A Dama e o Vagabundo (2019)
Disney+ lançou, e junto dele uma pancada de coisa legal, nova e antiga. Das antigas temos todas as animações do estúdio principal, da Pixar, os live-actions, Muppets (menos Take Manhattam, From Space, Muppet Show, Muppets Tonight e Muppet Babies original), Touchstone, Fox, séries animadas e live-actions, filmes da Marvel, desenhos da Marvel tanto novos quanto antigos (Deus abençoe, agora podemos ver Homem-Aranha e Seus Amigos), Simpsons, Lucasfilm, e literalmente entretenimento o suficiente pra que tu passe o resto da vida só no D+.
Sério, dá uma olhada na página do JustWatch, é lindo demais. E finalmente eu sei quem reteve os direitos sobre Willow.
E ainda assim, eu ainda vi gente dizer "não ok eu vou esperar eles colocarem mais coisa e aí talvez eu faça o teste da semana grátis" SEU ASNO COM TENDINITE NO OLHO, O QUE INFERNOS CONGELANTES TU ESPERA QUE O APLICATIVO FAÇA? TRANSFORME O TEU APARELHO NUM CIBORGUE QUE CANTA E DANÇA "HELLO MY BABY"???
...
Enfim, eles também tão fazendo coisas exclusivas do serviço, as quais eu comentarei num futuro bem próximo.
E vamos iniciar com o remake de A Dama e o Vagabundo.
Se tu assistiu o original ou leu o artigo da retrospectiva Disney, sabe qual é a história básica aqui. Se não viu, não vai ter problema em entender, eu acho. Digo, é um filme de cachorro, não deveria ser o próximo Inception.
A história conta sobre Lady, uma cachorrinha que é adotada por um casal e logo se torna a graça da casa. Mas tudo vira do avesso quando o casal tem um bebê, e ao sair pra visitar parentes, deixam Lady sozinha com a tia da mulher.
Que, eu devo repetir, é o diabo em forma de gente e anda com dois capetas em forma de gatos.
Então, depois de os gatos arruinarem a sala e botarem a culpa em Lady, ela acaba entrando em uma aventura pelas ruas junto do cão vagabundo.
Blábláblá, espaguete, esteriótipos italianos, romance, lucros.
Assim como outros remakes live-action do estúdio (e não se enganem: o longa é produzido pela Walt Disney Pictures como todos os outros), Dama e o Vagabundo é basicamente uma recontagem momento-a-momento do filme original com alguns twists pra dizer "não, é algo original ok não é o mesmo filme". O que não é necessariamente algo ruim.
Digo, claro, Hermione e Zé Colméia é uma desgraça ambiental e Rei Leon é um imenso dedo do meio à toda a raça humana; mas Aladdin conseguiu ser uma adaptação fiel de suas fontes originais (longa animado, Broadway e até Ladrão de Bagdá), e Cinderela conseguiu... existir. Teve Jungle Book também que... Tentou.
Geralmente quando os filmes tentam ao menos fazer algo diferente, é ao menos respeitável, por pior que seja o resultado. Alice do Burton e Malévola são alguns desses filmes: um indo pela rota Return to Oz com esteróides narnianos e o outro por tentar ser Wicked. Claro que os dois foram um fracasso monumental, mas Pete's Dragon conseguiu fazer a fórmula funcionar.
Sério, eu ainda vou trazer uma análise profunda desse filme, porque é simplesmente surreal que ele recontou o filme original, batida por batida, e ainda conseguiu ser 100% original.
Dama e o Vagabundo vai mais pelo lado de Aladdin, que reconta a mesma história, com as mesmas batidas narrativas, mas adaptando a história pras limitações da mídia. Ao invés de simplesmente esbarrar nas limitações e torcer que o público não perceba (tipo o que Favreau fez com Hamlet Furry), o filme tenta usar elas a seu favor o máximo que pode.
No desenho, é totalmente normal que o foco maior seja nos cachorros, que são essencialmente manipuláveis sem que a PETA bata na porta do Mickey com um aríete. Aqui, os caras tem que se virar pra treinar os animais da melhor forma possível e usar trucagens de câmera, edição e animação quando necessário. A mistura disso tudo é impressionante, e eles conseguem realmente enganar teu olho em cenas de ação como a fuga na estação de trens e na luta contra o rato.
