Storybook - O Livro Mágico
Cês sabiam que o TubiTV agora bloqueia o acesso de quem não tá nos EUA?
Pois é, agora pra poder assistir filmes ruins de baixo orçamento e clássicos que ninguém lembra que existe, cê tem que estar fisicamente na terra de Trump… ou usar uma VPN.
O que faz sentido, recentemente eles tem crescido muito, a ponto de ter um comercial memorável em algum Super Bowl, e até pegar a transmissão do Super Bowl e programação esportiva original, como o WWE Evolution.
Eles também pegaram direitos de uma pancada de coisa mais pesada em termos de licenciamento, como Power Rangers Samurai, que, no Brasil, tá na Netflix.
…tá, “pesado de licenciamento” é um termo forte pra Power Rangers, uma franquia que a Hasbro tá Disneyficando aos poucos.
O termo “disneyficar” também é forte aqui, “Igerizar” faz mais sentido”, mas eu divago.
E o último filme que eu vi lá sem precisar de VPN foi Storybook, que… É um filme que faz jus à fama de um streaming gratuito que te oferece a mesma experiência de visitar uma locadora capenga do teu bairro, ou uma Sessão Aventura na Record nos anos 2000.
Pelo menos é melhor que Aprendiz de Feiticeiro. Não, não aquele lá com o Nicholas Cage, é outro. É um filme extremamente maçante de 2001 com o Jake de Goonies e a Mulher Nota Mil.
Algum dia eu escrevo sobre ele, quando eu fizer uma dobradinha com Agora Você Vê, que tem um tema bem parecido e que também falha miseravelmente em ser interessante.
Storybook, por outro lado, parecia mais promissor. Ainda é uma cópia mequetrefe de História Sem Fim, mas pelo menos cumpre a memória falsa que eu tinha do moleque entrando na história que ele lia.
Eu acho que isso só acontecia na série animada, mas a essa altura nem isso eu posso considerar que aconteceu.
Enfim, Storybook de 1994.
A história começa com um prólogo sobre uma garota que descobre um livro no sótão de sua casa, e após entrar em uma porta luminosa, sumiu pra sempre. Anos mais tarde, uma família se muda pra essa mesma casa, após o pai ter desaparecido após uma missão na marinha. Ou exército, sei lá, o cara era militar e a viúva e o órfão vão morar com o tio na casa assombrada.
Não, sério, nem parece que o velho vive lá, os móveis são todos cobertos por panos e o lugar parece não ter visto uma faxina desde a Grande Guerra Mundal.
Eu nem sei se ele é tio da mulher, do pai, ou do guri, na real.
Seja como for, a mãe faz tudo o que pode pra que seu filho consiga aceitar a situação e seguir em frente, ver o lado bom em tudo que puder. O moleque se recusa a aceitar que seu pai morreu, e acredita piamente que a qualquer momento pode aparecer na porta de casa, trazendo consigo facas enferrujadas, granadas defeituosas, e um playset da casa-base-esgoto das Tartarugas Ninja.
E pra ser justo, essa mulher transborda carinho e mimo pro pimpolho. Ela faz o melhor que pode pra que ele se sinta acolhido e não revoltado, mas também tenta que ele aceite a situação em que se encontram.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas.
Atraído pelo plot, o moleque chega ao sótão, o unico cômodo da casa proibido pelo tio. Mas o que são regras pra um pivete dos anos 90 em um filme de baixo orçamento, né? Quando nosso protagonista encontra o livro, a mesma porta luminosa que raptou a menina se apresenta, e ele obviamente a atravessa, porque motivos.
Ao invés de encontrar Kairi, Donald e Pateta, ele se vê na Nova Zelândia, habitada por monstros, feiticeiros, cangurus falantes, corujas rappers, e o mais assustador de tudo: um lenhador que parece Al “Bunyan e Babe Ruth” Borland! Aaaah! Ooohh! A infâmia!
