Bernard and the Genie


Sabe o que combina com Natal?

Mr. Bean, humor negro, gênios e matança!

...

Claro, esses 4 termos normalmente não tem a ver um com o outro, mas alguém algum dia achou que poderia dar certo.
...

E assim tivemos Bernard and the Genie.



De todos os conceitos mais absurdos e nada a ver, esse filme provavelmente leva o prêmio desse ano. Eu ia resenhar ele na época de Aladdin porque gênios e etc (mas acabei resenhando a peça Twisted), mas aí eu cheguei na metade do filme e FILME DE NATAL SURPRESAA!

A história começa no Oriente Médio, onde um atirador de facas é condenado por um feiticeiro a ser um gênio aprisionado em uma lâmpada por ter matado a filha dele em sua primeira apresentação.

...AH BOY HERE WE GO.

Primeiro: se o cara era um feiticeiro, ele poderia ter revivido a filha dele de alguma forma. Segundo: a punição de gênio foi mal formulada. Ele poderia ter criado realmente alguma cláusula de servidão ou algo assim. O que... acabaria sendo um subplot irrelevante pro filme, então...

...Hum.

...


Enfim, cortamos pro presente, onde Alan Cumming é um vendedor de pinturas que acabou de vender um quadro por 50 milhões de libras. Tudo parece estar indo muito bem pra ele, até que seu chefe, Rowan Atkinson, o demite porque Alan prometeu às velhinhas que eram as donas originais do quadro uma parte dos lucros, como agradecimento.

Não fosse o bastante, Mr. Bean ainda faz questão de espalhar entre seus colegas que Alan roubou a... agência de venda de arte eu acho, e ainda abusou sexualmente da secretária.

...FELIZ NATAL!


Amargurado e derrotado, ele liga pra sua noiva em busca de um ombro pra chorar, mas ela não atende. Ele então liga pro seu melhor amigo, e então descobre que nesse exato momento o melhor amigo do cara tá junto da noiva dele, e no mesmo dia ela ainda tira todas as coisas dela da casa de Alan, o deixando com uma lamparina, comida de peixe, um aquário vazio e uma lâmpada velha.

NÃO BASTASSE ISSO, ele esfrega a lâmpada na expectativa de vender ela de alguma forma.

E a lâmpada explode na cara dele, o levando ao hospital e tendo que remover um testículo.

...

O tipo de dia que eu pessoalmente chamo de "terça-feira".


Mas ao voltar pra casa ELE DESCOBRE QUE SUA CASA FOI INVADIDA!

...por um gênio. Oh bem, alguma coisa vai dar certo agora, né?

Bom.. sim e não.
É complicado.
Mas podemos dizer que acontecem... Altas Aventuras.
HAH!

A dinâmica entre Alan e o Gênio é muito boa, e eles tem uma química cômica sensacional. Alan é o cara extremamente gente boa e gentil demais pro próprio bem dele. O Gênio é um clichê do choque de cultura, mas nunca é constrangedor de ver. De fato, é até wholesome.

O filme tenta passar a idéia de valorizarmos o que já temos, mesmo coisas simples como sorvete ou mostarda, ou as duas coisas juntas, e o Gênio consegue passar essa idéia de "COMO ASSIM NÃO É NOVIDADE PRA NINGUÉM? ISSO É SENSACIONAL!" Até porque ele veio de um lugar que parece ser o equivalente árabe do Rio de Janeiro, então tudo pra ele é lindo e maravilhoso.


Como deu pra notar, é um filme de humor negro, então muitas das piadas envolvem algum tipo de tragédia de alguma forma ou algo desconfortável, no mínimo. Mas sendo um filme de Natal, até isso acaba sendo bonitinho e agradável de alguma forma. Alan é o cara mais safe de ter a imagem vendida como family-friendly, e ainda assim ele acaba matando um policial durante o filme sem querer. É o tipo de coisa que acontece com uma certa frequência por aqui.

O Gênio é totalmente o oposto. Energético, levemente desbocado, mas com um bom coração e... É, esse filme legitimamente tem um coração. Os personagens são realistas e tu consegue simpatizar com o drama deles. É interessante como eles escrevem o Gênio como um cara normal, com família, amigos, namorada, gatinhos, e que acabou perdendo tudo isso de uma hora pra outra.

Além do drama ser parecido demais com o do Alan, que ajuda a criar essa intimidade entre os dois. De novo, eles tem uma dinâmica muito divertida e engajante, com Alan tentando ser um bom anfitrião e o Gênio se divertindo enquanto toma sei lá quantos milk-shakes de uma vez em uma única tomada.


