O Legado de Tio Walt - Parte 13: Ciúmes



A Disney não tava exatamente mal das pernas, mas o motivo principal disso era que a Pixar tava indo MUITO melhor que as produções da casa. No entanto, a Pixar não era Disney, era uma outra filosofia de fazer filmes e animações, e mostrava que podia peitar a Disney de igual pra igual, e vencer.

Se a Disney tivesse financiando eles, claro.

Um dos filmes que mais prova essa idéia é Procurando Nemo.



Procurando Nemo


Eu pessoalmente acho o termo "clássico instantâneo" incrivelmente boboca e arrogante. O filme mal saiu nos cinemas, é notório que há qualidades atemporais, mas de dizer que daqui a 10, 15, 20 ano ele vai continuar a ser relevante, divertido e tocante é uma presunção absurdamente exagerada.

Entretanto, parecia que Nemo tinha conseguido essa façanha. Eu lembro claramente da época de lançamento, porque eu era a exata demografia alvo desse filme, então algumas coisas estão muito bem gravadas na minha mente, especialmente de como o pessoal ao meu redor reagia ao filme. Em especial, no dia que eu e minha mãe fomos comprar os ingressos, tinha uma moça perto da gente que tava O TEMPO TODO imitando a Dory. O TEMPO TODO. Falando baleiês, cantando "continue a nadar" e rindo feito uma doida que tinha cheirado farofa.

Aliás, até hoje foi o maior número de gente que eu vi na mesma caravana pro mesmo filme, contando de cabeça dá umas 15 pessoas e talvez eu esteja esquecendo de alguém; até meu avô foi assistir e foi o primeiro filme no cinema de um dos adultos do grupo. Parecia a Família Buscapé ou algo assim eu não sei nunca vi o filme nem a série pra fazer uma piada decente.

Ok, não é uma boa métrica pra dizer que é um clássico instantâneo, mas... São boas evidências.


O grande trunfo da Pixar sobre a Disney na época era o de conseguir apelar pra várias faixas etárias ao mesmo tempo, algo que a Casa do Rato não tava conseguindo na época. Tipo, cês tão acompanhando a retrospectiva né? Fora um ou outro sucesso tipo Lilo e Stich e... Lilo e Stitch...

...é.

A Disney tava meio que tentando pegar a rapaziada mais jovem, mais edgy, que curte umas comédia de parceria ou uma aventura RADICAAAAL MANO, mas que soava mais com aquele trecho do Steve Buscemi que você provavelmente tá pensando exatamente agora. Não colava muito.

Sem questionar a qualidade final dos filmes, mas a forma que eles eram marketeados e projetados era um claro sinal de desespero de "estamos perdendo os jovens, precisamos dessa demografia não vamo fazer coisa infantil demais" e nisso acabavam fazendo marketings e conceitos que não funcionavam bem com demografia nenhuma naquela época.

Ao contrário da Pixar, que fazia os filmes que lhe davam na telha e acabavam tendo coração, comédia e aventura na medida certa.


Procurando Nemo é a história de um pai cujo filho é raptado e ele vai ter que fazer uma longa jornada com uma mulher doente mental pra resgatar o filho dos sequestradores.

Cês já ouviram essa piada, wathever.

Marlin é um peixe-palhaço viúvo cujo único filho sobrevivente é Nemo, um peixinho que tem uma das nadadeiras menor que a outra devido ao ataque de barracuda que levou à morte de sua mãe de seus outros irmãos e irmãs. Marlin já era neurótico no começo do filme, mas depois de uma perda desse tamanho ele se torna ultra super protetor de seu filhote, e teme todos os perigos que o cercam e provavelmente teria medo de água se parasse pra pensar o suficiente nisso, da mesma forma que a gente pensa "e se o ar for um veneno que leva 80 anos pra nos matar?".


Nemo é raptado no primeiro dia de aula (o que pode ou não ser um argumento favorável ao homeschooling, mas divago) e é levado por um dentista que tem dinheiro e tempo livre suficiente pra ter mergulho como hobby. Marlin acaba encontrando Dory, uma peixa com memória fraca que viu o barco que levou Nemo, e eles acabam atravessando o oceano encontrando todo tipo de personagem que vai de tubarões com pais cinéfilos, tartarugas maconheiras e águas-vivas.

Nemo encontra os peixes do aquário do dentista, que vivem buscando uma forma de escapar enquanto assistem o dentista performar seu ofício e fazendo comentários sobre técnicas de odontologia e marcas de utensílios como se fossem um bando de busólogo.

Enquanto isso eu tou aqui me perguntando se esses peixes conseguem fazer uma consulta dentária e se eles atendem Unimed.

A história veio muito de experiências pessoais do diretor, Andrew Stanton, que se lembrou de ver aquários em sala de espera de dentista e imaginar como os peixes sentiam saudade do mar. Além de ter notado como ele era superprotetor com seu filho ao invés de passar um tempo de qualidade com ele. De novo, é um lugar totalmente diferente de onde vem os filmes da Disney, que normalmente adaptam histórias já conhecidas dando seu sabor próprio.


O que não quer dizer que seja algo intrinsecamente ruim nisso ou na Disney tentar diversificar seus músculos criativos saindo da zona de conforto, mas serve pra ilustrar bem que (ao menos nessa época), não era algo que eles conseguiam fazer bem. A Pixar era que conseguia tratar de temas que adultos e crianças conseguiriam entender, e mais importante, não fazia os adultos se sentirem menosprezados por "ser um desenho".

Malditos adultos que menosprezam animação! Ou que chamam animação de "gênero"! Espero que a conta de luz de vocês triplique!

