Eu confesso que nunca fui muito chegado nesses filmes natalinos de comédia
romântica. Eu sei que existe todo um nicho absurdamente específico pra isso, e
que eu até já resenhei alguns aqui (de cabeça eu lembro de
Holiday in Handcuffs), mas é simplesmente algo que nunca me atraiu o suficiente.
Eu sei lá, me dê um episódio especial de uma série aleatória, ou um especial
de 40 minutos de Mais Uma Adaptação de Christmas Carol qualquer dia. Raio, me
dê Hulk Hogan vestido de Papai Noel com amnésia, eu vou querer ver essa
desgraça.
Mas rom-com de Natal parece algo muito safe, muito difícil de sair algo
absurdamente bonkers, completamente trá-lá-lá das idéias.
Mas Snowglobe chega bem perto.
Eu tava com esse filme faz um tempo na minha watchlist do Disney+ e eu resolvi
dar uma olhada porque… porque não? Na real é um filme da ABC Family, então não
é algo que passaria no Disney Channel, ou mesmo no Disney XD (que descansem em
pança), mas que deve ter passado na Globo em algum momento.
Então… É. Natal, vamo ver um filme mais relax e menos enfurecedor como o de
costume.
Snowglobe conta a história de Angela, uma simples guria de nobre coração que
vai todos os dias à padaria fazer pão. HAH, EU RIMEI! Enfim, ela trabalha na
padaria da família, família essa que vive invadindo seu apartamento e se
metendo na vida dela, alugando o estúdio do condomínio pra inquilinos que
possam casar com Angela, e fazendo planos da irmã grávida ir morar com o
marido desempregado e inútil junto dela.
Ela também tem que embalar o presunto em papel de presente, mas até aí tudo
normal.
Farta dessa balbúrdia infernizante, ela sonha com uma vida mais simples, com
um Natal gelado e tradicional como se tem nos filmes. Mas estamos em um filme,
e ela consegue esse Natal perfeito ao sonhar que está dentro de um globo de
neve que ganhou misteriosamente de algum anônimo.
Se tem algo que todos nós devemos confiar é em presentes misteriosos de
anônimos em época de Natal, eu ganhei um spray de própolis numa caixa sem
remetente que poderia me levar pro hospital, mas ele me deixa com a voz de
Nelson Ned.
No globo de neve, Angela conhece uma pá de gente que vive em função de
comemorar o Natal, com seus presentes mágicos, fogões mágicos, e um clima
social tão perfeitamente e alegremente engessado que poderia ser parte de um
filme de terror.
Angela começa a se engraçar pro lado de Douglas, um cara que poderia ser o
Kris de Frozen ou algum desenho dublado pelo Patrick Warburton. Isso gera
ciúmes na linda loirinha local, a qual chamarei de Jingle Bella, e gera um
desequilíbrio entre a vida real e a vida no globo.
Mas o negócio complica quando Douglas invade o mundo real com saudades de
Angela (que nesse dia em particular começa a gostar do vizinho novo que sua
mãe empurra pra ela), causando os típicos shenanigans do peixe fora d'água que
foram muito melhor usados em
Bernie and the Genie.
Mais shenanigans natalinos vão acontecer e se fosse um filme menos family
friendly provavelmente teríamos mais momentos awkward dignos de Holiday in
Handcuffs ou Sobrevivendo ao Natal.
Ou só mais cenas da Angela de camisola, sei lá.
Esse filme é… ok. É ligeiramente cômico, o drama e desejos da protagonista são
relacionáveis, mas o caráter e visão de mundo dela mudam depois de uma
experiência fantástica, que é o mínimo que se espera de uma fantasia natalina.
Mas tem algumas coisas estranhas, e não me refiro ao peru recheado com
lasanha.
"Peru recheado com lasanha?" EU GAGUEJEI?
Por exemplo, o mundo do globo de neve é pra ser supostamente um mundo
perfeito, onde ninguém briga e é o Natal perfeito o tempo todo, o que
curiosamente não inclui arroz com passas, que sustenta minha teoria que este é
um crime culinário e deveria ser devidamente punido, mas divago.
Anyway, Natal perfeito. Então porque a Jingle Bella... Claire? Acho que é esse
o nome dela, a atriz também interpreta uma Claire em outro filme… chamado O
Dragão de Gelo, wathever. Porque a Jingle Bella ficou com ciúmes? É um
sentimento que não devia existir nesse mundo, mas ela o sente mesmo assim.
Talvez seja porque Douglas e Bella deviam ser os eternos chove-não-molha,
igual grandes casais clássicos como Rolo e Tina, Pipa e Zecão, Horácio e
Clarabela, Cebolinha e Mônica, e o Grilo Falante com a Sininho.
