dê um pouco de credibilidade nesses personagens!
E sim, ainda temos Golly como babá dela, fato que é prontamente zoado pelo próprio filme e explicado de uma forma tão retardada que eu me recuso a acreditar que os atores receberam o script final. De fato, há diversas cenas que parecem ter saído diretamente do .doc do primeiro ser vivente que digitou as palavras no teclado. Por exemplo, tem uma cena que Harriet tá jantando com seu pai e sua mãe (um negócio que mais parece uma sobremesa, mas enfim), o pai come um teco do negócio e joga no lixo pra servir de ilustração pro argumento dele ou algo assim, Harriet sai correndo depois e a mãe dela "menina tu nem tocou na comida".
Eu ACHO que falta alguma coisa nessa sequência de eventos. Tem um monte de cena assim. O filme todo parece ter sido escrito e produzido nas coxas, o que é irônico que ele trate majoritariamente sobre produção de filmes pra adolescentes com o mínimo de esforço e máximo de venda de imagem. O filme tenta chamar atenção de fãs do livro, fãs do filme da Nickelodeon, e fãs de Feiticeiros de Waverly Place, tudo ao mesmo tempo, pra tentar dar uma oportunidade de protagonismo pra guria sidekick.
O que é no mínimo irônico.
Todos os personagens que deveríamos nos importar são desgostáveis. No filme da Nickelodeon os personagens tem defeitos, mas são defeitos que conseguimos nos relacionar, e de uma forma ou de outra os personagens conseguem superar ou aprender com eles. E de novo, é um processo doloroso e lento e o filme toma tempo pra que isso aconteça. Aqui é aquela fórmula Disney Channel que conhecemos, onde nada pode ser tão difícil ou complicado ou dramático e os personagens são basicamente uma caricatura de jovens com um senso de auto-importância elevados cuja bolha é estourada na primeira dificuldade que aparece.
Nada aqui parece ter sido merecido, tudo é muito "take from granted", como se os personagens soubessem que tudo fosse se ajeitar no final e fazem pouco ou nada pra melhorarem a si mesmos. Golly, Janie e Sport ficam brigados com Harriet mas em meio segundo decidem perdoar ela e já ficam no modo "ENTÃO MIGA ME CONTA OS BABADOS".
E logo em seguida Sport faz o teste de basquete e passa. OH JOY!
De fato, os personagens são tão esquecíveis que só depois de eu dar esse artigo por concluído eu lembrei que agora tem um chef na família Welsch que também é o personal trainer da mãe. A função dele é fazer sanduíches de tomate diferentes pra Harriet pra nos lembrarmos que ela tem uma fixação por costumes e rotinas, pro filme parecer que se importa com o material de origem. Isso e a frase "pior do que ser Marion Harwthorne, é querer ser Marion Hawthorne" e alguma referência a Mata Hari. De novo, quase um virtue signaling do filme.
Blog Wars é absolutamente TUDO que o filme da Nickelodeon não é. Incrivelmente monótono, previsível, indolor, mas dolorosamente esquecível. Não dá nem pra ficar com raiva de um filme desses, mas ainda assim se ele fosse um ser humano ele teria uma carinha muito socável.
Cê sabe quando olha pra alguém e diz "eu não sei porque, mas meu instinto diz que se eu socar esse maluco eu vou sentir mais prazer do que deveria"? É esse filme. Se eu visse esse filme na rua, nada me daria mais prazer do que deitar ele no tabefe. Bom, talvez logo abaixo de "jogar provas e material do ensino médio no lixo".
Enfim, assistam A Pequena Espiã, mas só o primeiro. Sério, não vale a pena ver Blog Wars, a menos que tu seja muito fã da guria que fez a não-Toni em Riverdale ou seja obrigado a ver pra escrever pra um blog que ninguém se importa.
Uma última nota, os prédios azuis usado na promo desse filme parecem ter sido reciclados pra abertura de Jessie. Eu não posso provar nada, mas alguma coisa me diz que os caras simplesmente abriram o mesmo arquivo "blue_building_ny_final_final.mb" no Maya e só acrescentaram umas paradas e mexeram um pouco na animação da câmera.
Em 2004 a Mainframe anunciou que ia fazer uma série baseada nos livros.
...e isso é tudo que temos. Um filme excelente e um filme esquecível. Graças a Deus não fizeram nada com a personagem pós-2010, imagina a politicagem que iam enfiar na história. Deixa lá nos anos 90 mesmo.
