[Mês do Dr. Seuss] Green Eggs and Ham - Segunda Temporada


Eu poderia ter escrito sobre a segunda temporada de Green Eggs and Ham antes, mas só foi estrear em Abril do ano passado, então cá estou eu de novo.
A primeira temporada superou todas as minhas expectativas, e você pode ler sobre ela aqui.

O que poderíamos fazer com a segunda temporada? Ora raios, fechando a única ponta solta que sobrou da primeira temporada: porque Sam gosta tanto de Ovos Verdes com Presunto? Seria simplesmente o sabor estranhamente exótico? Memórias de infância porque sua mãe os fazia? Onde estará sua mãe? E como a gente coloca o outro livro de Dr. Seuss envolvendo comida nessa segunda temporada?


É! Vamo lá.



Na semana passada como bem recordam, deixamos Sam, o I-Am e Guy Am-I numa lanchonete, quando Sam descobre que os ovos que ele está comendo são exatamente iguais aos que ele comia quando pirralho e sua mãe fazia.
Querendo retornar aos bons e velhos tempos quando a mamãe lhe ninava até dormir, mas agora está estressado, Sam vai atrás da origem dos ovos e leva Guy junto dele, porque é claro que sim.
E sim essa música toca nessa temporada.

Na real, Guy tem um plot próprio, que envolve sua loja de invenções pegando fogo e EB, agora sua afilhada, querendo ir numa aventura. Eles rastreiam a origem dos ovos pra uma cidadezinha, onde eles encontram a casa de infância de Sam, mas nenhum sinal de sua mãe.

Qualquer um de nós estaria, desanimado, triste, desgostoso com a vida, MAS NÃO ESTE HOMEM! NÃO SAM I-AM!

Até porque ele esbarra na sua mãe durante o retorno pra casa.

E descobre que sua mãe é uma espiã internacional.

…claro, a primeira temporada teve ninjas, porque não espiões?


A missão de Pam, mãe de Sam, é entregar o Moo-Lacka-Moo, uma arma com potencial destrutivo absurdo, ao reino de Zookia. Ou Lookia, eu sempre me confundo com os dois, o que é interessante, caso cê conheça a história que essa temporada se baseia.

Nisso, o grupo acaba se dividindo algumas vezes, porque Guy não confia em Pam e acredita que ela abandonará Sam novamente, e toda a história de proteger o Moo-Lacka-Moo durante uma guerra civil em andamento entre dois reinos desconhecidos dos nossos protagonistas é realmente suspeito.
Isso porque eles acabaram de sair de um lugar onde fazer o gesto de aprovação da Bloodline poderia lhe levar a cadeia, ou sugerir que seu tio sonega impostos.
Esse é o tipo de humor adulto que eu gosto de ver em desenho pra criança.



E também, Guy acaba sento contratado pelo reino de Lookia (ou Zookia, não lembro) pra ser o inventor oficial do governo, enquanto EB se envolve com um guri do lado oposto (que, obviamente, sendo uma adaptação moderna de Dr. Seuss, tem que parecer emo, tal qual em Lorax e Horton Hears a Who)
Os reinos de Zookia e Lookia se odeiam mortalmente, e tem impregnado em suas culturas conceitos sobre o outro lado, especialmente no que diz respeito aos parques aquáticos do outro, que não passam de uma poça de lama. Dentre uma dessas diferenças, está a maneira que eles passam a manteiga na torrada.

PIMBA! EXATAMENTE!

ADAPTAMOS THE BUTTLER BATTLE BOOK! DO ABSOLUTO NADA! NA SUA CARA!


Quando eu liguei os pontos, fiquei fascinado. Digo, eu não fazia idéia se eles iriam querer continuar com uma história original baseada só em Green Eggs and Ham, mas não esperava que fossem botar outro livro no meio. O que faz sentido, ambos tratam sobre comida do café da manhã
Mas o mais fascinante é que todas as questões políticas foram tratadas de uma maneira absolutamente simples e genérica, sem nenhum relacionamento com o nosso mundo real. É o ideal, qualquer estúdio mequetrefe faria uma analogia direta à guerra da Ucrânia, mas não eles.

Tá, tem um personagem que parece o Trump na primeira temporada, mas até isso foi downplayed, e não passa de uma semelhança física.


Ainda assim, tivemos algumas coisas bem específicas, como propagandas baseadas em charges políticas da época da Guerra Fria ou Segunda Guerra (algo que não é estranho pro velho Geisel).

