A Revolta dos Brinquedos


Cês lembram que na parte 6 do Legado de Tio Walt eu mencionei a treta entre Robin Williams e a Disney?

Em resumo: Robin estrelou outro filme na mesma época que Aladdin, e não queria que os filmes competissem entre si, logo pediu pra Disney não divulgar tanto seu personagem em Aladdin. A história completa cê lê no artigo que eu linkei ali em cima.
Mas depois de ler esse.


Enfim, chegou o momento de resenhar esse filme. É bom? É ruim? É memorável? Mesmo sem o acordo de Robin Williams o filme sobreviveria?

Vejamos.


Ok, eu sei que tecnicamente não é um filme sobre o Natal, mas ele começa e termina no Natal, com o foco forte em brinquedos, então tá 100% ok no meu livro.

A história começa quando o dono de uma fábrica de brinquedos morre e deixa o negócio pro seu irmão militar tomar de conta até que seu filho Leslie possa assumir. Mas o general também não tá preparado pro negócio, e se assusta com a mera menção de que alguns designs de brinquedos vazaram pra concorrência, o que o faz chamar seu filho especialista em camuflagem pra descobrir quem foi o culpado.

Não satisfeito, ele começa a querer fazer brinquedos de guerra, o que vai contra a filosofia da fábrica. Leslie tenta impedir, mas o general prossegue no seu plano mesmo assim, indo até ao ponto de planejar o exército mais barato do mundo, usando brinquedos com armamentos reais e pilotados por crianças treinadas em videogames.
Ou seja, basicamente o que temos hoje em dia.


Leslie e sua irmã Alsatia precisam tirar seu tio da gerência da fábrica, ou tudo que seu pai acreditava e lutou pode ir por água abaixo, sem contar segurança nacional e alguma coisa assim.


A estética surrealista do filme é a primeira coisa que chama atenção. Tu vê pelos trailers que o design de produção se esforçou pra criar um ambiente criativo e bugador de célebluohs, com suas ilusões de ótica e no geral, um design que lembra muito Willy Wonka se ele fosse fabricante de brinquedos. É um visual excêntrico que combina com a personalidade da família fundadora da fábrica.

Mas nunca chega a ser exatamente "WILLY WONKA se fosse fabricante de brinquedos", já que o design da fábrica de chocolate (tanto no original como no remake) parecem prever que visitas ao lugar são comuns. Lugares abertos, barcos, coisas impressionantes que parecem saídas de um parque temático.

Em Toys, o lugar é projetado como uma fábrica mesmo, com linha de produção clara, funcionários, refeitório, sala de xerox, etc. Ainda assim, cada set tem algo de novo, algo impressionante, ou algum tipo de trucagem visual.


E como eu disse, o design de produção combina perfeitamente com a família excêntrica. Robin Williams tem uma atuação sensacional, já que o papel é exatamente um cara molecão mas que sabe das responsabilidades que tem que tomar. Ainda assim, tem medo de não estar preparado pra tais possibilidades e usa brincadeiras e piadas pra esconder isso. Pena que o roteiro não permita que ele use 100% de suas habilidades de improvisação, mas o que ele faz, ele faz direito.

Jessie a Vaqueira também é ótima como a irmã mais excêntrica ainda. Ela solta frases aleatórias e desconexas até mesmo pro nível do filme, mas ela as diz com uma naturalidade bizarra enquanto veste roupas e perucas que fariam a Stephanie de Lazy Town parecer uma estudante de filosofia da UECE.
Não que ela naturalmente já não pareça, mas enfim.


O general Dumbledore também é sensacionalmente cartunesco, bem como seu filho, Metal Gear Brotha. Os dois emitem uma sensação de aspereza e realismo, mas encontram um bom balanço entre um militar realista e um militar que seria exagerado até pra ser personagem de Recruta Zero. O que é um feito e tanto.

Isso funciona porque a lógica de mundo do filme é naturalmente zoada. O filme todo se passa em Bliss.jpg, e nunca vemos de fato a cidade por perto. Tem um momento que o general e o filho vão pra um arcade, mas só, de resto é tudo mato. Mas a própria narrativa do filme parece mudar constantemente, quase como uma brincadeira de criança, onde não há praticamente nenhum limite e quando tu pensa que acabou logo inventa alguma coisa pra continuar a brincar.

Fazia muito boneco com pregador de roupa quando pirralho. Péssimos tempos, depois de 10 minutos geralmente acontecia uma competição de quem aguentava mais tempo com pregadores na pele.
E agora cês sabem porque eu tenho esse rosto de ladrão de Esqueceram de Mim.


E talvez esse seja um dos pontos mais fracos do filme: a narrativa meio meh e confusa.

É um filme com um ritmo lento e por vezes previsível. A narrativa faz tudo parecer mais vazio do que realmente é, e uma vez que o visual para de ser uma novidade, se torna um filme maçante. E ele mesmo percebe isso, com um final "meh".

Alguns também tem problema com o clímax, que acaba desdizendo tudo que o filme disse até agora. Todo o ponto do filme é dizer que "guerras são ruins e brinquedos são bons". Clichê, sim, mas se tu consegue passar essa idéia de uma forma criativa, eu tou dentro. E ele até consegue, mas a moral é constantemente martelada na tua cabeça, então cansa um pouco em alguns momentos.

Mas o clímax envolve Leslie e a resistência da fábrica contra os brinquedos de guerra do general, e algumas resenhas no IMDB apontam que na batalha final Leslie precisa usar armas pra derrotar o general, mostrando que guerras são necessárias. Embora cê consiga ver por esse lado, eu vejo diferente.

O clímax é mais... irônico do que simplesmente Leslie usando armas. Pode-se dizer que é o karma típico de desenho animado em ação. Ainda dá pra sustentar um pouco o lance de "guerras às vezes são necessárias, pra combater um mal maior e etc" mas não é tanto "Leslie desdizendo o que disse".


E na real, essa é uma forma ideal de descrever esse filme. A lógica de mundo chega muito perto de um desenho animado dos ano 30-40, mas com o surrealismo de pinturas coloridas e ilusões de ótica que dariam orgulho a Jim Henson.

Não é um filme de Natal, mas é um bom filme pra começar as festas. Vale a pena ver ao menos uma vez, se ainda não viu.
Só se mantenha longe do jogo de SNES. Não vale sua dor de cabeça.


Esse artigo foi feito com o apoio do padrinho João Carlos. Se quiser ajudar com o blog ou simplesmente não quer que nós morramos de fome, peste e miojo barato, considera contribuir com qualquer valor no Padrim

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