As Aventuras de Huguinho, o Bebê Gigante (Baby Huey's Great Easter Adventure,1998)
Nos anos 70, era difícil ser uma editora de quadrinhos. Por um lado, todo mundo tava no mesmo barco, quadrinho era coisa pra crianças e nerds (os nerds originais, não o nerd pop), e não era estranho que algumas delas arriscassem algo diferente.
Adaptações não eram estranhas à mídia, que desde os anos 30 tinham uma ou outra coisa em película, como os cineseriados do Superman e do Batman, o desenho dos Superamigos, um filme do Doutor Estranho onde ele parece o Seu Madruga imitando Richard Pryor, e os desenhos da Marvel, que tinham o Lulu Santos cantando a abertura do Hulk.
Ok que ele trocou “querido” por “ferido” da música, mas dá pra perdoar.
A Harvey Comics provavelmente viu suas concorrentes entrando no ramo de filmes, e quis um pedacinho dessa torta. Cê não deve conhecer de nome, mas é a mesma editora que publicava Riquinho e Gasparzinho.
Agora te acendeu uma luz.
Eles tinham um plano de fazer 12 filmes, mas o longa-metragem de Baby Huey (ou Bebezão, ou Huguinho, O Bebê Gigante, como é conhecido na terra de Seu Lunga) fez o plano inteiro ir por água abaixo, causando pelo menos 250 mil dólares de prejuízo a curto, e o dobro a longo prazo.
Porque raios isso aconteceu? Como ainda existem adaptações Harvey por aí?
Huey é parente do Garibaldo ou é o sobrinho do Pato Donald que comeu whey demais?
Os quadrinhos do Baby Huey são bastante simples de compreender, como a maioria dos quadrinhos de comédia que existem. E não poderia ser diferente, é uma mídia rápida de consumir, então praticamente todos os conceitos são maiores-que-a-vida, pelo menos se tratando de gibis quinzenais. Imaginem o Chicken Little, mas não o do filme, o da fábula mesmo, só que ao invés de ser pequeno e fraco, ele tem a mentalidade de um bebê, é gigante, e superforte por motivo nenhum aparente.
Este é Baby Huey.
Também conhecido como Gansola quando foi publicado no Brasil.
O que é estranho, porque ele é um pato, supostamente. Lhe falta talvez a protuberância da cauda.
Nos quadrinhos, ele tem três primos gêmeos que são legalmente distintos de Huguinho, Zezinho e Luisinho, e ele sempre de alguma maneira, sem notar, consegue escapar de ser devorado por uma raposa faminta.
Como dá pra notar, não é nenhuma ciência de foguete.
Porém, em um live-action, certas mudanças precisam ser feitas, e é ok. A história precisa se sentir como existente em outra mídia de maneira que possa coexistir com seu material de origem, desde que carregue o espírito do original. Ou simplesmente acabe fazendo algo totalmente novo a ponto de não precisar usar os quadrinhos como referência mais.
Sim, eu vou usar todas as possibilidades possíveis pra reclamar de Riverdale do CW, é meu trabalho.
Vejamos Riquinho da Warner Bros, que pegou uma propriedade cartunescamente exagerada (como dá pra ver na animação da Hanna-Barbera, que é mais fiel aos quadrinhos) e cortou alguns elementos, como a forma cartunesca que a riqueza era retratada, a empregada-robô, e os altos shenanigans que o moleque mais rico do mundo aprontava.
Isso porque o filme era pra ser ligeiramente mais pautado na realidade, então o luxo era mais… luxuoso e menos colorido, e uma babá robô poderia minar o lance do Riquinho querer ter amigos. Quem precisa de amigos quando se tem uma empregada-robô?
Claro, a versão da Netflix adaptou bem a Irona, mas só porque ela é gata.
Não, eu não vi a série ainda, isso é literalmente tudo que eu sei.
Aqui no caso, seria impraticável um filme inteiro com pessoas usando fantasias de animais falantes. Não por ser esteticamente inviável, mas porque seria absurdamente CARO. A Harvey já havia licenciado seus personagens antes pra estúdios como Hanna-Barbera, Paramount, e… um filme do Jerry Lewis, mas nada grande assim.
Foi nos anos 90, com o filme do Riquinho pela Warner e Gasparzinho pela Amblin/Universal (que tiveram faturamentos absurdos) que em 98, auxiliados por um consultor de marketing, a Harvey Comics tomou a decisão de fazer 12 filmes baseados em seus personagens.