O meu maior medo é a forma que eles adaptaram o final do livro. Assim como O Lorax, o livro tem um final em aberto, que vem escalando onde cada lado apresentava uma arma mais potente do que a outra, até chegar ao ponto de ter uma bolinha que poderia destruir os dois reinos de uma vez.


O livro foi escrito durante a Guerra Fria (obviamente) e expressa os temores comuns da época quanto à bomba atômica (obviamente). A última cena do livro mostra os generais de cada lado ameaçando soltar a bolinha destruidora atômica no lado do outro, com o texto se perguntando “quem vai soltar primeiro”?

É um livro muito inteligente, mas ao mesmo tempo é lúdico e trata de questões sérias com uma leveza fora do normal. No final da vida, Seuss começou a escrever de uma maneira meio filosófica, até meio melancólica, ou pelo menos com temas ao redor disso. Butter Battle Book veio logo antes de um livro sobre a terceira idade, baseado nas próprias experiências sendo um velho que começou a frequentar hospitais por necessidade.

A animação da Netflix, milagrosamente, cumpre o mesmo papel com a mesma elegância e diversão que o livro traz.
Claro, só que com uma narrativa moderna, que segue o mesmo padrão da primeira temporada, mas que ainda é legitimamente bom e consegue funcionar.


Assim como o caso da Chickenraffe, também há uma trama a ser desenrolada, mas ao contrário da primeira temporada, não há o twist de revelar um vilão específico. Quem conhece a história (ou tem um mínimo de senso comum) já consegue ver todo o desenrolar maior dos plot points, porque não há um vilão específico nesse caso.

Ainda assim, o desenho consegue te manter emocionalmente investido. O arco narrativo de cada personagem é interessante e cada um vai se desenrolando e se misturando de uma maneira muito natural e engajante. A história da Pam abandonar Sam espelha a história de Guy que se vê numa situação onde ele vai ter que ser o pai de EB, e de como os dois se vêem em lados opostos de um conflito em andamento sobre a maneira certa de comer pão.

Perdão, torrada. No livro é pão.


A série mantém o mesmo senso de humor divertido que a primeira temporada nos acostumou. Muito foco em trocadilhos, diálogos rápidos e personalidades engraçadas e divertidas. O design de produção só reforça esse senso de diversão inocente e inteligente, seguindo ainda o traço do velho Geisel o levando a bugigangas absurdas. Coisas como, sei lá, ter uma sujeira na mesa, e ao invés do personagem usar a mão pra limpar, ele aperta o botão de uma máquina. Ok, vai ser um aspirador então?

Não, a máquina tem uma mãozinha com luva, e essa mãozinha é que limpa a sujeira.

Pequenos toques desses estão espalhados pelos 13 episódios, e a direção do roteiro ampara esse mundo surrealmente criativo. Existe uma conspiração em torno da batalha do pão com manteiga e eu não me atrevo a estragar o final, que é tão absurdo mas ao mesmo tempo faz tanto sentido que a única reação é gargalhar.

E há aquele mesmo estilo de piada que adultos vão entender, mas que pros pequenos não faz diferença, ou é o primeiro contato deles com o que é referenciado. A abertura é uma paródia de filmes de espionagem dos anos 60, e é fantástico. Até me deu vontade de terminar No One Lives Forever, por falar nisso.
E ainda tem algumas piadas dignas de Mel Brooks, ou os filmes de ZAZ, como essa da mão batendo na mesa lá em cima, ou de quando Pam ganha uma medalha de honra ao mérito como melhor espiã.


Raios! Até me lembrou de Freddie the Frog!

E melhor de tudo, é uma série com um final claro e decisivo. Embora seja absurdamente boa em todos os aspectos possíveis, também é muito cara, e a Netflix não que mais gastar tanto com animação, que por si só é um processo longo e caro, mas a forma que Green Eggs foi animado (frame a frame) torna um ponto fora da curva.

E provavelmente a Warner Bros Animation não deve estar com uma boa morale no momento. Eles talvez não tenham interesse de produzir coisas pros outros, quando a própria plataforma e companhia passam por momentos turbulentos e delicados.

Ainda assim, é provavelmente uma das melhores coisas que a Warner Animation fez nos último anos, bem como a Netflix, que tem o péssimo hábito de cancelar produções legitimamente boas e caprichadas.

Sim, ainda não me conformei com o cancelamento de Age of Resistance, me processe.



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