O Espantalho (The Scarecrow, 2000)


Todos nós temos aquele filme querido da infância que não nos atrevemos a rever pra não estragar nossa impressão deles. É a tal da Regra dos 15 Anos, que eu vivo quebrando aqui no blog por motivos de eu ser um masoquista desgraçado e quero estragar outras infâncias além da minha.

Mas o caso do filme de hoje é bem curioso pra mim, porque eu não tinha nenhuma memória DO FILME... Eu tinha memória sobre o filme, sabia que ele existia, e uma cena específica ficava cutucando minha cabeça vez ou outra, mas no geral se mantinha no fundo tal qual um aluno preguiçoso.

Quem foi da turma do fundão, levanta o braço, provavelmente cê sentou bem do lado de O Espantalho, de 2000.


Isso é, se tu estivesse na minha mente. Eu não sei onde eu queria chegar com essa analogia, mas já que estamos aqui, vamo em frente.


Esse filme passava MUITO no SBT, mas é incrível como é um filme que não conseguiu sobreviver além disso. Se bem que é difícil conviver com outros nomes de peso que insistem em passar no teste do tempo, o que explica também a falta de interesse da Warner em relançar esse filme.

Digo, eles já tem os direitos de Pokémon, DC, Looney Tunes e Hanna-Barbera, sem mencionar o Cartoon Network, que é basicamente a Hanna-Barbera digivoluída. Quando você lança pelo menos um filme novo do Scooby-Doo todo ano religiosamente, fica difícil criar saco de tirar o pó pra relançar um filme antigo que acaba envelhecendo feito leite.

Especialmente considerando a biblioteca da Warner, que consiste basicamente em filme da seção de desconto e alguns gatos pingados tipo Gigante de Ferro, Gatos não Sabem Dançar, Riquinho e talvez Free Willy. Digo, tem animações, mas ou eram estrangeiras como Os Quatro Aventureiros, ou eram coisas como A Lenda de Camelot, O Rei e Eu, e algumas das sequências de A Princesa Encantada.


E por falar em O Rei e Eu e Princesa Encantada, esses filmes foram dirigidos por Richard Rich, que não tem nada a ver com o pai do Riquinho. Richard já trabalhou na Disney em filmes como O Cão e a Raposa, O Caldeirão Mágico, O Conto de Natal do Mickey, Robin Hood, Se Minha Cama Voasse, Meu Amigo O Dragão, e uns curtas do Xi Jiping.

Mas depois que saiu do estúdio, sua carreira tem sido... No mínimo, curiosa. Ele passou muito tempo fazendo curtas educativos com histórias baseadas na Bíblia, no livro dos mórmons, e até o corão, mas também sobre figuras Históricas como George Washington, Benjamin Franklin, Louis Pasteur, e os dois americanos que jogaram um avião usando estilingue em segredo.

Ao mesmo tempo, fazia os filmes da Swan Princess e Alpha and Omega, além de servir como produtor em Deu a Louca na Cinderela e Deu a Louca na Branca de Neve.

Ele basicamente conseguiu uma carreira fazendo filmes medíocres ou aceitáveis, porque só de Swan Princess tem 9 filmes.

POIS É!


O Espantalho veio alguns anos depois de Princesa Encantada 3 e O Rei e Eu, que era um remake de um musical da mesma equipe de Noviça Rebelde, mas essa é uma lata de minhoca pra outro dia. Provavelmente Richard gostou da idéia de emular um musical grandioso tradicional em animação e resolveu replicar a idéia com O Espantalho.

Baseado em Feathertop, um livro surpreendentemente sombrio e numa peça também baseada no livro, o filme toma rumos absurdamente diferentes em tom e narrativa, o que o torna mais próximo de Mágico de Oz do que eu esperaria. No livro, ele vira humano usando um cachimbo, e a bruxa que lhe deu vida o manda pra se casar com a filha de um barão ou duque algo assim, pra poder viver na vida boa.

Eu acho, eu não lembro bem.

Enfim, na história original a menina vê ele como espantalho através de um espelho, desmaia, e o Espantalho volta pra casa onde ele cai no chão, se espatifa e morre, que é o que geralmente acontece comigo toda vez que eu falo com uma garota. Se tiver curiosidade, uma adaptação foi publicada em quadrinhos e dá pra ler aqui.


O tom do filme é bem mais leve, e ao invés de ser uma... fábula? Ele tenta ser mais uma cópia da Disney Renascentista, porque estamos nos anos 2000 e a Disney ia começar sua segunda Era Sombria.

Ao mesmo tempo que tenta ser um musical dos tempos de ouro.

E é uma bagunça.

A história conta sobre uma bruxa que faz o lance que Kuzko faria alguns anos depois, e ela nos conta a história de como ela deu vida a um espantalho. Todas as noites, uma guria do vilarejo vem aos pés do espantalho pra conversar com ele e enterrar dinheiro num jarro, juntando pra comprar sua liberdade. A bruxa ficou com pena e achou que dando vida ao espantalho seria útil de alguma forma, mas o proíbe de se revelar ao mundo...

...