Outro ponto aceitável no desenho é o papel diminuto dos humanos. O longa original dava mais foco aos animais, e era essencialmente um filme do ponto de vista deles. Não víamos tanto o rosto da maioria dos humanos, e funcionava porque eles eram personagens secundários. Aqui, entretanto, não funcionaria tão bem, já que essa técnica é literalmente cartunesca, e soaria fora de lugar num remake com estética realista.
O casal Querido tem mais espaço no filme, mais falas de diálogo, e até mais ação e decisão. Podemos ver melhor suas reações, como agem, como pensam, contam piadas, e podemos simpatizar mais com eles durante o filme. Algumas mudanças bem-vindas como eles resgatarem Lady do canil mostram personagens mais preocupados com a protagonista e mais envolvidos na trama. Jim inclusive odeia a tia de Querida e só por isso já o torna um bom rapaz.
O cara da carrocinha também tem um papel expandido, bem como uma adição de mais um vilão humano. O que só agora me fez perceber como esse filme tem uma rruma de vilão. É a tia da Querida, o cara da carrocinha, o cara dos trens, os gatos do inferno, o rato... Se der uma forma de transformação humana pros cachorros e houver um complô dos humanos que odieam animais, já dá pra montar um Super Sentai.
Enfim, o cara da carrocinha e o casal tem um papel fundamental nos dois clímaxes que esse filme tem, que são argumentalmente iguais ao longa original, mas com uma fluidez ligeiramente melhor. Digo, o filme original flui bem daquele jeito, mas como aqui a estética é diferente, essa interpretação soa melhor.
O design do filme original é muito artístico, definitivamente brincando mais com as cores, contrastes, chiaoescuro, e no geral um design de produção mais minimalista e artístico (típico das artes conceituais de Mary Blair), que é bonito da sua própria forma. O remake tenta criar um mundo mais detalhado, com mais vida, mais gente, mais lugares.
É como ler o conto da Pequena Sereia e ver o filme da Disney, ele adapta os pontos principais, conserta o final, e no geral dá mais vida ao mundo ao redor da protagonista.
O conto original funciona bem da sua maneira (exceto o final), mas quando se traduz pra uma mídia audiovisual, mudanças tem que ser feitas. Raios, vê outras versões da mesma história, vê como eles tentam dar um toque próprio na história. Claro, nem tudo faz sentido nessas histórias (tipo o gato falante), mas... É.
O que não quer dizer que o design de produção também não tenha suas falhas. Talvez seja algum problema comigo, mas eu não consigo gostar desse visual carregado em detalhes. Desde os trailers de Hermione e Zé Colméia eu sinto isso, mas pra mim é algo que se torna mais distrativo do que tecnicamente fascinante. Provavelmente tem a ver com o tipo de câmera que usam, mas é mais cata-piolhagem minha.
O que não é cata-piolhagem é a animação 3D nos rostos dos animais, que... é muito 8 ou 80. Ou maquiagem pesada. De longe é bom, o efeito funciona e consegue te enganar e cobrir as imperfeições, mas em closes, o negócio fica bizarro muito fácil. Algumas expressões sutis são fáceis de engolir, mas quando exageram acabam ficando fora de tom. Tem momentos que até a orelha da Lady parece balançar pro lado errado de maneira totalmente não-natural, é meio bizonho.
Não dá pra perceber nas imagens estáticas, mas se tu ver o trailer dá pra ter uma idéia.
Mas, na maior parte do tempo, eu tou surpreso que funciona bem, não parece um efeito tão barato como o esperado. Pelos trailers parecia ser algo meio Dr. Dolittle do Eddie Murphy, o que nos fazia implorar que o filme fosse mais no estilo de Homeward Bound.
Mas ao menos é um efeito que dá pra engolir por boa parte do tempo e é até acostumável. Nunca chega ao ponto do Uncanny Valley ou (Deus nos proteja), Lying King Valley.
Não, eu não achei um nome pra zoar o remake de Rei Leão, se tiver sugestão, pode mandar.
A única CG que fica realmente bizarrona são os gatos da tia do mal lá. Eles parecem ter saído diretamente de Como Cães e Gatos, e definitivamente não se misturam bem no design do filme. O que é compreensível, as coisas que eles fazem na destruição são proezas que nenhum bicho treinado conseguiria fazer. De fato, só de conseguirem treinar Lady pra tais cenas é um feito considerável.