Eu não lembro bem dos detalhes pré-mundo fantástico. Se me perguntasse, a menina que sumiu era a prima do protagonista, porque nada mais explicaria o tio ter uma imposição anti-sótão tão forte. Eu também não lembro se ele de fato morava lá, eu posso estar lembrando errado e não me importo o suficiente de rever o filme pra checar.
Não é como se esse filme fosse um primor de desempenho, também. A história tem batidas narrativas comuns que poderiam ser interessantes, caso fizessem algo além do mínimo necessário na execução. O reino fantástico tem uma história própria, e pelo menos o guri não é tipo o príncipe da linhagem real destinado a assumir o trono, só mais um herói. Mais ou menos como a pivetinha Mary Margareth de Magic in the Mirror, que acabou sendo a guardiã entre os reinos.
Ainda é clichê, mas pelo menos é um clichê mais aceitável.
MARY MARGARETH!
...
Perdão, eu tinha que dizer em voz alta.
E é uma trama ligeiramente interessante, com a irmã da rainha tramando pra tomar o trono ao matar a rainha e torturar o sobrinho… com cócegas... por algum motivo, não sei porque ela não matou o príncipe logo. Mas o tal livro que tava no sótão tem uma profecia de que o moleque é o escolhido que vai fazer o príncipe voltar ao legítimo trono e ele encontra personagens engraçados no caminho e você já sabe o resto.
É bem claro que o diretor deu instruções pra que cada personagem fosse o mais caricato possível, exceto o guri, que é um ator-mirim que não deixa nenhuma impressão.
Raios, esses personagens tem menos nuance que os habitantes da Vila Sésamo, e são tão sutis que parecem ter sido feitos em uma daquelas peças não-autorizadas baseadas em IPs de alto calibre.
Cê sabe o tipo, a peça é um negócio imbecil tipo “As Férias da Moana” e o elenco é feito do grupo de artes cênicas da UFC cujo diretor acredita estar fazendo alta arte e se apresentam no palco da praça de alimentação de algum shopping, incomodando famílias que só querem viver um único mísero momento de sossego e ter sua refeição em paz, mas tem que dividir o espaço com um monte de adolescente que não tem controle sobre as próprias ações berrando músicas sem pagar royalties e em suas mentes estão arrasando porque “toda arte é válida”.
É, esse tipo de peça.
O lenhador é literalmente um lenhador que a princípio, não quer ajudar o moleque a voltar pra casa, mas pouco a pouco passa a ser uma figura quase paternal pra ele, acompanhando-o e o ouvindo e meio que dando conselhos ou algo similar. Ele foi interpretado por um dos amigos do Fred no primeiro live action dos Flintstones, o que… é alguma coisa.
A feiticeira é hiperbolicamente má, fazendo questão de preencher todos os requisitos de uma clara vilã do mal que odeia o bem, mas que não tem uma tentativa de ser divertida como a rainha pata de Magic in the Mirror.
Ou pelo menos não parece ter, é como se o diretor tivesse instruído “ah sei lá se divirta” e ela encarou a ordem como “pareça estar se divertindo” mas no fundo ela se sentia miserável.
Bom, dois anos depois ela iria ser a advogada rival de Jim Carrey em O Mentiroso, então dá pra dizer que ela fez coisas melhores na vida.
E temos um canguru falante que usa um chapéu, colete, e luvas de boxe, porque… vejam bem, ele é australiano. Até o sotaque ele tem, porque… não sofremos o suficiente.
E é uma fantasia desgraçada de simples, a ponto de ser meio uncanny. As fantasias de Guerreiros da Virtude é algo digno da Jim Henson comparado a isso.
Curiosamente, o ator que sofreu dentro da fantasia é ligeiramente reconhecível. Foi dublê em filmes como Meu Papai é Noel 3, o filme de Even Stevens (no lugar de Shia LaBeuf), e era o professor de Punch the Teacher, apresentado pelo coreano do meme do bilhete para formigas em The Muppets.
Sim eu tomo como um desafio pessoal enfiar o máximo de referências desconexas possíveis em uma frase, torna meus textos mais interativos.
Ah sim, e ele foi um dos capangas da véia que queria raptar o Pete em Pete’s Dragon.
