Twisted - A História Não Contada de um Vizier Real



Como alguns sabem, o remake de Aladdin vai estrear daqui a pouco, e claro que eu vou estar lá pra ver e voltarei aqui pra regurgitar minhas opiniões como se eu fosse alguém cuja opinião importa.

Mas enquanto isso, eu pensei em trazer algo relacionado a gênios, já que é um tema que eu gosto, como podem perceber por outros artigos. Exceto que o filme que eu ia comentar é um filme de Natal, então vocês vão ter que esperar até Dezembro. Mas eu lembrei de outra coisa no mesmo tema que eu deixei engavetado um tempo atrás, e resolvi usar agora.

Então hoje vamos dar uma olhada em Twisted: A História Não-Revelada de um Vizir Real.

O filme Xuxa em O Mistério de Feurinha ultrapassou Avatar na primeira semana de exibição em Angola.
Eu descobri essa informação acidentalmente e não sabia o que fazer com ela, então decidi despejar aqui.


Enfim, a forma mais sucinta de descrever o musical é "imagine Malévola se fosse X-rated e ao invés de ser feito pela Disney, é feito por gente que de fato ama a Disney". O espetáculo foi fundado via Kickstarter, mas a produtora já era conhecida pelo musical paródia A Very Potter Musical. Que, como o nome indica, é uma clara sátira de Os Feiticeiros de Waverly Place.

Depois ainda fizeram uma paródia de Star Wars, mas foco, estamos aqui pra falar de Aladdin.

Do Jafar, na verdade, mas cês entenderam.
Eu queria dizer que Twisted pegou carona em Maléfica, mas seria incorreto. A fantasia de alto orçamento e baixo amor de Angelina Jolie estreou em 2014, enquanto o musical de baixo orçamento e alto amor Twisted em 2013. Na real os dois pegaram carona em Wicked, mas eu nunca vi a peça nem li o livro então sei lá quem copiou quem.

A história conta os eventos de Aladin do ponto de vista de Jafar, mostrando-o como um herói injustiçado que só queria o bem da população, mas seus planos são interrompidos por um sultão imbecil com disfunção erétil, uma princesa mimada e tão retardada quanto uma ativista de tumblr, e um ladrão preguiçoso ninfomaníaco e egoísta chamado Aladdin.


E sim, é uma peça pra maiores de 18 anos, o que fica bem claro quando eles fazem uma paródia de Belle (Bonjour) de Bela e a Fera soltando f-bomb atrás de f-bomb. E boa parte das punchlines se resumem a isso, mas já chego lá.


A história toma elementos-chave do longa de 92, e ao mesmo tempo cutuca os clichês e subplots curiosamente não desenvolvidos. Por exemplo, cês lembram do Príncipe Achmed? Aquele maluco que aparece no começo do filme e que é basicamente um personagem descartável sendo usado só pra mostrar como a Jasmine é ridiculamente exigente quanto a seus pretendentes? Aqui ele é o governante do reino de Pik-zar, que tem importantes relações comerciais com o Reino Mágico, como brinquedos, peixes exóticos, robozinhos compactadores de lixo, e outros produtos "Incríveis".

Essa é literalmente uma das falas do musical, eu não tou inventando.


E o plot fica ainda mais detalhado quando Achmed reclama com Ja'far (que é a escrita correta desse personagem porque NÉ) que ao invés de simplesmente distribuir os produtos, eles tomam crédito por eles.

Sim, eles recontam os eventos reais narrados nos bastidores executivos da Disney na gestão Eisner. É engraçado DEMAIS pra quem entende, mas talvez passe voando nos que desconhecem os detalhes. O público normal só vai achar engraçado as referências diretas aos filmes, como se fosse um maldito filme de Seltzer e Friedberg.

O que, uma vez que alguns deles foram distribuído pela Dimension Films, tecnicamente torna Tá Todo Mundo em Pânico um filme Disney, assim como Bad Santa, algumas sequências de Children of the Corn, Halloween, Hellraiser, Equilibrium e Venom.

Não, não esse Venom, o Venom de 2005, que era um filme de slasher.

THE MORE YOU KNOW


ENFIM. Não são só essas referências que a peça contém. Lá pra frente ainda vão aparecer outros vilões num dos melhores momentos do musical, que consegue equilibrar perfeitamente uma comédia self-aware com progressão de personagem. Cada personagem começa a justificar suas ações por um ponto de vista positivo, tal qual... bom, essa peça inteira.

Mas outras citações estão espalhadas pelas falas e versos tal qual orégano em pizza que tu pede pra vir sem orégano e o cozinheiro taca o dobro de orégano só de ruim pra descontar todas as raivas que sofre durante o serviço que não vale o tanto quanto recebe. Tem um momento que o chefe da guarda aparece com o rosto e a calça de Mc Hammer suja de merda e ele descreve a perseguição a Aladdin, e diz que ele tá sempre "one jump ahead".


Mas o foco não é a comédia corporativista que interessa a um nicho de um nicho de indivíduos desabotinados (como eu), mas tem uma música inteira parodiando A Whole New World onde Aladdin tenta seduzir a Princesa (que não se chama Jasmine) pra que ela tire suas roupas, citando as maiores polêmicas com ""mensagens subliminares"" em filmes Disney.

