Scoob! (2020)


Deixa eu checar uma coisa aqui.

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Sim, já faz um ano que eu fiz um mega-artigo sobre Scooby-Doo, já posso fazer outro.
Não um mega-artigo, um artigo normal mas que não vai me fazer obrigar a maratonar um desenho que não foi planejado pra ser maratonado, tornado a experiência algo maçante.

Então... Scoob!. O filme novo. Com um ponto de exclamação.



Esse é um filme que tem feito um certo barulho, não exatamente pelo conteúdo, mas por ser lançado durante uma epidemia mundial que obrigou todo mundo a ficar trancado em casa sem contato físico e tendo que dar banho em pacote de batata frita. Se bem que eu já fazia isso sem precisar de uma doença letal, mas ok.

Já que o vírus chinês obrigou todo mundo a viver como o esteriótipo de nerd em filme dos anos 80, alguns estúdios resolveram adiar seus filmes, como a Disney.


Já a Universal e Warner decidiram soltar Trolls World Tour e Scoob! direto no formato digital, pra alugar ou comprar. Muitos prevêem que isso vai ser uma prática comum daqui pra frente, mas eu pessoalmente não consigo. Muito da grana é gerada ainda nos cinemas, e estúdios vão preferir um formato que ele sabem que dá certo ao invés de um modelo novo e sem um retorno fixo. Cê acha MESMO que eles vão tornar essa prática pouco rentável em algo normal?

Grandes estúdios não conseguiram nem passar muito tempo xingando seu próprio público por não querer ver um filme ruim ou com um marketing ofensivo, porque cês acham que eles vão trocar o cinema pelo streaming? Uma família com 3 crianças tem que pagar 5 entradas em média, que já é bem mais do que o preço do aluguel/compra que essa mesma família faria uma só vez.

Fora a quantidade absurda de torrent que vai aparecer, porque é mais fácil ripar um filme digital do que gravar do cinema correndo o risco de ser pego pelo lanterninha e gravando reação do público e choro de criança.

Enfim, divaguei um pouco. Com isso à parte, esse parece ser o filme ideal pra ser lançado em streaming, porque ele basicamente existe pra que nerdões e sites caça-clique façam artigos pro público comum se sentir "nerd" apontando todos os easter-eggs, como se o filme fosse um Cadê? da revista Recreio.

Que... parando pra pensar, foi o que basicamente se tornaram grandes blockbusters de um tempo pra cá. Claro, sempre houve easter-eggs, mas ultimamente esse parece ter sido o único objetivo dos filmes. Ao menos... nesse é.


A história começa em mais uma história de origem sobre como Salsicha encontrou Scooby pela primeira vez. Porque se tem algo que a Hanna-Barbera gosta de fazer, é retcon. Flintstones mesmo deve ter pelo menos 3 histórias de origem diferentes.

Não é muito comparado aos quadrinhos de heróis ou aos Simpsons, mas ainda assim é notável.

Na noite de RRRRRRALUÍN, Salsicha e Scooby são assaltados por crianças Juggalos e seu saco de doces vai parar na Casa Assombrada Local. É aí que eles encontram Fred, Daphne e Velma, investigam o lugar, prendem o fantasma, desmontam um esquema de contrabando de eletrônicos, e ainda resgatam os doces.

Salsicha diz "ok mas a gente não vai tornar isso um hábito né?", o que já deve ser um indicativo da comédia do filme.

E você achou que eu tava zoando quando falei
em crianças Juggalo.

Depois de uma montagem onde refizeram a abertura do desenho, descobrimos que há um investidor interessador em injetar grana na Mistério S.A.: Simon Cowell. É! Aquele cara lá do vídeo bônus de Shrek 2. O problema é que Simon coloca cada personagem como uma "classe" necessária pra equipe: Fred é o músculo (quê?), Velma é o cérebro, e Daphne é a humana. Mas Salsicha e Scooby não tem um papel definido e logo decidem cair fora do grupo.

Enquanto jogam boliche, são atacados por Letronix disfarçados de pinos e bolas de boliche querendo ser os Minions da Illumination, e são salvos pelo Falcão Azul, Bionicão, e Dee Dee. Ou ao menos, o filho do Falcão Azul original, que é um imprestável.

...

NÃO! Não é a Dee Dee do Dexter, é a Dee Dee de Capitão Caverna. E sim, ele aparece aqui também.
Só não a Brenda.
O que é um crime.
...enfim.

Eles buscam os três crânios do Ziriguidum, ou seja lá como se chamem, que abrem as portas do inferno. Dick Vigarista já tem um, e aparentemente Scooby-Doo é a chave pra trazer a tal destruição.

Considerando que Scooby-Doo teve não um, mas DOIS crossovers com a WWE, eu tava esperando não-ironicamente que eles chegassem no escritório de Vince McMahon.


O resto do filme foca em Dick Vigarista tentando capturar Scooby; Velma, Fred e Daphne tentando localizar e resgatar Salsicha e Scooby; Salsicha tentando não se sentir mais deixado pra trás; e Falcão Azul tentando não viver mais na sombra do pai.

