O Quebra-Nozes: A História Não Contada


Eu não conheço bem a história do Quebra-Nozes. Tudo que eu lembro é o que eu vi em algumas adaptações soltas, tipo a que teve no especial de Natal do House of Mouse, e alguns filmes resenhados pelo Bobsheaux e o Nostalgia Critic. Teve também aquele filme da Barbie que SEMPRE passava na Sessão da Tarde perto de Dezembro, mas eu juro como eu não lembro de nada daquele filme.
Nada exceto o momento que o Quebra-Nozes e o outro maluco lá fazem aquela dança russa agachada.

Com isso dito, essa versão da história é a última que eu esperava que existisse. Não porque ela é ruim, mas porque... Ok, ela é meio ruim, mas um ruim fascinante e exagerado.

Tem ratos nazistas steampunk.

Eu adoraria estar zoando.



A história começa na Áustria dos anos 20, porque se tem um lugar e período PERFEITO pra uma fantasia natalina, é esse lugar e esse tempo. Acompanhamos Elle Fanning, uma guria com pais bem sucedidos que precisam se ausentar de casa na noite de Natal, e deixam ela e seu irmão menor aos cuidados de seu tio Albert, interpretado pelo Timão.

Esse tio é meio excêntrico, alemão, tem um cabelão engraçado e canta uma música sobre relatividade inclusive mostrando a fórmula do E=mc². Esse tio era ninguém menos que HÁÁÁ! VOCÊ ACHAVA QUE ERA UM MEME DE ALBERT EINSEIN, MAS ERA EU, DIOOOOOOOOOOOOO!

Ele dá alguns presentes pros sobrinhos, como uma casa de bonecas com bonequinhos mecânicos (que incluem um palhaço malabarista, um jamaicano tamborista, um chimpanzé que anda naquelas bicicleta alta, e eu tenho quase certeza que tem alguém que toca saxofone mas eu tou com preguiça de olhar.


E obviamente, o tio Albert dá pra guria o quebra-nozes mais feio do século. E obviamente a guria se apaixona perdidamente por ele. Ou seja, ainda há esperança pra você que parece um Funko POP mal-acabado. O quebra-nozes ganha vida e leva Elle Fanning numa aventura pra libertar seu reino do Rei Rato, que odeia a luz do sol e mantÉm um queimadouro de brinquedos.

...exatamente isso que cê pensou.

Então... É. É um DAQUELES filmes. Cês sabem, quando os produtores tentam pegar uma história conhecida e dar um twist inesperado, ou dar mais realismo ou traçar algum paralelo com o mundo real.
Esse filme... tenta todos ao mesmo tempo.
E é um desastre. Mas um desastre fascinante.


A narrativa tenta usar a idéia de que é tudo um sonho. Ok, até onde eu sei nas adaptações é essa a rota que usam, sei lá se no balé é essa também. Mas é um lugar comum nesse tipo de história e é aceitável. O problema é que ele não sabe exatamente como fazer, já que na metade do filme a guria simplesmente acorda e nada no mundo real muda. Ela tenta contar a história pros seus pais, que obviamente não acreditam. Naquela mesma noite, ela continua a sonhar, aparentemente, e até leva seu irmão junto.

Mas pera, no começo do filme a gente vê ratos em CG pelas ruas da cidade, e um deles até com cabelo branco.

FOI UM SONHO OU NÃO FOI, RAIO?

A idéia de tornar tudo em sonho explica vários (VÁRIOS) plotholes durante a história. Por exemplo, tem um momento que o brinquedo-chimpanzé leva Elle Fanning pro reino do quebra-nozes através de um espelho. Ignorando que essa é outra história (mas que Elle poderia ter lido e influenciado o sonho, então faz sentido se tu esticar muito), em um momento ele passa pelo espelho como se fosse um corredor fino, e em outra ele consegue passar pelo espelho após quebrá-lo.

Sim, não faz o MENOR sentido mesmo dentro da lógica de mundo, mas é um sonho, coisas estranhas acontecem sem muito motivo.


Ainda assim não explica outros plotholes que não tão ligados à esse estilo de narrativa. Por exemplo, Max muda de motivação muito rápido e sem motivo lá pro final do filme, quando o rei rato manda o moleque queimar os brinquedos e ele diz algo como "ninguém merece ter seus brinquedos queimados". Duas cenas seriam suficientes pra explicar isso; uma no começo do filme onde ele dá uma boneca pra sua irmã e ela fica reluzente de alegria e ele se sente feliz e realizado por ela ter gostado da boneca, e nessa cena do final ele receber a boneca da irmã pra queimar.

Essa idéia não veio de mim, aliás. Bobsheaux que pensou e eu não consegui pensar em algo diferente que explicasse tão bem como esse subplot deveria funcionar.


O design de produção do filme é... muito bom. Estranho, mas bom. Conceitualmente, tudo é fantástico: as bailarinas de neve, as roupas, e até os efeitos visuais são bem competentes. Em alguns momentos eu me pergunto porque raios não usaram uma máscara de chimpanzé no chimpanzé ao invés de fazer rosto e mãos de borracha como gente normal, mas não é sempre que o efeito parece bizarro.

