O Natal Maluco do Ernest


Eu não sei se cê conhece Ernest, eu não conhecia. Era um personagem que aparecia em propagandas diversas, de refrigerantes a parques temáticos. O sucesso levou ao ator, Jim Varney, a criar outros personagens pras propagandas, que interagiam com um personagem atrás da câmera chamado de "Vern".

Mas provavelmente tu deve conhecer ele de Toy Story 1 e 2, onde ele dublou Slinky.

Mas Ernest é de longe seu personagem mais conhecido, talvez até se confundindo com o ator. Um sujeito tipo caipira que fala rápido e mais atrapalhado do que deveria. Um personagem que funciona bem em propagandas curtas, mas pra um filme acaba se tornando irritante.
Pense numa mistura do Didi Mocó com o Juarez da Tekpix. E é por isso que o personagem estrelou 9 filmes, uma série de TV, e um especial onde ele visita a Splash Mountain.
É!
Igual o Didi que fez trocentos filmes, e em um deles ele visita o Beach Park!

Mas um filme baseado em um personagem de propagandas funcionaria? Ainda mais um filme de Natal, onde geralmente há momentos mais tenros e que necessitam de uma emoção diferente?

Vejamos.




A história começa quando Papai Noel chega em Orlando e pega o táxi de Ernest (que aparentemente é basicamente o Seu Madruga se ele se fundisse com Pee-Wee Herman). O velho Noel tá na cidade pra passar a tocha pro próximo Noel, um cara que tinha um programa infantil regional de relativo sucesso, mas que acabou sendo cancelado.

Mas o agente do cara não quer que ele deixe passar uma grande oportunidade de carreira, ao ser oferecido um papel num filme natalino. Ernest e Noel também se encontram com uma guria que fugiu de casa e não acredita no Papai Noel, porque é claro que uma guria que se veste assim não acreditaria em Papai Noel:


A história em si não tem nada de muito especial, é muito direta e sem muitas surpresas. O filme tem uma fórmula muito específica: seguimos um pouco do plot de Noel tentando fazer a oferta pro cara lá, alguma coisa o impedindo, e Ernest tem que salvá-lo. Entre uma coisa e outra, Ernest faz caretas pra câmera porque esse era o ganha-pão dele na época.

Eu nunca gostei muito desse estilo de comédia, sempre me pareceu algo raso e repetitivo demais. Ernest não é um personagem ruim, quando ele é genuíno ele é genuíno; mas quando ele tenta ser irritante, ele o faz com maestria. Quando ele tenta ser um cara comum, dá pra ver os trejeitos de desenho animado nele, que é o que o torna um personagem excêntrico, tal qual outros como Jughead e Scrooge. Nesses momentos, eu consigo gostar dele e até me importar, mas o problema principal é o exagero de caretas e sequências que deveriam ser engraçadas, mas acabam sendo repetitivas.

O plot do filme é algo que não faz sentido, mas funciona dentro de uma lógica própria. É o tipo de coisa que dá pra ignorar tranquilamente. É um filme de Natal do Ernest, o que cê espera?


A melhor coisa do filme é realmente o plot do Noel e a interpretação de Douglas Seale, que também fez o Sultão em Aladdin e um personagem de Bernardo e Bianca 2 mas eu não consegui lembrar até ver um trecho no YouTube, então deixa pra lá. 

A performance dele é simplesmente sensacional, ele passa uma aura de tranquilidade e alegria. Ele tem pequenos momentos onde ele se alegra de simplesmente ver crianças brincando ao redor de uma árvore de Natal. Tem uma sinceridade na voz dele, que também consegue se impor com seriedade quando necessário, é simplesmente um ator sensacional numa performance igualmente sensacional.