Em tempo: a atriz da Beth Ellen e do Menino de Meias Roxas atuaram num curta da mesma época de Pequena Espiã chamado Love Child, onde eles discutem suas sexualidades, o Menino inclusive abaixa as calças pra Beth Ellen porque ela se gabava de ter visto muitos pêniseses enquanto fumava um cigarro.
Ambos os filmes tratam sobre amadurecimento de crianças, mas de formas totalmente diferentes.
Eu não sei o que fazer com essa informação.
Em tempo: a atriz da Beth Ellen e do Menino de Meias Roxas atuaram num curta da mesma época de Pequena Espiã chamado Love Child, onde eles discutem suas sexualidades, o Menino inclusive abaixa as calças pra Beth Ellen porque ela se gabava de ter visto muitos pêniseses enquanto fumava um cigarro.
Ambos os filmes tratam sobre amadurecimento de crianças, mas de formas totalmente diferentes.
Eu não sei o que fazer com essa informação.
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12 comments
hmmm, fiquei pensando um tempo em qual dos três filmes me influenciaram mais na infância. putz, sou de 97 e refém dos filmes da sessão da tarde nos anos 10, acho que "A Chave Magica" não tinha bons conselhos pra vida real (só sei que fiquei guardando uma chave velha, no meu armário, e por um bom tempo, por causa dele.) turma da pesada, não! Príncipe do central Park!!? (quase ganhei um teclado por causa dele, e ainda bem que não ganhei, porque eu ia decepcionar muitas pessoas kkkk) ahhhhh...já sei: "Conta Comigo", esse é bom viu, me fez ler o livro e quando pequeno me fez contar aquela cena nojenta do Bola de sebo, no almoço o qual minha irma brigou comigo, por causa disso.....Mas Harryet a espia é de longe um dos melhores!!! Muito maduro, cheio de ensinamentos edificantes e emocionantes que me tocam a alma...é impressionante a mudança no clima que o filme gera com o o percalço ocorrido (esqueci o nome técnico disso)...serio, a nickelodeon ainda ao menos tentava fazer algo diferente,naquela época. da pra sentir todas as angustias da protagonista, e isso é um dos fatores marcantes do filme. é bem inspirador, e o conselho de "mentiras boas" é bem valido, pois mentir pra fazer um doente se sentir melhor, uma pessoa feia se sentir mais bela (exemplos do argumento do filme) é aceitável....ai ai...thcau...continue com o bom trabalho...eeee GOOD BURGER!!!? sera? nao tinha nenhum aprendizado nele...kkkk flw
ResponderExcluirA Chave Mágica eu ainda quero escrever sobre pelo simples motivo de ter sido dirigida por Frank Oz hauehaue Eu acho que vi uma vez quando moleque e só, uma ou outra cena que eu lembro bem. Não sei se é porque minha mãe não deixou eu ver na época, não lembro bem.
ExcluirEu NUNCA ouvi falar nesse Príncipe do Central Park, mas parece interessante, botar na lista do Letterboxd. Conta Comigo também nunca vi, só sei que é o mesmo diretor de A Princesa Prometida.
A Nickelodeon no começo tentava prezar mais pela qualidade do que pela capacidade de vender produtos. Ao menos nessa fase inicial depois que tinha definido uma identidade, não sei antes disso exceto que era um negócio bem experimental (consequentemente, tentativa-e-erro).
Eu entendi o propósito das "mentiras boas", mas talvez usar o termo "mentira" em si é que seja o maior problema mesmo. Mas também não sei por qual eu substituiria... Se for entrar no propósito educacional da Golly, a gente entraria mais em "esperança" e "conforto", e passar isso pra uma criança (ainda mais com o emocional fragilizado como Harriet) é... complicado.
Não desista do teclado, é mais uma questão de afinidade e prática. Eu só não toco por falta de prática e tempo mesmo.
Good Burger nos ensinou que até Abe Vigoda precisa aceitar trabalho assim pra pagar as contas.
