Papai Noel é naturalmente um tema comum a muitos filmes, bem como sua origem. Como Santa Claus is Coming to Town, The Life and Adventures of Santa Claus, e Fred Claus.
Mas nenhum desses se propunha a contar a história de origem de uma forma... Realista?
Bom, sabe quando um filme bota "O Filme"como subtítulo? Como... Scooby-Doo: O Filme, ou Pokémon: O Filme? E alguns tem até a pachorra de botar "O Primeiro Filme", como Doug.
Normalmente com um título que tenha O Filme, se espera que a história seja grande, maior que o normal, ou de alguma forma se leve mais a sério. Pokémon O Filme trata de uma história maior, mais aventuresca, onde a escala de risco é maior. Scooby-Doo O Filme também leva a franquia a outro patamar, usando atores reais e um plot envolvendo sobrenatural verdadeiro, coisa que nunca havia sido feito antes com Scooby-Doo.
Exceto por Ilha dos Zumbis. E 13 Fantasmas. E Arabian Nights. E O Fantasma da Bruxa. E-enfim.
E o que esperar de um filme chamado Santa Claus: The Movie?
Bom, tem o Big Lebowski e Lorde Faarquad.
HOORAAAAY
A história começa quando um lenhador velho e sua esposa (presumidamente estéril) tem o trabalho anual de fazer brinquedos de madeira e sair entregando nas vilas vizinhas. Mas em uma época particularmente ruim, eles acabam presos numa nevasca e salvos por um bando de elfos, que acreditam que o tal velho é o escolhido da profecia que iria trazer alegria pras crianças do mundo. Ele então assume o trabalho mágico de todo ano entregar brinquedos feitos pelos elfos, num trenó puxado por renas voadoras e etc, you know the drill.
Mas durante uma de suas jornadas, ele encontra um moleque sem teto e resolve ser amigo dele, bem como de uma guria podre de rica que deixava comida pro guri. Paralelamente, o assistente do Noel tenta fazer uma máquina que faz brinquedos automaticamente, mas como ele não tem o Chapeleiro Louco por perto, os brinquedos vem com defeito e ele entrega o cargo.
O assistente vai pro... mundo real...? Onde começa a trabalhar com um fabricante de brinquedos que tá com a imagem pública arrasada porque ele botou vidro, pó e unhas dentro dos urinhos de pelúcia.
É sério.
Cabe a Noel vai resolver a situação do moleque e trazer o assistente Patch de volta e blablabla.
Quando tu fala "Papai Noel: O Filme" ou "Santa Claus: A Verdadeira História do Papai Noel" tu espera algo naturalmente bobo, pra criança, com pouca substância.
E... Embora ele seja um filme pra criança, com momentos bobos e com um plot não exatamente desenvolvido, ele consegue brilhar na execução.
A mitologia construída ao redor dos elfos, do Papai Noel se sente importante. O filme tem vários momentos lentos, solenes, de elementos mais sutis que desenvolvem um pouco melhor os personagens e os tornam mais próximos a nós.
Noel é um cara incrivelmente amável, e Lebowski consegue passar tanto essa energia genuinamente bondosa, cativante, e brincalhona; mas também consegue passar um Noel um pouco mais preocupado e depressivo, quando seu trabalho passa a ser aparentemente desnecessário.
E ele nunca é extremamente sério ou extremamente bobo, há um meio-termo bem balanceado na atuação.
Embora Patch faça trocadilhos ruins com "elf", o personagem é interessante e identificável. Ele fugiu do Pólo Norte pra fazer algo relevante pro Papai Noel o perdoar e aceitar de volta, e ele é o típico inocente gente boa. Ok.
Mas a melhor atuação é do vilão, o dono da fábrica de brinquedos. Meu Deus, que atuação comicamente exagerada, que personagem... Ridículo. É tão irreal e over the top que acaba sendo engraçado, e Farquaad se diverte fazendo isso.
Tu acaba rindo dele ao invés de com ele, mas ao menos o filme sabe que é ridículo e tira vantagem disso.
Mas quando ele não é ridículo, ele se leva a sério. E embora dê pra zoar o filme (tem um episódio do Nostalgia Critic, por exemplo), eu simplesmente não consigo. Tem tanto esforço pra criar essa aura fantasiosa, mas ao mesmo tempo respeitosa e verossímil, que é quase impossível não se sentir imerso no filme.
Os cenários são lindos, os brinquedos são coloridos, a oficina é grande e... possivelmente claustrofóbica, mas hey, elfos são o equivalente fantasia de crianças coreanas nos anos 90.
Mas uma das coisas que eu amo sobre a fotografia é que ela tenta emular pinturas clássicas. Mais ou menos como o filme de Jesus que eu nunca lembro o nome, tu poderia tirar um print aleatório desse filme, emoldurar, pendurar na sala e ninguém ia notar que veio de um filme de 1985.
Isso é mais no Pólo Norte, já que na cidade não tem como fazer muito. Mas mesmo assim as tomadas com neve evocam o mesmo espírito das outras cenas, e funciona maravilhosamente bem. Dá um clima nostálgico, eu não consigo explicar bem.
Ele tem seus momentos mais bestas, seus clichês, mas no geral é um filme com muito coração e que, embora não tenha um plot incrivelmente desenvolvido (raio, é até meio previsível), continua sendo divertido de assistir uma vez por ano, e visualmente agradável.
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