Seriam filmes direto-pra-vídeo, porque é mais barato, e foram comissionados à Haim Saban, aquele mesmo, criador de Power Rangers, Beetleborgs, Guerreiros Místicos de Tir na Nog, Masked Rider e o excelente desenho dos New Archies. Junto com a Fox Kids, eles iriam produzir Gasparzinho Encontra Wendy e O Desejo de Natal do Riquinho.
E sim, o filme de Natal do Riquinho tá disponível no Disney+ e eu expliquei essa marmota toda no artigo sobre essa bomba.
Mas aparentemente, o filme do Baby Huey foi produzida pela própria Harvey, sem ajuda externa, e ainda assim o filme amargou um prejuízo tamanho que fez com que a Harvey desistisse do plano de 12 filmes.
É, o filme é ruim a nível A Múmia com Tom Cruise tentando lançar o Dark Universe. É tão ruim que o usuário Elias do Filmow ainda tem dúvidas de sua existência.
Quem me dera não existisse, cara.
Ao invés de usar animais antropomórficos, o único animal que temos aqui é o Baby Huey, além do indivíduo que começa a ver esse filme e decide continuar a assistir depois de 10 minutos. O plot envolve um moleque encontrando o Bebezão e adotando-o por motivo nenhum, exceto que não teria história se ele assim não o fizesse.
Enquanto isso, temos um gerente de talento que quer encontrar THE NEXT BIG THING e levar pra fazer show em Las Vegas. Ao passear na pequena cidade de… Smalltown, sei lá, ele encontra Baby Huey e imediatamente tenta ludibriar o pato gigante com mentalidade do twitteiro que reclama de ter perdido o selinho azul de verificado.
O moleque também tem um pai que sempre que tenta consertar alguma coisa, acaba quebrando mais. Sorte a dele ser casado com a Marcia Brady do Brady Bunch, senão eles teriam se separado há muito tempo atrás.
Também tem um professor da escola do moleque (eu não vou lembrar o nome dele, foi mal) que insiste em raptar Baby Huey pra ganhar o Nobel da sociedade de observadores de pássaros ou algum outro prêmio irrelevante similar.
“Observador de pássaros” me passa muito uma energia de “especialista em BBB”. Uma coisa é você estudar, a outra é observar pássaros por hobby, que não é o caso do professor, que faz taxidermia. Então… Sei lá. Eu tentei tirar uma piada desse filme, mas nada é tão fora do lugar a ponto de dar espaço pra fazer piada.
E… ah é, tem Easter Adventure no título, então é um filme de Páscoa… kinda. É curioso como o lore pagão da Páscoa não é tão rico quanto o Natal, então não tem muitos filmes e especiais.
Vá lá, me cite pelo menos 5 filmes de Natal que não envolvem a crucificação e ressurreição de Jesus. Um deles é a Ressurreição de Gavin Stone, mas cê só conheceria se fosse leitor assíduo do blog ou um fã de WWE em estado terminal.
De cabeça, eu consigo lembrar de Hop, que tenta misturar lores Noelísticas com a Páscoa, e Easter Bunny is Coming to Town, que tecnicamente é uma sequel de Santa Claus is Coming to Town. Eu não tenho certeza, mas eu consigo dar um chute muito certeiro e dizer que tem um especial de Páscoa de Peanuts, porque é claro que sim.
E pra variar, esse filme não só não tem absolutamente nada a ver com a Páscoa real, mas o lance de esconder ovos coloridos não vai aparecer no filme até tipo o terceiro ato.
Sim, eles estabelecem desde o começo e em um outro momento aleatório, mostrando as crianças pintando os ovos de Páscoa, mas é isso.
Seria o suficiente pro Scorsese chamar isso de cinema? Talvez.
O que mais impressiona nesse filme é, surpreendentemente, o boneco do Baby Huey. Ok, ainda é um negócio barato que claramente mostra que é barato, ele não tem muita variedade de emoções e faz com que Theodore Rex pareça com Família Dinossauros; mas ainda assim, em alguns momentos eu fui surpreendido positivamente. Tem certos momentos que ele tem mudanças sutis de emoção facial, as bochechas mexem ligeiramente ou algo assim.
Ainda assim, tudo soa meio tronxo nesse filme, especialmente no momento em que Baby Huey começa a cantar depressivamente numa sequência que soa como um YouTuber tirando sarro de Linkin Park.
Eu juro que isso acontece.
E é… É um musical. Às vezes. Tem tipo três músicas que vem do absoluto nada, e parecem estar lá porque algum executivo de meia-idade deve ter ordenado botar música porque “é isso que as crianças gostam I guess”. Baby Huey canta e dança a Dança do Pato ou o equivalente mais genérico possível disso; o vilão canta sobre como ele é bom em ser mau e até justifica sua existência, porque todo herói precisa de um bom vilão.