kkk verdade!!! Good burger também foi bom pra nos dar a experiencia de ver Kenan e Kel juntos, mas ao mesmo tempo fora da sua serie homonima. O Príncipe do Central Park, você vai gostar; passa muito uma vibe de filme da sessão da tarde. Eu tinha pedido o teclado foi porque o protagonista tocava teclado, e so por isso eu tinha peiddo kkk mas provavelmente eu ia desenvocar dele na segunda vez que eu tivese apertado uma tecla do tal instrumento, por isso ia decepcionar muita gente kkkk
ResponderExcluirestranho como a gente é influenciado por esses filmes (na minha parte de guardar chaves velhas e de pedir teclados etc) é algo interessante, como esses filmes nos inspira. a Nickelodeon esta caindo muito também na bobeira de fazer desenhos modinha, sei la, talvez seja o meu lado de velho chato falando alto, mas creio que antigamente eles tentavam trazer algo diferenciado, maduro tipo: Hey Arnold, Thornyberrys, Rocket Power...não consigo ver eles criando um desenho nessa pegada assim, hoje em dia,pois o lance é trazer algo novo, mas não inusitado (mais do mesmo entre desenhos pra dda ou desenhos blaze, nao sei qual me assusta mais kkk). ai se quiser, um artigo seu se aprofundando mais sobre isso, eu ia gostar muito de ler. Mas vlw pelo blog, gosto muito. super valeu eeee tinha alguma liçao de moral naquele filme do acampamento peso pesado? rsrs fui
Good Burger já era uma esquete do All That antes de ser filme, o Kenan e Kel eram atores recorrentes lá, vale a pena dar uma olhada... Eu acho, eu nunca vi muito heuaheuaea
ExcluirSim, eu só comecei a tocar teclado porcausa da Mugi de K-On, inclusive.
O negócio é que eles (não só a Nick, mas os outros estúdios também) descobriram como ter muito retorno sem muito esforço. Eles acostumam o público a esse material raso mas dinâmico, mas isso não é de hoje. Rocket Power mesmo era MUITO clichê anos 90, e raso igual. Agora, Ginger e Hey Arnold eram BRILHANTES, hoje só quem tá fazendo algo assim é a Disney com o reboot de DuckTales e Muppet Babies.
...eu nunca vi esse filme huheauheuaheau se eu vi eu esqueci
Honestamente? Não vou dizer que Marion não mereceu o que Harriet fez com ela. Só dá pena da desgraçada não ter sido vista chorando.
ResponderExcluirMds!!! Amei essa resenha super detalhada, sério. A 1° vez que assisti esse filme foi quando tava com uns 13 anos ( 2016 )
ResponderExcluirComeçou quando eu tava no tédio e resolvi assistir algum filme pra distrair. ( não lembro se vi na tv ou online )
Assisti porque adorei a capa e o cabelo da Harriet ( outro motivo é que ela escreve, igual eu )
Olhando pra essa resenha percebi que a escrita podia ser o meio de comforto, um modo de não pensar nos problemas para Harriet
Um tempo atrás vi em um site que a escrita ajuda a pessoa á amadurecer e conhecer a pessoa que ela está se tornando. Marion ( não sei se é assim que escreve ) espalha tudo o que Harriet escreveu, levando a mesma sofrer bullying e ter pouco animo
Ok, como eu disse no começo, eu vi esse filme pra me distrair. Motivos: os meus "colegas" de escola pegaram meu caderno e ficaram lendo o que escrevi e foram viários dias sofrendo bullying só pelo fato de gostar de escrever. Pensei em sair da escola e parar de escrever, porém a mensagem da babá fez minha mente mudar e enfrentar o problema.
Harriet, assim como eu, quer ser ser escritora ( eu, um escritor) e escreve tudo que ela sabe ou ver. Como se fosse o nosso refúgio. Diferente da Harriet, eu não escrevo sobre os outros (só as vezes)
Engraçado é que o filme é de 1995
(baseado em um livro dos anos 60) e eu tava sofrendo as mesmas coisas que a Harriet, em 2013
18 anos depois do filme... É estranho pensar que mesmo depois de décadas algumas coisas não mudam.
Quando aassisti esse filme, me identifiquei muito com a Harriet em todos os aspectos possíveis. É bizarro que tem filmes que nós assistirmos no momento exato que precisamos
( ps: hoje pesquisei qual o tipo de personalidade da Harriet e descobri que ela tem o mesmo tipo de personalidade que eu, INFP ������. O que faz eu amar mais esse filme
A única coisa que eu quero criticar é que esse filme é aquele tipo de filme esquecido. Só passa 1 vez na TV ou em anos depois. Devia passar como nos filmes atuais. Sem nenhum problema para procurar e assisti
É isso. Amei sua resenha ❤❤❤❤
Ah, desculpa os erros de escrita. O teclado muda a palavra sem eu perceber
ResponderExcluirObs²: meu nome é Ewerton e tenho 18 anos ( coloquei porque tá aparecendo como desconhecido)
ResponderExcluirVim do futuro para dizer que Riverdale será cancelada após a sétima temporada.
ResponderExcluirGLÓRIA GLÓRIA ALELUIA
ExcluirVim do futuro para dizer que a Apple TV produz e exibe a série animada "A Pequena a Espiã" desde 2021 e que está agora na segunda temporada.
ResponderExcluir...eu vou ter que resenhar isso também né? Só pra não deixar incompleto e tal...
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