Como o mundo dá voltas.
E além disso, temos uma coruja que fala como se fosse rapper.
É complicado.
Ela tem o jeito de falar, a tonaliade e melodia da voz, tudo parecido com um rapper noventista, mas… não fala em rimas. É como se eles quisessem que a coruja fosse rapper e tivesse um número músical, mas tivessem desistido de última hora e deram um texto corrido pro rapper contratado dublar.
Eu não sei quem fez a coruja e não me importo, de ir atrás a essa altura, eu até esqueci de mencionar que o tio do moleque é o Scotty de Star Trek.
E como se isso não fosse suficiente, a coruja ainda diz que “se eu ajudei Moisés no deserto, posso ajudar vocês a levar até o castelo”, e ainda menciona “pedir comida pra viagem”.
…
PERDÃO?
Cê não joga uma informação dessa do nada sem dar mais explicações! Raios! Parecem as histórias do Vovô Simpson!
E mesmo assim, é um filme maçante de chato. Praticamente nada acontece por muito tempo, e o que acontece entre os momentos importantes é um filler que tá longe de ser divertido. Tem um segmento com um mago cuja única justificativa no filme é usar o Milton Berle, porque esse é o fim de carreira dos grandes atores do passado: acabar em um filme de baixíssimo orçamento que duas pessoas vão assistir.
Eu ainda sinto dor vendo David Carradine em Evil Toons.
Pelo menos ele fez um monte de aparições em seriados aleatórios, como Um Maluco no Pedaço.
Tá, ok, o mago é usado pra testar o caráter do protagonista, mas até o tom da cena é meio esquizofrênico. Milton Berle é um mago fajuto e o lenhador não engole os truques, e acha tudo um pé no saco, fazendo questão de bocejar em um dado momento. Mas a música da cena quer indicar algo que é genuinamente mágico. Se tivessem colocado o tema do Guile a cena soaria mais natural.
O protagonista é o claro protagonista meio MoonBeam, onde o único propósito dele é fazer que o público-alvo se sinta no lugar dele, então ele tem tanto carisma e personalidade quanto um protagonista de Pokémon. O príncipe é praticamente um asset, embora ele tenha algumas tiradas engraçadas com uma delivery de fala meio monótona e desinteressada. E tem uma cobra que serve como conselheiro da rainha, que… é bem menos legal do que parece.
Ah sim, e a rainha muda a cor do cabelo cada vez que aparece.
Não me pergunte, o filme não explica.
Quanto aos efeitos especiais… não vou mentir, fora o canguru que parece uma fantasia feita de última hora, não são exatamente ruins. A cobra é legal, embora não tenha muita mobilidade, e a coruja serve pro seu propósito. Pelo menos a companhia ainda existe hoje e tem nomes melhores em seu currículo, como a série Dexter, Homem de Ferro 3, Velozes e Furiosos, Batman Forever, Star Trek (o que nos liga ao tio Scotty) e o live action do Mario.
Cês acreditam que após todos esses anos eu nunca vi o Mario Bros de 93? Papo sério.
Nem sei exatamente porque, eu até cheguei a baixar o filme mas nunca dei o play. Mesmo caso do Street Fighter com o Gomez Addams e a Mulan.
Storybook é claramente um filme feito pra crianças de até 4 anos que tem tanta familiaridade com clichês narrativos quanto um barbeiro torcedor do Ferroviário. É raso, é previsível, é visualmente bisonho, e as boas morais são tão exageradas em sua apresentação que faz com que He-Man soe sutil, só que sem o self-aware necessário pra que seja engajante.
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Embora cê não possa mais ver no TubiTV (sem VPN, isso é), o filme tá disponível dublado no YouTube por alguma boa alma que o preservou. Mas a menos que você tenha filhos bem pequenos e uma baita resistência a chiados de VHS, seu tempo é mais valioso.
De fato, seus filhos pequenos provavelmente merecem um entretenimento de qualidade, como a Disney clássica. Nesse caso, use Storybook como uma punição, vai ser bem eficaz.
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