No papel, é um conceito muito bom e com muito potencial, mas na prática o negócio são outros 500. O arco de Salsicha é bem montado desde o começo. Esse é um filme mais sobre ele e seu dilema de ser abandonado e solitário, bem como seu relacionamento com Scooby, que é um tema recorrente.

Sim, Muttley tá no filme e tem relação com isso. Mas o lance do rompimento que acontece perto do terceiro ato é meio forçado e fora do personagem, mesmo considerando emoções complexas. O que é algo estranho pra franquia, ter emoções complexas, mas se forem tentar fazer, façam direito.

Isso poderia ter sido melhor trabalhado se tivessem excluído Simon. Não, sério! A reuniãozinha lá poderia ser só a Velma dizendo algo como "ow galera tem um maluco querendo investir na gente, bora fazer um pitch aqui com nossas qualificações" e aí desencadearia Scooby e Salsicha sem saber exatamente qual o papel deles. A briga entre a turma seria mais orgânica e verossímil, e mais recompensadora quando eles se reencontrassem e fizessem as pazes.


A comédia do filme é muito hit and miss. Tem momentos genuinamente engraçados, mas que por algum motivo (seja a entrega da fala, animação, timming, fato de já termos visto a piada no trailer) acaba não sendo tão engraçada como deveria. Tipo quando o guarda pergunta o nome completo do Scooby, e Salsicha manda o "Scooby Dooby Doo", ignorando o canon que o nome real dele era Scoobert Doo. Mas aí o guarda diz "eh, qualquer cachorro com nome do meio não precisa ir pra carrocinha". É GENIAL, mas não é executada com todo seu potencial cômico.

Ou talvez o fato que eu assisti o filme sozinho num quarto provisório comendo bolacha waffer enquanto questionava todas minhas decisões de vida porque eu me via no Salsicha solitário fazendo sanduíches que ninguém gosta tenha interferido, sei lá.

Esse é um tipo de comédia que o filme oferece, o outro é referência recente que vai ficar antiga em pelo menos 5 anos, como o Fred assustado que a Netflix é paga, Falcão Azul fazendo dab (que já ficou antiga pros padrões atuais), ou a Daphne (ou era a Velma, sei lá) soltando um "masculinidade tóxica". Porque funcionou MUITO bem quando Lego Frozen fez a mesma piada.

Aliás, não sei se o Falcão Azul fazendo dab é uma forma de mostrar que o personagem em si tá desatualizado das modas recentes e deveríamos achar isso engraçado, ou se os produtores realmente acham que as crianças de hoje ainda fazem dab e devíamos levar a sério.
Considerando que a entrada dele parece a de um wrestler, eu...
...realmente não sei. Decidam isso nos comentários.

Como eu vi alguém mencionando, parece que eles soltaram piadas sobre coisas recentes pra não ter que cansar os pais que foram obrigados a assistir o filme, o que pode funcionar (como a piada do Tinder e Anônimo, que funciona pra desenvolvimento de personagem), ou ser ligeiramente engraçado, mas soar forçado (como a piada de Harry Potter).

A única piada que eu achei realmente engraçada foi a das F-Bombs, mas o máximo que me fez foi um "HA!" semi-irônico que nem a Edna Krabappel.


Fora isso, o maior divertimento que tu vai ter é procurar easter egg, porque a Warner quer competir com a Pixar no mesmo jogo, aparentemente. De personagens conhecidos do universo Scoobyano como as Hex Girls; de referências aos produtores e dubladores (Takamoto Bowl foi o easter egg mais mal-escondido que eu já vi desde o Mickey de pelúcia em Once Upon a Time); e a personagens obscuros escondidos no cenário, como o Lula Lelé, Leão da Montanha, e o Hong Kong Fu.

Digo, é legal procurar essas coisas e é legal que elas existam pra estabelecer o tipo de universo em que estamos, mesmo que seja algo imperceptível como a loja que vivia Maguila o Gorila. O plot principal envolve 4 propriedades diferentes da Hanna-Barbera, seria imbecil fazer isso e não jogar os easter eggs que acabam funcionando como estabelecimento de mundo.

Mas o problema é que esse filme não parece querer contar uma história, e sim criar um Universo Cinemático HB.

Porque TODO MUNDO quer fazer isso agora. De novo. O que é ok, sabe, é o que se fazia nos cinemas antigamente com os monstros da Universal e Andy Hardy, por exemplo. Mas saibam fazer direito, senão vão acabar que nem o Dark Universe ou a Liga da Justiça.

RUNNING IN THE 90'S
Marvel conseguiu fazer essa estratégia por jogar pequenas pistas e aos poucos ir criando empolgação pra um universo compartilhado, algo que já existia nos quadrinhos e todo fã se perguntava se seria possível acontecer nos cinemas.

Dark Universe tentou fazer a mesma coisa, só que com um filme ruim. Liga da Justiça tentou começar com os elementos certos, mas com um filme ruim e um erro de timming tão grande quanto da Princesa e o Sapo, e depois tentou correr atrás do prejuízo e tá tentando até hoje.