Also, ao invés de cantarem a polemicamente sensível Siamese Cat Song, eles cantam uma música totalmente original em jazz, com letras descrevendo ainda mais a destruição da sala. E sim, é sensacional.
Infelizmente, se perde um pouco do fator fofura que o filme original tinha. Com animais 100% no controle de animadores, era fácil fazer cenas adoráveis e identificáveis. Com os animais reais é preciso alguma criatividade pra fazer essas cenas sem a PETA ficar enchendo o saco, mas fãs de animais vão ter algo que gostar aqui.
Outra coisa bem-vinda ao filme é a comédia pontual. Nada que vá te fazer rolar de rir, mas são momentos legitimamente engraçados e inesperados, que vão pelo menos te arrancar um risinho genuíno.
Agora, por mais que eu não goste tanto do estilo ultra-carregado da fotografia e talvez seja mais uma questão técnica do que estética, eu gosto do fato de terem localizado a história em Nova Orleans, o que dá a desculpa dos produtores de botar um elenco negro no meio (mesmo que ainda seja historicamente inacurado; mas se funciona pra Princesa e o Sapo, por Oz, vai funcionar aqui) e de incluir mais jazz no filme.
Digo, o original tinha Peggy Lee na produção, Jazz é uma parte existente no original, porque não expandir isso com estilo? Tem mais cenas onde o jazz é uma parte mais notável da história, e ajuda a tornar um filme mais leve.
Mais filmes deveriam ter jazz na trilha sonora. Aposto como Caldeirão Mágico seria bem melhor se o bardo improvisasse vez ou outra.
Só eu acho isso?
...ok.
O papel dos personagens também foi levemente modificado, mas foi mais exclusão de subplot desnecessário pra essa versão. No original, Vagabundo era mais mulherengo (cadelento?), mas aqui ele toma ares mais dramáticos do solitário abandonado. No original havia indícios disso, mas aqui é bem mais explorado e podemos simpatizar mais com sua luta.
Lady continua sendo relativamente mimada sem ser esnobe, mas agora tem uns ares mais cômicos, ela consegue se divertir mais com algumas situações ao invés de ser constantemente assustada com o mundo exterior. Ela se esforça mais pra compreender as coisas ao seu redor e provar pra si mesma que é capaz de se virar na rua, o que... claro, a obriga a abandonar a idéia logo, mas ela tenta ao menos. Faz parte do instinto canino dela, eu acho?
Embora não consiga me dar as mesmas emoções do original (grande parte foi por terem diminuído o papel da tia e dos gatos, o que diminui em grande parte a catarse do primeiro clímax), Dama e o Vagabundo 2019 é uma boa adaptação do filme. Consegue recontar a mesma história com surpresas o suficiente e brincar ao redor das limitações.
É um filme que consegue coexistir com o original, sem manchar sua memória ou nos fazer pensar "no original isso era bem melhor". A narrativa toma ares próprios e sim, eu vou de novo comparar com produções da Broadway que fazem a exata mesma coisa. Vocês reclamam porque nunca viram a versão teatral de Aladdin, que consegue usar as mesmas batidas narrativas e ainda botar TANTA coisa nova e reaproveitar coisa cortada do longa original que é fantástico. Corcunda de Notre Dame também. Se lascar vocês, bando de suínos incultos.
Assistam o remake de Dama e o Vagabundo e as versões teatrais de Aladdin e Corcunda de Notre Dame.
Mas antes vejam essa versão em jazz dos gatos siameses que eu achei por acaso enquanto pesquisava pra esse artigo:
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Então... Uh... Eu não tenho nada de Dama e o Vagabundo na Amazon que possa ser interessante... Digo, tem o DVD, mas eu não sei exatamente o que vem mais além do filme. Ainda assim se tu gosta de colecionar o filme físico por medo da fragilidade do streaming, é uma boa.
Mas hoje eu descobri que tem pelúcia de Tsum Tsum incrivelmente barata. Eu comprei minha Alice média por uns 80 conto na época, agora tá de 25 e tem alguns personagens como Mickey, Minnie, Pooh, Elsa, Alice, Bizonho, Marie.
Dá uma olhada aí que talvez tu se interesse, sei lá. Natal tá chegando é ótimo pra presentear uma parada dessas.
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