Mas aparecem 3 crianças no orfanato dessa guria, o que a força a juntar mais dinheiro pra comprar a liberdade dela e das três crianças. Enquanto isso, o duque da aldeia vive querendo se casar com a menina, porqueeeeee...

...motivos. E ele planeja fazer isso durante uma competição de dança, onde ele será o par dela. Acontece que esse cara sabe uma dança mágica que faz com que outra pessoa se apaixone por ele. Dança essa que ele aprendeu com a mesma bruxa que deu vida ao espantalho.

...

...é.

Depois de uma fuga com vários shenanigans, o Espantalho descobre uma pena mágica que, colocada em seu chapéu, faz com que ele apareça humano. Ele e a moça se apaixonam e o resto cês já sabem.


A narrativa do filme tenta dar foco à dança, mas nada realmente acontece, parece mais um meio do que o que parece que teria sido o foco em algum momento da produção. Digo, toda a animação do filme é feita basicamente na rotoscopia, justamente pra dar mais fluidez e veracidade aos movimentos, mas provavelmente eles tentaram se distanciar da dança quando viram que o resultado era questionável.

O que em parte, é verdade. A proporção dos personagens é inconstante, e os animadores não conseguem sincronizar as emoções do corpo com do rosto, e por vezes até a perspectiva é zoada, os personagens parecem que tão tendo convulsões em alguns momentos. Provavelmente porque eles fizeram rotoscopia, mas pra economizar dinheiro de um orçamento que consistia em um cento de salgado e um guaraná Simba de 2 litros, ignoraram alguns frames.

Tem um momento icônico que o vilão do filme dá um giro no ar e ele literalmente se transforma em linhas de movimento por alguns frames, é glorioso.

My ROFLcopter goes soi soi soi soi soi soi
Mas durante o concurso de dança lá a animação é aceitável... num nível "tão ruim que é bom". É basicamente o absurdo que beira o self-aware mas nunca chega exatamente lá de eles estarem no meio dos tempos dos peregrinos e dançando feito o John Travolta.

Mas nada justifica a falta de carisma da própria história e dos personagens. De fato, a gente perde muito tempo com personagens secundários como a bruxa, os sidekicks do Espantalho (uma vassoura mágica e um rato falante que por algum motivo é judeu), e menos com os personagens principais.

Eles tem tanta interação quanto Phillip e Aurora, que é meu padrão pra qualquer romance raso. Galera gosta de apontar pra conto de fada e usar Frozen pra cutucar esse trope, mas eles se esquecem que o tempo de duração de um filme devia ser suficiente pra que aconteça alguma coisa. É uma fantasia, não é pra ser realista. Aladdin e Jasmine se casam logo depois de se conhecerem praticamente, mas a própria história do filme mostra as personalidades, dilemas e conclusão satisfatória.

Mas eu divago, isso é assunto pra outro dia.


O caso é que eu literalmente não sei NADA sobre os personagens principais, nem o vilão. É tudo muito raso e sem graça, e os personagens coadjuvantes também não fazem muita coisa. Os sidekicks são dispensáveis (exceto o rato que em alguns momentos é útil), as crianças são intercambeáveis com as galinhas de Minecraft, e tem um subplot do dono do lugar que abriga os órfãos...

...oh, é, esse cara tá no filme.

Ok seguinte, tanto a guria mocinha quanto as crianças genéricas moram num lugar que faz roupas pra festa, mas todo mundo no lugar é pobre. Quem raios compra essas roupas além do duque? Vai saber.

Ele tem um lance estranho com a barriga dele, que é cartunesamente protuberante. Às vezes ela age como se tivesse uma mente própria, pulando pros lados e puxando seu dono (mostrando que quando a animação não se baseia em rotoscopia continua bizarra), e aparentemente é influenciada por sussurros de comida ao redor...?

...

O subplot dele é impedir que a guria junte dinheiro pra se libertar e provar pra todo mundo que o Espantalho é um Espantalho. O que ele não consegue. E a guria nunca descobre que ele era um espantalho.


É um filme incrivelmente medíocre, mas depois de ver esse vídeo, eu talvez consiga entender porque alguns insistem em gostar dele. Ele tem legitimamente alguns conceitos interessantes, mas eu pessoalmente acredito que se sairia melhor sendo um live-action parodiando os grandes musicais da Warner e MGM do que uma animação tentando parecer Disney.

E serviu como treinamento pra vários animadores, de certa forma. O filme usa CG em alguns momentos, alguns disfarçados e parcos pra economizar, e outros que variam de "tochas que não se mexem" a ".png de uma porta se abrindo só que a gente só corta no meio e mexe na perpsectiva".

Mas, de novo, o maior crime do filme é contar uma história de maneira confusa, excessiva e maçante. Eu literalmente esqueci que tava assistindo esse filme e acabei passando meia hora assistindo vídeo antigo do AKB48 com o WIlson.

E isso é tudo que cê precisa saber pra decidir assistir o filme ou não.




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Esse post foi feito com o apoio dos padrinhos João Carlos e Cauã Alves. Caso queira contribuir com doações pro blog, dá um pulo lá no Padrim, que cê vai poder dar pitaco nos artigos futuros, ler artigos assim que forem terminados, e mimos aleatórios na medida do possível.

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