Ele é o único que poderia dizer uma frase assim de forma séria:


Não é um papel fácil de passar, mas Seale interpreta com uma naturalidade e com uma paixão que te faz acreditar por um momento que ele é realmente Noel. Mas ele também tem um lado humano e identificável, Noel sabe que precisa passar a tocha pra um sucessor, e que resta pouco tempo para fazê-lo porque sua magia está enfraquecendo. Isso porque ele é simplesmente um cara genuinamente generoso, agradável, e que amava seu trabalho e queria passar o máximo possível de tempo nele.


E tu consegue comprar a idéia e a levar a sério. Há momentos como a cena da cadeia, onde ele consegue organizar um coral improvisado com os presos e eles cantam músicas de Natal (algo que foi replicado em Santa Baby 2), e é simplesmente adorável.
Ao contrário dessas fantasias do Ernest e da Harmony que...


...

sei lá, soa errado de alguma forma.


Eu tenho a impressão de que o filme seria bem melhor se fosse focado só no Noel e menos no Ernest. Digo sim, ele é um personagem primordial na trama, ele que decide meio que adotar a guria fugitiva, pegar as renas nos correios, e ajuda Noel em tudo que ele precisa pra chegar no cara lá. Mas perdemos muito tempo em slapstick sem graça e sequências que levam do nada ao lugar nenhum, que poderiam ser melhor usadas no Noel.

Ou não, porque por mais que a interpretação de Douglas Seagle seja fantástica, a mitologia ao redor do personagem é rasa e simplória, bem como o mundo ao redor de Ernest.


No final das contas, é um filme brega e previsível, mas que tem momentos genuinamente bons, e momentos relativamente desconfortáveis mas que podem gerar algum tipo de zoação quando tiver assistindo, sei lá.

Não é um filme "tão ruim que é bom", mas é um ruim assistível pelas coisas boas nele. É inofensivo e agradável, mas a menos que queira ver um dos melhores Noéis dos filmes, pode passar. Se tu gosta desse estilo de slapstick, cê vai tar em boas mãos, é só que... Sei lá, não é pra mim. Eu prefiro um slapstick rápido e imprevisível, e o slapstick de Ernest é muito lento, demorado e depois de um tempo meio que fica formulaico demais.

Mas de novo, se é tua praia, vai fundo. Mesmo não gostando, parece ser o tipo de filme que eu assistiria todo ano ao menos pra começar o Natal. É só o aperitivo pro prato principal.

Especialmente porque esse filme tem uma das melhores aberturas pra qualquer filme natalino, top 3 sem dúvida.






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2 comments

  1. +Kapan, gostei bastante de sua resenha!

    Se bem me lembro, o Doug Walker (Nostalgia Critic) colocou o Papai Noel desse filme como o melhor do cinema!

    Estou no aguardo para a sua resenha do novo filme da Mary Poppins, Mary Poppins Returns, que pelo visto tem chances de ser muito bom!

    Sugestão: se possível, poderia por favor produzir uma resenha do filme do Aquaman, dirigido pelo James Wan ainda esse ano?

    Todos os trailers e spots que vi desse filme apontam para um sucesso instantâneo, fora que já está dando o que falar na China!

    No mais, continue com o excepcional trabalho, desculpe pela ausência e aguardo resposta!

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    1. Sim, ele botou o Noel de Douglas Seale como o melhor. Eu não tenho capacidade pra dizer se foi a melhor decisão (já que é um papel com extensa participação e etc), mas com certeza é um dos melhores.
      De novo, o único problema é a mitologia ao redor dessa interpretação que é meio "meh", adoraria ver ele interpretando o Noel em um filme melhor, caso fosse vivo.

      É CLARO que eu vou resenhar Mary Poppins Returns, eu tenho uma obrigação moral ahuehauehau
      Eu tou tentando não me empolgar e esperar o pior, mas ao menos parece que vai manter o coração no lugar certo.

      Sobre o filme do Aquaman... Eu sei lá, eu tou sem saco pra filme da DC desde Batman vs Superman hauheaue
      Algum dia, talvez. No máximo talvez eu escreva algo no Letterboxd.

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