Maldito Feliz Natal
Existe um gênero teatral chamado de tragicomédia. Se você é um ser desprezível e repulsivo que só baseia sua vida em YouTubers e celebridades do Instagram, você provavelmente acha que tragicomédia é algum nome chique pra sanduíche gourmet.
Se bem que "Tragicomédia Burguer" parece um nome legal pra um lugar que cobra 20 conto pela batata frita e tem apresentação teatral com estudantes mal pagos do curso de filosofia da UFC declamando poesias que não fazem o menor sentido.
Tipo em Pateta 2 - Radicalmente Pateta.
Pois bem, é o gênero que basicamente mistura drama e comédia. Às vezes com situações dramáticas que acabam por algum motivo sendo engraçadas, mas que não perde o tom quando precisa ser legitimamente um drama.
O melhor exemplo que eu consigo pensar é A Grande Família.
...COMO ASSIM CÊ NUNCA VIU A GRANDE FAMÍLIA? Seu... seu...
...ok, a série terminou em 2014, dependendo da sua idade fica difícil ter visto. E já vinha ficando meio paia de um tempo pra cá e...
...enfim.
O que temos hoje é um filme que tenta ser uma tragicomédia, mais ou menos na mesma linha de Sobrevivendo ao Natal e Holiday in Handcuffs. No sentido de ser desconfortável, mas... ok, tou embromando demais, vamo acabar logo com isso.
A história conta sobre Boyd Mitchler, que quando moleque amava o Natal e esperava ansiosamente a vinda do Bom Velhinho pra entregar brinquedos, doces e o box completo de Chaves. E como quase todo moleque nessa idade, ele se esconde esperando Noel, mas é surpreendido pelo seu pai, que estraga suas fantasias e conta toda a verdade da forma que só um pai alcoólico com tantas habilidades paternais quanto Archie Andrews tomando conta de uma usina nuclear conseguiria.
Anos se passam, Boyd é pai de uma menina que é basicamente a Lisa Simpson mais chata e um molequinho adorável e inocente. A guria já sabe a verdade sobre o Papai Noel, mas Boyd quer compensar seu filho lhe dando um Natal a mais acreditando no velho, já que o moleque já tá na idade de saber a verdade.
Mas ele vai ter dificuldade nesse processo, já que o irmão de Boyd vai batizar seu recém-nascido em véspera de Natal, e espera uma reunião de família.
Então, o filho que tenta ser totalmente o oposto do pai, o ex-recruta com PTSD que tem um filho que na real é da ex com um mexicano, a irmã com três filhos estranhos que acabou de voltar com o marido alcoólatra, e o Robin Williams sendo o pai que faria o progenitor de HuguinhoZezinho&Luisinho ser o Pai do Ano.
A melhor coisa nesse filme de longe é Robin Williams. Eu não vi muito filme dele, admito, mas nesse filme eu consigo entender melhor o que Doug Walker falou quando ele faleceu, de que Robin nunca parecia dar uma atuação fraca, ele sempre dava o melhor que podia independente do filme. E é quase palpável a diferença de atuação dele pros outros. Seu personagem é tão mesquinho, babaca, mas ao mesmo tempo consegue mostrar humanidade e arrependimento. O personagem acaba sendo um pouco interessante mais pela atuação do que pelo roteiro em si.
Roteiro esse que é muito plano. Ele tenta ser uma tragicomédia e... Funciona. Há momentos legitimamente dramáticos e momentos engraçados que se ligam aos dramáticos (porque normalmente a comédia vem da identificação do público com os momentos, e acompanhamos uma família que tem problemas palpáveis e que alguns até conhecemos de perto).
E sim, o filme tem uma fotografia criminalmente escura. |
Mas ao contrário de Sobrevivendo ao Natal, por exemplo, onde temos personagens bem definidos e bem explorados, além de facilmente identificáveis e engraçados, temos idéias, conceitos. Mas nunca algo completo.
A história toda gira em torno de Boyd esquecer o presente do filho em casa, e ter que viajar a noite toda pra pegar o presente e voltar antes que o moleque acorde. Sim, altas confusões no percurso com o pai ranzinza e o irmão que eu acho que é autista, fora a esposa de Boyd descobrindo sobre o passado dele, mas nada é incrivelmente engraçado ou mesmo memorável. Há desentendimentos e contratempos bem montados no decorrer do filme, mas nenhum que valha tanto o interesse ou mesmo uma risada.
Os momentos dramáticos funcionam bem, mas funcionariam melhor se conhecêssemos melhor os personagens, coisa que não acontece. Raio, até Holiday in Handcuffs fez isso certo! Não dá pra se envolver com o drama ou comédia dramática sem conhecer os personagens, é uma parte fundamental do negócio. Acaba que as partes que deveriam ser mais engraçadas soam como um drama tentando ser engraçado, o que já deve te falar o suficiente se funciona ou não.
0 comments