E embora o tipo de humor negro do musical não seja do meu gosto, ele faz bem o seu trabalho de complementar a história. Aladdin é tão pervertido que poderia fazer aquelas comédias adolescentes que passavam de madrugada na Globo, o que faz com que o odiemos mais e mais a cada momento que ele se mostra desprezível. Funciona porque aqui ele é o vilão, mas o roteiro é inteligente o suficiente pra nos dar uma sequência de eventos familiares.

A Princesa é incrivelmente retardada e ingênua, que cai fácil na lábia de Aladdin e como ele concorda com seus ideais utópicos e típicos de um comunisteen só pra poder entrar em suas calças. Tá cheio desses maluco por aí, mas provavelmente o que mais me irrita aqui é que eles tinham uma oportunidade de ouro de parodiar Sixteen Going to Seventeen, mas na época a Fox ainda não era da Disney, então eu vou deixar passar.


Mas ainda assim, depois de um tempo o padrão nas piadas começa a ser notado e logo o gimmick se perde. Tem algumas falas/xingamentos criativos e com uma entrega igualmente cômica, mas vira e mexe uma punchline é basicamente um f-word ou algo do tipo, quando poderia ser reescrito pra algo similar que seria mais engraçado ainda. Depois de um tempo começa a parecer preguiça do roteiro/compositor mesmo, e deixa de ser engraçado e passa a ser mais forçado pra ser "edgy".

Ao menos ainda é contrabalanceado pelo drama identificável e torcível de Ja'far.


Ele é legitimamente um personagem simpático. Sua escalada ao poder, suas boas intenções, seu romance com Sherazade (só que não tão fofolete quanto Catherine Zeta-Jones; mas ainda assim adorável e amável) é crível, identificável, e bate todos os tons exatos de clichê e de heartwarming.

De verdade, é uma história de amor que zoa os tropes da Disney mas ainda consegue desenvolver um romance legítimo. Os atores também conseguem te vender os personagens, é simplesmente uma interpretação ótima do maluco que eu esqueci o nome e tou com preguiça demais de ir olhar no IMDB. Mas ele é um ótimo ator e cantor, isso é verdade.


Como a peça foi feita com financiamento coletivo, é claro que os props e cenários não iam ser lá essas coisas. Mas é legal como eles reconhecem que é uma produção de low low budget e se viram com o que tem, o que gera até mais algumas piadas. Por exemplo, quando o tapete mágico chega é através de um membro genérico do coral fazendo SSHHHHHIIIUUUUMMM com a boca. É tão inesperado e quebra-clima que é engraçado. Mas agora eu contei a piada, então caso tu vá assistir não vai ser tão engraçada quanto deveria.

Oh well.

Mas no fim, Twisted é bom? Vale a pena assistir? Eh... Depende.


Se tu é um millenial desgraçado lazarento que compra ingresso de Malévola e Hermione & Zé Colméia não-ironicamente e acha que o ápice das Princesas Disney são Frozen e Moana por fazerem auto-referências e zoarem clichês do estúdio e ainda consegue não se ofender com humor negro, de banheiro, sexual, e tão exagerado que poderia passar num Super Cine da vida, provavelmente cê vai gostar disso.

Se tu gosta de musicais da Broadway, e recontagens de "o outro lado da moeda de contos de fada famosos", esse talvez seja interessante, mas o tipo de humor talvez entre no seu caminho. Tem muito o que ser gostado aqui, de fato pros valores de produção o que eles conseguiram é impressionante, e as músicas originais são boas o suficiente pra contar a história. Mas o humor constantemente me descia forçado ou preguiçoso, mas ainda tinha piadas que eram engraçadas de tão constrangedoras.

Humor negro serve pra isso, afinal.

Also, a câmera mexe demais, acho relevante mencionar. Talvez dê dor de cabeça em alguém, sei lá.
Mas ainda vale a pena ver por dois motivos: printar cenas com falas fora de contexto e mandar pros seus amigos às 4 horas da madrugada com a mensagem "URGENTE" só pra trollar eles; e porque as expressões faciais são uma mão na roda pra reações internéticas.


***
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2 comments

  1. +Kapan, gostei bastante desse artigo!

    Fiquei na dúvida agora: em um live-action do filme Mulan, poderia começar de maneira mais leve, mostrando algumas interações da protagonista com sua família (e se possível, o contexto do lugar onde vive), para a partir do momento após o treinamento da personagem e dos coadjuvantes gradualmente ir evoluindo para um drama de guerra, mostrando o máximo de consequências dessa guerra e como afeta a China como um todo?

    Não sei se você irá concordar comigo, porém penso que o filme da Mulan deveria ter sim três horas (a primeira hora para estabelecer os personagens-protagonista, família da protagonista, moradores da vila/casamenteira, coadjuvantes do campo de batalha e os chefes militares e as outras duas horas focando nas batalhas e no clímax).

    Obs: estou no aguardo para uma série de artigos sobre todos os filmes da Disney lançados diretamente em vídeo (seja filmes originais ou continuações).

    Aguardo resposta!

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    Respostas
    1. O ideal é que o filme de Mulan fosse de guerra épica mesmo, estilo que se fazia nos anos 40-60. Já sabemos que não vai ser um musical (porque a China não gosta muito de musicais ou algo assim), então seria a situação ideal pra trazer a lenda mais próxima da original.

      Sei lá se vai ter o Mushu ahuehauea mas dá pra encaixar do mesmo jeito, sei lá como.

      Excluir