E é legal ver esse tipo de história misturado no Natal, que... se parar pra pensar, faz sentido. Gênio, desejos, pedidos, presentes, etc. A mecânica de desejos é meio bizarra porque o Gênio mesmo não faz o lance tradicional de tipo usar as mãos pra fazer aparecer mais baklavah ou dançarinas exóticas. É mais um instrumento pra que a magia aconteça.

Alan pede algo começando com "I wish" e então simplesmente acontece, às vezes o Gênio nem se liga no que aconteceu ou como o pedido foi realizado. Ele foge àquela regra da proporcionalidade de personalidade e limite de desejos, aqui Alan tem desejos ilimitados mas o Gênio tem tanta personalidade e coração quanto o de Robin Williams.

E já que falamos no Natal...

...oh boy.

Cês não tão prontos.

Lá vai.

...o Gênio conheceu Jesus.


...

OH YEAH WE'RE GOING THERE!


Ignorando todas as implicações sobre como esse mundo funciona, eles nunca vão tão longe no lado religioso. O Gênio descreve de maneira levemente cômica algumas das coisas que aconteceram, como quando Jesus multiplicou pães e peixes ele sugeriu que abrisse um restaurante; ou como Jesus ficaria irado se visse o consumismo atrelado ao nome dele, referenciando o momento que ele derrubou as mesas dos cambistas no templo.

...eu não sei se isso foi uma crítica aos mercadores da fé ou ao Natal como um todo, mas interprete como quiser.

Eles chegam até a mencionar que ele ressuscitou e que era o Filho de Deus (o que é bem mais do que o curta do Horácio fez; e sim teve um curta de Natal do Horácio, quanto menos pensarmos nisso melhor), mas nunca o lance de perdoar pecados etc.

É meio bizarro porque é como contar uma história pela metade, e também é um pouco awkward depois de tudo que já vimos no filme.


E tem um momento que eles começam a realizar os desejos das crianças com o Gênio de Papai Noel de shopping.

Alguns pedidos são daora, como o moleque que pediu que seu boneco do Leonardo das Tartarugas Heroínas fosse real (e era realmente a última vez que o ator do filme original interpretou o personagem), alguns pedidos estranhos como o moleque que queria ser adolescente, e teve o moleque que pediu pro irmão menor EXPLODIR.

...FELIZ NATAL!

E sim, caso não saiba no Reino Unido as Tartarugas Ninja são conhecidas (ou pelo menos eram) como Teenage Mutant Hero Turtles, porque "ninja" deve ser um termo pesado por lá.
Digo, tu não pode nem andar com uma faca de pão por lá. Não me admiraria se eles substituíssem as armas das Tartarugas por armas coloridas da NERF.

Hey, se a 4Kids pode fazer esse tipo de imbecilidade, porque não a Europa?


Also sim, o filme é cheio de product placement no meio do filme, mas o legal é que não é solto ou forçado como... sei lá, Smurfs. A propaganda inserida de fato acrescenta algo na história do filme e no arco narrativo dos personagens.
E tem um paradoxo RIDICULAMENTE desgraçado no final do filme, mas Rowan Atkinson já foi o Doctor Who, então tá tudo bem.

Eu poderia fazer uma teoria de como o personagem do Alan Cumming depois iria virar o produtor musical inescrupuloso de Josie e as Gatinhas, mas deixa pra lá.

E tem outros personagens engraçados, cada um com suas particularidades. De fato, todos os personagens principais tem algo que os caracteriza: o porteiro vive contando histórias mirabolantes sobre seu passado, o Mr. Bean é maquiavelicamente maldoso e se diverte com isso, e tudo se mistura com as personalidades de Bernard e o Gênio de forma cômica.

É um filme engraçado e bem fora da curva que vale a pena assistir. Agora DÁ Pra assistir porque esse ano lançaram legenda em inglês disso, e qualquer um que saiba o mínimo de inglês pode te garantir que inglês britânico é quase tão difícil quanto o texano.

Especialmente porque esse especial passou uma vez na TV pra nunca mais, e a única fonte que temos é um DVD britânico não-oficial de 2007, e o primeiro DVD oficial do filme... lançado em 2016... na Alemanha.

...pois é.

Mas é ridiculamente fácil de achar na internet, se puder vá atrás porque vale a pena. É engraçado, é ligeiramente desconfortável, e tem um coração estranhamente gentil ao mesmo tempo.

Parando pra pensar, é BEM melhor que Holiday in Handcuffs. O vídeo do Nostalgia Critic me fez notar que sim, conceitualmente é um filme bizarro e bonkers, mas o problema maior dele é que era um filme de humor negro tentando ser um filme feels good da Hallmark.
Não dá mano, ou um ou outro. Bernard and the Genie consegue ser um filme de humor negro e feels good, mas não do nível Hallmark, então funciona.



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Sério, já viu o preço do salmão? Pois é.


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