Mas em alguns momentos, eu não consigo explicar, mas o filme parece ter aquele clima... Meio... Como descrever...
Ele é claramente um filme que tem esforço e orçamento, mas ao mesmo ele parece tão... barato. Eu sei lá, é meio estranho às vezes. Ele usa tecnologia e artistas talentosos, e é notório que muito cuidado foi colocado nos visuais da produção. Mas ainda tem meio que um clima de um daqueles filmes feito pra TV.
Até as músicas, compostas por Tim Rice (Aladdin e Rei Leão) são muito meeeeh.

Oh sim, tinha algo que eu quase esqueço de mencionar... Os ratos nazistas steampunk.


Esse é o momento que temos certeza que os produtores tavam LOCAÇOS atrás de algo que diferenciasse essa versão do Quebra-Nozes de todas as outras. Alguém disse "ok galera seguinte eu vou puxar três cartas aleatórias do Cards Against Humanity, aí a gente vê o que sai e usa nos vilões". As cartas foram "nazis", "steampunk" e "Transformers"; e foi por isso chamaram John Turturro.
O resto é história.

Poderia ser pior, poderiam ter chamado Shia Labeuf.

Eu não tenho nada contra usarem eventos reais pra incrementar em história de fantasia. É algo daora, pode até ressaltar alguma coisa da história. Muito menos em usarem nazistas, dado o contexto histórico que o filme se passa. Mas é tudo feito de uma forma tão bizarra, tão absurda, e tão retardada... que acaba sendo divertido.


Turturro é REALMENTE exagerado, interpretando um rei que mais se assemelha a um ditador, mas com trejeitos de roqueiro metrossexual dos anos 80. Imagine o David Bowie em Labirinto se ele fosse mais autoritário e desprovido de talento. Esse é o personagem de Turturro.

Ele claramente tava se divertindo à beça fazendo esse filme, e a gente meio que consegue se divertir junto, mas em alguns momentos tu só se pergunta "o que raios eu fiz pra estar aqui?" É bizarro e precisa ter um gosto específico pra apreciar isso, o que acaba por danificar o filme, que já tem problemas de narrativas demais.


Por mais que seja um filme interessante de se olhar, e tenha esses momentos absurdamente nonsense, ele tem uma narrativa lenta e que pode vezes se torna maçante. Fica ainda pior no clímax, que é quando tu começa a olhar o relógio e se perguntar "já tá perto de acabar?". Parece que nunca tem fim, e cada vez que tu acha que vai acabar o clímax, aparece outra coisa. Provavelmente porque a gente já sabe o final, vai aparecer um moleque igual o quebra-nozes na vida real e vai ficar amigo da Elle Fanning e casar com ela e blablabla. A gente só quer que tudo acabe logo porque o filme se estende demais. Talvez se fosse mais curto e mais... self-aware, fosse mais divertido.

Ele tenta se levar a sério demais, quando por um lado, é compreensível. As cenas com a guria e o quebra-nozes são críveis, é um drama fantasioso que funciona. Mais pela guria que é legitimamente uma boa atriz. Tu gosta dela, simpatiza com ela, torce por ela. Ela não é uma criança-prodígio, e tem uma lógica simplória que ela se orgulha de ter dentro do sonho, tal qual uma criança normal teria se tivesse num cenário de brincadeira. É adorável.

Mas ao mesmo tempo, é um filme que tem John Turturro invocando uma banda de metais com um jumpcut medonho de tão barato e dançando e cantando ao que eu imagino ser uma música do balé em estilo jazz. Eu digo "eu imagino" porque eu não consegui reconhecer a melodia, devido à camada de Jazz e ao ritmo acelerado.
Teoricamente era pra ser Dance of the Reed Flutes, mas a forma que eles interpretam é tão zoada que mal dá pra reconhecer.



Eu realmente não sei se eu recomendaria ver esse filme. Todas as resenhas no IMDB que eu vi eram 8 ou 80. Ou o filme era uma obra-prima do audiovisual ou ele era basicamente o anticristo. Não existe meio-termo.

O qual eu me incluo. É um ótimo filme pra caçoar, a justaposição de elementos torna a experiência de tentar narrar o filme surreal demais, o que pode render umas risadas com amigos. Mas talvez não valha mais que uma assistida, vale a pena ver uma vez só pra presenciar o maldito filme do Quebra-Nozes com John Turturro liderando ratos nazistas steampunks que parecem ter sido desenhados pelo Tetsuya Nomura.



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2 comments

  1. +Kapan, gostei bastante da sua resenha!

    Assisti a resenha desse filme do Nostalgia Critic e eu ri muito!

    Pelo visto, esse filme para o Doug Walker está no Top 5 de piores filmes que ele já assistiu!

    Obs: se sobrar um tempinho, assista o filme do Aquaman (tem algumas piadas-poucas colocadas de maneira errada-, boas cenas de ação-já li em um fórum de quadrinhos que o nível das cenas de ação desse filme é semelhante ao do filme Capitão América: Soldado Invernal-, tem uma breguice ou outra, para ser bem honesto, o world building é feito de maneira quase perfeita, com a devida vontade de conhecer os outros reinos submarinos, além de Atlântida, entre outras razões do porque gostei desse filme)!

    Garanto que valerá o seu ingresso!

    No mais, continue com as ótimas resenhas e aguardo resposta!

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    Respostas
    1. Eu ainda preciso ver os vídeos de Natal do NC, até usando adblock eu me sinto mal de assistir hauehauehau

      E sim, provavelmente eu vou ver Aquaman, mas eu preciso ver Liga e Mulher Maravilha antes
      Sim, eu perdi o saco total pra DC depois de BvS heuhauehae

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