O Amor Encontra Andy Hardy (Love Finds Andy Hardy, 1938)


Eu vou trapacear hoje um pouco e não vou falar de um filme sobre Natal, mas que se passa durante o mesmo. Existem outros filmes assim e algum dia eu vou fazer uma lista, mas eu realmente tava curioso em ver um filme do Andy Hardy, não só por ser de uma época totalmente diferente da nossa, mas também por ter Judy Garland antes de Mágico de Oz.

E porque os filmes do Andy Hardy influenciaram MUITO os quadrinhos do Archie.
E porque eu prometi no artigo do especial de Natal de Full House. Rooney também apareceu em outros filmes que eu mencionei no blog, mas vocês são espertos, conseguem achar sozinhos.

Então, sem mais delongas, avante!



Antes de explicar o filme, é necessário que se faça um nivelamento cultural. Nos anos 30 e 40 não existia televisão, a única maneira de ver filmes e desenhos era saindo de casa e pagando uma entrada em algum cinema local. Era o único meio do pessoal da época se divertir com audiovisual e até se informar com os curtas jornalísticos que passavam entre uma coisa e outra.

O público da época tava acostumado com o vaudeville, que eram basicamente show de variedades, tendo atos cômicos, canto, dança, e Gertie a Dinossaura.

Caso você tenha visto esse curta da Gertie e não tenha achado lá essas coisas... você tá errado, o curta é uma obra de arte feita por um cara só e é ridiculamente bem feito do ponto de vista técnico. Mas além disso, era também um ato ao vivo, onde um cara ficava dando ordens pra Gertie e interagindo com ela. Assista esse vídeo pra ter uma idéia melhor de como funcionava a rotina.



Andy Hardy é uma série de filmes que começou adaptando uma peça da época, mas fez tanto sucesso que ganhou uma pancada de sequência, e foi o caminho dos tijolos amarelos pro estrelato de Mickey Rooney, Judy Garland e outros jovens.

Sim, jogo de palavras 120% intencional.

Enfim, nesse filme, vemos Andy tentando completar dinheiro pra pagar o carro que acabara de comprar. Seu amigo lhe oferece 8 dólares, exatamente o que lhe falta, em troca de fazer companhia à sua garota enquanto ele viaja. A garota do amigo se chama Cynthia, e Andy aceita o acordo, aproveitando que sua garota, Polly, também foi visitar os parentes no Natal e ele se viu sozinho durante a data festiva.


Mas no meio disso tudo, a jovem Betsy Booth visita a sua avó, vizinha de Andy. Betsy é interpretada por Judy Garland, mas ainda assim não é suficiente pra atrair Andy, e ela é LOUCA por ele.

QUE RAIO, ANDY! A JUDY GARLAND TÁ TE DANDO BOLA E TU NEM TCHUM? Eu sei, ela ainda não alcançou o estrelato com Mágico de Oz ou Meet Me in St. Louis, mas ela tem potencial e gosta de ti mesmo com tu sendo um canalhinha.

...já já debateremos isso.


Se tu já leu um quadrinho antigo do Archie, sabe mais ou menos o que encontrar aqui. E caso não tenha lido, SEU SUÍNO INCULTO! VÁ LER QUADRINHOS DA ARCHIE, é tipo turma da Tina só que com um universo maior e mais interessante. Eu escrevi um artigo te guiando por onde começar, então não tem desculpa.

O filme é um slice of life contando as trapalhadas e desventuras de Andy tentando resolver sua vida com 2 garotas enquanto ignora a terceira perfeitinha. A diferença é que Archie não deixava passar ninguém, mas divago. O lance principal dos filmes parece ser os quid pro quos e confusões causadas por isso.
Cê sabe a rotina: o cara marca encontro com a guria mas lembra que tem encontro com outra guria ao mesmo tempo e fica tentando atender aos dois compromissos, levantando suspeitas das moças que acabam deixando ele no final.

É uma rotina que já foi feita em Archie, Kenan e Kel, Caras de Pau, e continua tão atemporal e engraçada como nos anos 30. O problema é que esse filme em particular não faz nada de especialmente engraçado com os plotpoins.
Talvez pela técnica narrativa não ter sido tão desenvolvida.


Nenhuma situação é exatamente exagerada, é tudo muito básico e só vai pegar gás lá pro terceiro ato quando Judy tenta manipular a situação pra que Andy saia com ela pro baile de Natal. Mas até lá... é um filme divertido de ver com situações divertidas de se acompanhar. Tudo é muito idealizado e utópico, mas era assim que se fazia entretenimento na época.

O que se via nas histórias não era tanto a realidade (pra isso existiam os curtas jornalístico que eu mencionei lá em cima), mas interpretações do dia-a-dia que deviam servir mais como um norte moral, mesmo que mostrassem personagens com características reprováveis. Que é o caso aqui.

Eu já mencionei que Andy Hardy toma atitudes desprezíveis pros padrões de hoje e até pra época, já que as meninas não reagem bem quando descobrem toda a arrumação que Andy fez. Algumas resenhas que eu vi no IMDB apontavam que esse comportamento do Andy o tornava um personagem difícil de gostar, mas eu não consigo ver assim. Consigo entender daonde vem esse desgosto, mas eu encaro de outra forma.


Embora sim, as atitudes de Andy sejam detestáveis, a dinâmica de maturidade da época era um pouco... zoada. Jovens da idade dele já queriam dirigir e até trabalhavam, mas ainda conservavam atitudes e costumes infantis, ao contrário de hoje. Pra eles, namoro era uma brincadeira, nada sério.

...não que hoje seja diferente, a mesma falta de maturidade/vergonha na cara que havia naquele tempo existe hoje, mas a mídia na época era algo mais utópica e inocente do que hoje. Divago. Meu ponto é que Andy não tem total consciência de seus atos, e quando realmente se mete em mais furadas do que deveria, pede ajuda a seu pai.

O personagem parece ser mais um conto preventivo do que um exemplo a ser vivido, e ele aparentemente aprende a lição.
...é complicado afirmar isso porque no final das contas, ele ainda consegue Polly de volta, e ainda sai com Judy, que acaba sendo um encontro melhor do que ele imaginava. Então... yipee?


Also, é meio bizarro Judy Garland com 15 anos interpretando uma menina de 12, quando Judy claramente já tinha um corpo BEM mais avançado pra sua idade... De fato, ela teve que usar um corpete apertadíssimo no ano seguinte pra interpretar Dorothy, e aqui ela parece mais madura que as meninas que Andy se envolve. Tanto no corpo como na voz.

Ainda assim, funciona a favor dela, porque ela é uma menina jovem que almeja ser crescida, como ela descreve na belíssima música In-Between, onde ela despeja suas frustrações de querer atividades de meninas mais velhas, mas ainda estar presa aos costumes infantis que lhe impõem.


Eu sei lá, é um filme gostosinho de ver. É divertido, é relaxante, brega do jeito certo, e as atuações são fantásticas, tanto as mais caricatas como as mais sérias como o juiz pai do Andy. Eu adoro esse personagem, ele contrasta bem com o resto do tom, mas ainda dá umas tiradas engraçadas.

Se tiver curioso, vale a pena ver, porque é um pedaço de história interessante do cinema.


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Sério, já viu o preço do salmão? Pois é.


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