…e ele cita uma pancada de personagem popular, como o Pernalonga, Kermit, e os Smurfs.
Às vezes de maneiras que não fazem o menor sentido pro argumento dele, mas wathever.
E pera, tem uma reprise da música triste, agora alegre com Audrey.
Que me leva a acreditar que esse filme devia ser o começo do universo cinemático Harvey, porque ele já coloca duas personagens de outros quadrinhos Harvey: Audrey e Lotta.
Se não reconhece os nomes, Audrey e Lotta eram conhecidas no Brasil como Tininha e Bolota, que se me perguntar, Bolota é a melhor adaptação de um nome inglês desde Cinzerella.
Bo(Lotta). Se lascar, é genial.
Logo quando eu vi a guria gorda eu já presumi que ela devia ser alguma personagem iconicamente obesa. Digo, era normal ter crianças gordas em filmes nessa época seguindo o trope do Fat Kid, mas ela parecia ter sido escolhida especificamente pelo peso, mas não seguia tanto o clichê. Como se ela tivesse alguma personalidade além de ser gorda, tipo… sei lá, o Cascão que é o moleque sujo que não toma banho, mas também joga futebol, é companheiro, tem uma personalidade própria.
Audrey a princípio achei que fosse interesse amoroso do protagonista, como era de costume naquela época. Mas não, o que é interessante. Eu não li os quadrinhos da Audrey ou da Lotta, mas eu imagino que elas tenham um universo próprio que seria mais desenvolvido nos filmes, e depois arranjariam o Riquinho pra ser par romântico dela, eventualmente, sei lá.
Porque outro motivo eles dariam as melhores falas pras duas garotas? O protagonista é literalmente um blank slate, não tem absolutamente nada de memorável. Mas eu lembro que a Audrey é meio tomboyzinha, pero no mucho, apenas a quantidade ideal de tomboy. E Lotta é gorda, gosta de comer, mas tem outras coisas além disso na vida, incluindo um bom timming cômico.
Mas aí provavelmente é coisa da atriz Rachel Snow, que realmente teve alguma carreira depois de um tempo, aparecendo até em Lizzie McGuire.
Enquanto isso, Tiffany Taubman, que interpretou Audrey, que legitimamente tem boa presença de cena, canta melhor do que deveria pra um filme direto pra vídeo, e por algum motivo que foge às leis da compreensão humana, parece muito com a Priscilla do Bom Dia e Cia., não teve carreira nenhuma em filmes, sendo Baby Huey’s Easter Adventure seu último filme.
O que é uma pena, ela parecia ter algum potencial e tinha feito uma pancada de coisa antes, até como uma menina das cavernas em um episódio de Família Dinossauro.
O moleque protagonista é que teve uma carreira real, por incrível que pareça. Ele foi o Will em Sky High e tá em Oppenheimer, então eu diria que ele tá ok. O diretor do filme (que também fez a voz do Baby Huey) é um veterano de dublagem e dublou o Booster no filme do Buzz, na série animada e no jogo. Ele também tava em Animal House, Freakazoid, Pequena Sereia 2, e foi o pai do Drake no piloto não exibido de Drake e Josh.
Um dos roteiristas teve seu último trabalho nesse filme, mas ele também escreveu roteiros pra série Adventures in Wonderland, a série que o Disney+ continua se recusando a upar na plataforma, dando espaço pra produções medíocres recentes.
O outro roteirista é mais um veterano de Naional Lampoon’s, escrevendo Férias Frustradas 1, 2, Las Vegas e Animal House. O pai do protagonista também apareceu em filmes da mesma franquia.
O que é bizarro, quem raios contrata galera da National Lampoon’s pra fazer um filme pra crianças? Qual era a idéia? Ser ligeiramente edgy? Num filme do Baby Huey?
Não digo que seria impossível, mas eles tavam tentando criar a marca, então seria inseguro fazer algo mais edgy. Então… what gives?
Eu não faço a menor idéia e talvez não exista ninguém vivo que queira relembrar que esse filme existiu. É ruim, absurdamente ruim. É maçante, é simplório, é doloroso de assistir, mesmo pra uma criança, e olha que eu gostava de Meus Amigos Dinossauros quando moleque.
Aliás, não só esse filme foi dublado e distribuído no Brasil (o que é estranho, não tem registro disso no IMDB), mas eu achei um DVD lacrado desse filme no Mercado Livre.
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