Não me olhem desse jeito, todos nós pensamos a mesma coisa, mas só eu disse em
voz alta.
E sim, eu sei, é porque a intrusa começa a trazer coisa ruim do mundo dela pro
globo, mas eu só sei disso porcausa da sinopse que o Disney+ me deu, caso
contrário eu não deduziria isso. Nada no filme te leva a essa conclusão, pelo
menos não diretamente.
Eu acho que essa era a intenção original do filme, mostrar como um mundo
perfeito e um mundo imperfeito podem se destruir mutuamente ao se misturarem…?
É isso?
Esse filme é tipo o Kamen Rider Decade dos especiais natalinos?
Tipo A Origem
dos Guardiões?
Ou esse era o filme das corujas que duas pessoas assistiram?
Se esse filme não tivesse sob as amarras de ser produzido pela ABC Family,
talvez pudesse explorar um pouco mais os conceitos. Não me entendam mal, não é
um filme ruim. O roteiro é engajante o suficiente, os personagens são
interessantes e bem atuados, eu gosto do vizinho da Angela que é um cara legal
mas é meio awkward, mas não awkward o suficiente que seja um problema, é
legal.
Não é um filme fantástico, mas também não é ruim.
Mas por exemplo, tem algumas coisas que poderiam ser melhor exploradas, mas
que são interessantes pra um filme natalino familiar. Por exemplo, Douglas é
basicamente uma criança grande, e nenhuma camisola decotada o faria mudar sua
personalidade, por mais que Angela queira fazer coisas pouco cristãs com um
maluco quase desconhecido e que tem sérias limitações mentais.
Limitações que não ocorrem nos outros habitantes do Globo, diga-se de
passagem. Sim, as regras de mundo parecem ter sido escritas por alguém tentando ser o próximo John Lasseter.
Mas tem uma cena que ela implora pro vizinho novo que a família empurra pra
ela pra cuidar do Douglas, e ele, como um bom vizinho que quer fazer coisas
pouco cristãs com a protagonista, aceita.
Esqueci o nome dele, só lembro que ele parece o Agostinho Carrara se tivesse o
nariz esticado igual o Mario no Nintendo 64.
Ele leva Douglas pro zoológico, onde descobre que Douglas tem praticamente
zero conhecimento do mundo real, algo que também vemos quando Angela o leva
pra conhecer a Times Square.
É um filme bem água-com-açúcar, mas tem alguns momentos bons e awkward o suficiente pra que seja revisitados de vez em quando. Não é um filme exatamente engraçado, mas eu dei mais risadas do que eu esperava, uma coisa ou outra que me pegava de surpresa ou por ser tão bobo ou tão inesperado que me dava um sorriso genuíno.
É um bom filminho pra ver no feriado, mas não essencial. Eu gosto de ler
algumas reviews do Letterboxd, e uma delas é “minha irmã me obrigou a assistir
esse filme nos últimos sete anos e eu ainda não tenho um pensamento coerente
sobre ele”.
Eu não teria dito melhor.
Mas não pára por aí, porque temos OUTRO filme envolvendo uma protagonista que
vai parar num Natal perfeito num globo de neve mágico que envolve Christina
Millian!
Se eu tivesse uma moeda pra cada vez que isso acontece, eu teria duas moedas.
...
...
...
A Snowglobe Christmas
O QUE NÃO É MUITO, MAS É ESTRANHO QUE TENHA ACONTECIDO DUAS VEZES!
Pronto, eu já tava ficando com agonia.
Do mesmo estúdio que nos trouxe clássicos como Abraham Lincoln vs. Zombies,
Nazis at the Center of the Earth, Pirates of the Treasure Island,
Transmorphers, Sharknado, e
Trolland, temos um filme de natal
que segue o mesmo padrão mockbuster.
Cê sabe o que é um mockbuster, aqueles filmes que tentam te enganar (ou pelo
menos avós e tias desavisadas) achando que tão trazendo o artigo genuíno. Todo
o catálogo da VideoBrinquedo, por exemplo, e filmes como Kiara the Brave e
aquela
Mulan holandesa.
O Asylum é um estúdio especializado em mockbusters do mais baixo padrão de
qualidade, e eles parecem ter algum orgulho nisso. Não é nada muito diferente
dos filmes B de antigamente, só que agora os efeitos visuais são mais risíveis
e menos charmosos, como veremos aqui.
É na real fascinante ver que esse filme não só tenta te fazer pensar que é o
Snowglobe da ABC (com um plot semelhante), mas também traz a mesma atriz que
fez Angela no clássico (carece de citações) da emissora número 1 da América
(em ordem alfabética). Eles até botam ela no meio do poster do filme, mas ela
aparece em… 20% do filme? Talvez?