Esse filme soa menos "ok, bora fazer uma carta de amor aos desenhos que crescemos assistindo" e mais "faz um filme de Scooby-Doo com outros personagens redesenhados, qualquer coisa já tem os modelos pronto né, bora ver como o público reage".
Nos créditos tem mais coisa, incluindo Dick Vigarista fugindo da prisão e pôsteres da Corrida Maluca na parede, então... é.


Outro fator que atrapalha (ao menos na dublagem original) é a troca de dubladores clássicos por celebridades, porque aparentemente esse filme queria ser diferente dos outros direto pra vídeo que usavam um elenco semi-fixo há eras. O que não seria problema se eles fossem bons dubladores, mas não é o caso aqui.

Ou isso ou eles não tiveram uma boa direção.

Salsicha soa menos agudo do que deveria, e acaba soando mais realista. O que acaba sendo necessário em alguns momentos, mas se em todo o tempo ele soa assim, quando chega no momento que ele precisa ser emotivo, acaba não tendo o mesmo impacto. Amanda Seyfried como Daphne soa... ok; Zac Efron como Fred... Nyeeeeh. No papel é ok, mas alguma coisa soa meio off, que eu não sei exatamente o que é. Mas no geral, não me incomodou.

Mark Wahlberg (ou seja lá como se escreva o nome dele) é massa como super herói egocêntrico e retardado, mas que usa isso como fachada pra esconder um medo de nunca ser como o próprio pai. Claro, o arco do personagem é resolvido de uma forma rápida e sem recompensa, mas ele atua bem. Also, o dublador do Bionicão é aquele asiático que virou meme. Ele faz um bom trabalho, assim como a Dee Dee Williams, que fez a Darling no remake de Dama e o Vagabundo. Esse trio de heróis na real faz personagens praticamente novos, então é mais fácil do que o resto do elenco.


O elenco criança também é ok, legal que pegaram crianças de verdade, mas com histórico de atuação. A Daphne piveta foi dublada pela guria loirinha que aparece às vezes em Fuller House; Fred foi dublado por um moleque que segundo o IMDB apareceu em Tomorrowland mas eu não consigo me lembrar e não quero ter que rever aquela desgraça; Salsicha, que é o que tem mais falas e exige uma capacidade dramática maior, é dublado pelo moleque de Young Sheldon, que interpreta Young Sheldon.

Era parte do nome dele? Que nem Little Archie em Little Archie?

Agora, a pior performance, tanto adulta quanto criança, é da Velma. O que é estranho, porque ambas atrizes são talentosas. Digo, a Velma adulta foi dublada pela Gina Rodriguez, que apareceu em... Diário de uma Futura Presidente e... Carmen Sandiego...

...ok eu não conheço a filmografia dela, mas dá pra notar que ela sabe atuar, mas a Velma dela sempre soa off. Mais off que o Fred de Zac Efron, na real, como se ela tivesse sempe lendo um teleprompter.

A Velma piveta tem um problema ainda maior que eu acho que é técnico: a voz dela soa abafada, baixa, distante, e a entrega da fala é quase monótona. Sabe quem dublou ela? Ariana Greenblatt! "Quem?" A GAMORRA PIRRALHA DE VINGADORES!

É!


Minha teoria é que ela foi a última a dublar suas falas (até porque ela é a que tinha menos falas, até onde eu lembro), e os produtores queriam acabar logo com a fase de dublagem pra botar o filme de volta na produção. Daí não trataram direito o áudio dela, nem tiveram muito tempo pra corrigir a performance.

A pior parte é que ainda é melhor que Luciano Huck como Flynn Rider.


A coisa mais memorável e brilhante desse filme talvez seja o design de produção. A animação é fantástica, os modelos são incrivelmente bem construídos, riggados e animados, e depois daquelas catástrofes que foram os designs recentes de Scooby-Doo, esse filme é colírio pros olhos.

De fato, designs de remakes recentes no geral tem sido uma desgraça, não é só Scooby-Doo que parece Family Guy, é também She-Ra Tumblr e Thundercats desenhado pelo filho de 2 anos do produtor.

Esse filme não me faz querer arrancar os olhos e bater a cabeça na parede até conseguir recitar Tchuim Tchuim Tchum Claim em latim.
Eu já tou no caminho pra aprender Let it Go em Latim, no entanto.


Scoob! é um filme muito meh, mas provavelmente é um dos melhores filmes de Scooby-Doo que eu já vi. O que... não quer dizer muito. É estranho eles abandonarem a fórmula clássica de ter um mistério, mas tendo em vista o plot que temos, é até meio refrescante não termos MAIS um mistério.

Se fosse pra fazer um top 3, eu botaria Zombie Island, Ghoul School, e talvez empate Monstros à Solta com Scoob!. Assim como o live-action, ele parece ter ALGUMA paixão pelos personagens e pelo legado, mas bullshit coroporativista entrou no meio.

Isso porque eu não sei se John Cena tornaria Scooby-Doo melhor.

...hm.

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Tá, toma o link pra tradução em latim de Let it Go.

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