Rudolph: The Movie
Alguém já disse que "um filme realmente ruim é aquele que tu não consegue lembrar nada dele". Ou algo assim. Eu ouvi isso em algum vídeo que eu vi esses dias, eu não vou lembrar agora. De qualquer jeito, é verdade, o propósito de um filme é ser lembrado, seja porque ele tem algo importante a dizer, ou por ser incrivelmente divertido, ou porque ele te faz sentir coisas que de outra forma seria difícil.
Ou porque tem que vender brinquedo, material escolar e tampas de privada, também serve.
Mesmo quando o filme é tecnicamente bom, ele pode falhar por simplesmente não ser memorável. Claro que alguns filmes são tão ruins que deviam ser enquadrados como violação dos Direitos Humanos, como o remake de Bela e a Fera e The Cat in the Hat. Mas ao menos esses filmes foram competentes em ser uma absoluta desgraça que acabaram sendo fascinantes, e que podem até servir futuramente como base pra não fazer uma adaptação.
O filme de hoje cairia no esquecimento, se não fosse sua identificação com uma história popular: Rudolph: O Filme.
E sim, eu sei que na dublagem o título é só "Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho", mas esse "the Movie" no título é relevante. Normalmente um filme que tem "O FILME" como subtítulo tá fadado ao fracasso, e uma vez que essa desgraça em celulose foi produzida pela Goodtimes (cê sabe, o equivalente americano da VideoBrinquedo), sabemos que estamos em boas mãos.
Whoopity-doo.
Whoopity-doo.
A história é um pouco diferente da clássica de Rankin-Bass. Ok, é MUITO diferente, especialmente na moral e narrativa, mas já chegamos lá. Rudolph é uma rena que nasce com um nariz vermelho que acende dependendo do seu humor, e desde moleque é zoado por todos na vila. Ao crescer, ele tem uma chance de participar das Olimpíadas das Renas, mas seu rival, Rena Bakugou, sofre um acidente porcausa da luz forte do nariz de Rudolph.
Ignorando que Bakugou trapaceou A CORRIDA INTEIRA, Rudolph é desqualificado dos jogos. O moleque então decide ir embora da vila, e acaba encontrando um urso dublado pelo pai do Buddy em Um Elfo em Nova York e uma daquelas raposas de neve de Os Últimos Jedi, dublada por um cara do Monthy Python.
O elenco ainda conta com John Goodman como Papai Noel, Debbie Reynols dublando 3 personagens, Whoopi Goldberg como a feiticeira do gelo, e Richard Simmons como um dos elfos carteiros.
Sim, AQUELE Richard Simmons.
Enfim, depois que Rud-COMO ASSIM "QUEM É RICHARD SIMMONS?"??? BANDO DE JOVENS OBESOS E SEDENTÁRIOS! FAÇAM UM FAVOR A SI MESMOS E PROCUREM PELOS VÍDEOS DE RICHARD SIMMONS NO YOUTUBE!
AGORA NÃO! SÓ DEPOIS DESSE ARTIGO!
Exercitem primeiro a mente, depois o corpo.
PROSSEGUINDO, após Rudolph deixar a vila, a guria rena que gostava dele vai em sua procura, mas acaba invadindo o território da versão alternativa da Elsa se ela não tivesse sido confrontada pela sua irmã e passasse o dia comendo e brigando com curitibanos na internet.
E Noel vai chamar justamente os elfos que causaram uma treta diplomática com a feiticeira, porque "todo mundo merece uma segunda chance", esquecendo de que ele é o maldito Papai Noel, que sabe quando cê tá dormindo, sabe quando cê tá acordado, sabe se tu foi bom ou mau, então seja bom pelo amor do raio.
Ou esse poder de stalkear crianças só funciona em humanos?
A história pareceu confusa? Eu contei de uma forma estranha e não-linear? Dane-se, eu não ligo, esse filme é horrível.
A animação é limitadíssima e feita de qualquer jeito, como se os animadores só tivessem um único lápis até o final da produção, tornando impossível o ajuste de formas ou mesmo de jogar fora frames que saíram errado, o que deixa o filme com um visual tronxo e sem planejamento, com personagens se movimentando de forma desengonçada e estranha.
O que é uma pena , porque a dublagem ééééééé... ok, mas as músicas são surpreendentemente esquecíveis. Nossa, como são simplórias e... bluh. Se parar pra analisar, o estilo parece sugerir que o filme quer ser como um musical da Broadway, mas como os produtores desse filme não tem talento, o resultado é tão amador que seria constrangedor de ver até se fosse uma peça escolar.
E a própria construção de mundo nesse filme não faz sentido. Por exemplo, fadas e elfos são multirraciais aqui. Isso levanta TANTAS perguntas...
Por exemplo: a raça dos elfos e fadas se desenvolveu da mesma forma que os humanos? Existem elfos africanos, japoneses, ingleses, nova-iorquinos? A raposa da neve fala como se fosse o Jack de Newsies, então é provável. Se sim, como raios eles foram achados pelo Noel? Foi um concurso com cotas? Ele achou durante as viagens pelo mundo? Se um elfo vem do Japão, ele se parece com um humano ou com um youkai? O Curupira é um elfo?
E isso nos leva ao problema principal dessa decisão: Rudolph é pra ser uma anomalia em seu meio, mas em um ambiente tão diverso, ele acaba não sendo tão diferente assim. Fora que Noel já ensina a moral pra Rudolph no começo do filme, ao invés de fazer com que Rudolph tenha que aprender por si só, tornando a jornada do protagonista mais fácil e menos recompensadora.
Talvez a diversidade racial tenha sido uma cutucada na versão em stop-motion, onde todo mundo (inclusive Noel) parecia muito babaca em relação a Rudolph. Mas adivinha: A HISTÓRIA É SOBRE ISSO. É sobre um personagem (nesse caso dois, porque tem o elfo dentista) que é diferente dos demais e são ostracizados por isso, mas acabam mostrando como as habilidades individuais deles são úteis pra todo mundo. É um tipo de história onde todo mundo aprende uma lição, e esse tipo de história só funciona nesse cenário especifico, o que não temos aqui.
E no geral, é uma história tão previsível que mesmo sem ver o filme original, cê sabe pra onde vai. É um filme seguro pra crianças bem, bem, bem, BEM pequenas, que não tem habilidade mental pra discernir coisa ruim ou boa e só quer ver personagens coloridos na tela fazendo coisas.
Rudolph é um personagem simplório; a namoradinha dele é rasa e gosta dele mesmo sem conhecê-lo; o rival Bakugou é um mero acessório temporário; Noel é um retardado; e a vilã é literalmente "UM VILÃO DO MAL QUE ODEIA O BEM PORQUE SIM", e as músicas são divertidinhas, mas completamente esquecíveis.
Mesmo se tiver um tempo disponível, passe bem longe dessa praga. É 1 hora e meia da sua vida que nunca retornará e você poderia estar fazendo algo mais útil, como jogando Grinch de PS1, eu acho.
Ao menos me dá uma desculpa pra tocar a versão eurobeat de Rudolph |
E ainda vai ter mais um artigo sobre Rudolph antes do ano acabar! Guentaê
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