Essa balbúrdia da Asylum conta sobre Meg, uma produtora de TV obcecada com a
perfeição, e quer que toda a equipe faça hora extra pra refazer uma cena onde
os personagens fazem anjos de neve, e justamente na… GASP! VÉSPERA DE NATAL??
MAS AS PESSOAS TEM FAMÍLIA!
Exceto ela, porque o namorado/noivo/wathever dela tá planejando sair com os
bróders pra Vegas na noite de Natal. É como diz o AVGN, “Nerds before Birds”.
E porque o plot demanda, ela anda agarrada com um globo de neve do tamanho de
um Tickle Me Elmo, por motivos que ninguém sabe e nunca são explicados. Daí
ela encontra Sal, interpretada por Angela, que lhe dá instruções de como jogar
o globo de neve no chão até ele quicar e bater na cabeça de Meg causando-lhe
uma concussão.
Esse diálogo é literalmente isso que eu descrevi, sem tirar nem pôr, e vem do
absoluto nada.
Aí Meg começa a sonhar que tem uma vida perfeita com um marido perfeito e duas
crianças perfeitas numa cidadezinha perfeita dentro do globo de neve.
Supostamente. No final, Meg vai pra essa mesma cidadezinha viver a vida
perfeita.
Ou seja, pegaram
Homem de Família
e misturaram com Snowglobe, o que… não seria tão ruim se não fosse o clickbait
típico do Asylum, mas… é.
Eu queria muito odiar esse filme. De verdade. O aspecto técnico beira o
ofensivo, não é feio ou mal-feito, mas ao mesmo tempo nenhum set do filme
parece um lugar de verdade, parecem props feitos no dia anterior de última
hora. O abuso de CG em certos momentos é notável, que vai de chroma-keys
feitos no CapCut até a um literal .png de uma árvore de natal no meio da
cidade.
E cê tem tempo pra notar que é um .png, porque eles passam mais tempo do que o
necessário mostrando a tomada com a árvore, e não satisfeitos com isso,
reciclam a exata mesma tomada outras vezes, assim como uma tomada onde a
câmera sobe com umas travadas da grua.
Não só isso, mas o diálogo é bem engessado, com frases mal construídas e
explicações mal boladas, a um ponto que se não fosse o carisma dos atores
teríamos pouca coisa que se salvasse aqui. O Ted é aquele carinha lá do
Scrubs; a Meg tava em Vanilla Sky (que eu nunca vi na vida); o tiozão gente
boa que faz o Papai Noel tava em uma pá de coisa bacana, tipo
Meu Papai É Noel, um episódio de
Boy Meets World, mas que também tava em O Filho do Ace Ventura.
Porque todo mundo tem conta pra pagar, e um trabalho é um trabalho.
E um pneu é um pneu.
Eu poderia citar como nada na história faz sentido ou é simplesmente mal
explicado; como o plot da cidade dentro de um globo de neve é mal aproveitado
e poderia ter sido limado do filme sem nenhum prejuízo; eu poderia passar
horas (ou alguns minutos) tirando sarro da direção tronxa e da ironia que é
ter uma protagonista que trabalha na TV e é perfeccionista, inclusive com uma
cena onde Sal faz um anjo de neve e é LITERALMENTE UM CHROMA KEY.
OS CARAS NEM PRA TER O TRABALHO DE FAZER UM ANJO DE NEVE REAL!!!!
Mas os atores são tão carismáticos e fazem tudo o que podem pra tornar a
experiência de assistir essa bomba menos dolorosa. Eles conseguem transformar
um diálogo meloso e clichê em algo suportável e até carismático, vez ou outra.
Até o desentendimento dura pouco tempo e é resolvido de uma maneira mais sutil
e crível, pelo menos pro padrão desse tipo de filme.
Tem alguns momentos bons, como a Meg se abrindo com a filha que passa pela
mesma coisa que ela passou quando pirralha. Colocando numa frase assim soa
clichê e previsível (porque é), mas as atrizes fazem um esforço danado pra que
isso soe verossímil e adorável, que é impossível não admirar o esforço que
elas colocam em um filme que absolutamente ninguém vai assistir.
O mesmo vale pro casal principal, que variam do "casal onde um deles tem
amnésia e o outro tem que fazer todo o processo de fazer ela se apaixonar de
novo por ele" pro "essa DR pode significar o fim do casamento" de uma maneira
crível, unicamente pela forma que eles encenam.
Eu não posso dizer em plenas faculdades mentais que é um filme bom, mas eu
também não consigo odiar.
Eu recomendo? Raios, não, mas ambos servem pra abrir uma temporada de filmes
natalinos, seja pra esquecer do mundo lá fora que a cada dia que passa se
destrói numa autofagia incontrolável, ou seja pra tirar sarro vendo com os
amigos.
Se você ainda tiver amigos.
***
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