Naquela época (e ainda hoje, de certa forma) havia a mentalidade e que animação, especialmente da Disney, era focada em crianças. Que é uma das coisas que acabou criando o sub-gênero de remakes recentes do estúdio, que acabam sendo mais infantis que os desenhos, mas divago de novo.

Os clássicos da Renascença eram reconhecidos como alta arte, em boa parte porcausa de Siskel e Ebert, que realmente analisavam os filmes no mesmo nível que os outros filmes que estavam acostumados. Mas um filme da Disney na época como Planeta do Tesouro ou A Nova Onda do Imperador eram recebidos com uma fanfarra muito menor que A Pequena Sereia, Bela e a Fera, ou Aladdin.

Raios, o Andreas Deja (ou outro supervisor de animação de Aladdin, não lembro agora) disse que ouviu alguém ligar pra uma rádio dizendo estar com depressão e o radialista mandou assistir Aladdin porque era o filme mais engraçado do ano. Era uma cultura diferente dos anos 2000, que queria quebrar essa imagem fantasiosa "pra crianças" da Disney, a Dream Works que o diga.

Se Disney era música clássica e Looney Tunes era o jazz, Dream Works era o punk.

Mas isso é história pra outro dia.


Voltando a Nemo, o filme trata de temas que pais e crianças podem entender e se conectar, porque é basicamente sobre o amor paternal e sobre como as gerações tem dificuldade de se entender. Os personagens também tem várias nuances de personalidade; Marlin era um obcecado neurótico com medo de tudo, mas que parecia ser contrabalanceado pela esposa Coral, que era mais calma e concentrada.

E dá pra ver como o personagem muda até pela localização da anemonema que ele mora, no começo do filme é uma anenomena com literal "vista pro mar" (que prevê o lance do Paredão mais tarde) e uma vizinhança cheia. Quando vemos Marlin com Nemo, é um lugar muito mais fechado, quase claustrofóbico.

Nemo é um moleque birrento, mas é mais pela criação que Marlin lhe deu, o que causa sua personalidade diametricamente oposta à de seu pai, e que ressalta as diferenças não resolvidas entre os dois.

Dory é mais que um alívio cômico, ela é o peso oposto de Marlin que ele precisava, mas talvez mais do que Marlin aguente, porque vez ou outra ele tem que ser o adulto responsável da dupla mas também se permitir ser ajudado por Dory. De certa forma, Dory é como a filha adulta de Marlin, o que é ótimo que o filme não tenha feito deles um casal no final.


A história tem um bom ritmo, alternando entre o plot de Marlin indo resgatar Nemo e Nemo ajudando os peixes do aquário a fugirem enquanto enfrenta suas próprias dificuldades. É ótimo tanto pra desenvolver os personagens principais como pra dar preenchimento ao mundo ao redor, com personagens carismáticos, memoráveis e altamente quotáveis.

Até hoje eu me pego citando alguma coisa do filme em conversas normais com meus amigos imaginários e minha pelúcia da Alice, e a velocidade que frases como "ô enfezadinho do oceano" e imitar as tartarugas marinhas saem com tanta naturalidade quanto frases de O Auto da Compadecida e A Princesa Prometida.

A narrativa é fluida e nada é jogado por acaso, tudo tenta ser uma dificuldade comum do oceano que força Marlin e Dory a confiarem um no outro e em si mesmos; mas também de ser divertido de presenciar, lembrando que é um filme família e há crianças que precisam ser distraídas.


Não que a distração seja exclusiva das crianças, o filme tenta evocar aquele sentimento universal de animações slapstick clássicas, mas também usando muita comédia verbal, tal qual Looney Tunes.

E os artistas conseguiram um equilíbrio perfeito entre o cartunesco e o verossímil, algo que poderia ser melhor usado em O Bom Dinossauro. Os peixes são claramente desenhos, mas com texturas realistas o suficiente pra não serem distrativas. Sabe, não é como Kingdom Under the Sea ou Izzy's Way Home, que os personagens parecem ser feitos de bala de gelatina Haribo Cream Kiss.

O mais impressionante talvez sejam os ambientes, que são vivos e coloridos, mas que também conseguem ser depressivos e perigosos, de acordo com a situação. De fato, Procurando Nemo é um filme absurdamente atmosférico.


Os cenários são imensos, detalhados, e transmitem a exata emoção necessária na situação em questão. É quase indescritível como esse filme consegue usar a fotografia de uma maneira tão artisticamente eficaz, e por vezes de uma forma sutil até.

E é interessante ver os testes de animação de Nemo, onde os animadores testavam se poderiam fazer um oceano verossímil, mas como o próprio diretor explica no vídeo, ficou realista demais e eles pretendiam fazer um design que fosse realista, mas que ainda fosse um faz de conta.

Sabe, o que animação deveria ser, uma interpretação artística da realidade sem necessariamente ser fotorrealista.

De fato, uma das minhas anedotas favoritas desses documentários (e que é uma real lição de arte, se parar pra pensar) é que o biólogo marinho que tava fazendo consultoria com os animadores disse "essas nadadeiras tão erradas, músculo de peixe não funciona assim" e um dos animadores respondeu "cara, peixes não falam".


Procurando Nemo é talvez um dos filmes que melhor resumem a filosofia do estúdio, junto com Wall-E e Up. É uma fábula moderna, um filme que usa animais falantes pra expressar emoções e pensamentos humanos, de uma forma engajante, engraçada e divertida.

O design de produção, a atmosfera e a trilha sonora é só a cereja do bolo, que mostra a milha extra que eles tavam dispostos a percorrer.

E obviamente, Michael Eisner via tudo isso com certa preocupação, porque os filmes da Disney recentes eram tentativa-e-erro, e ele se viu obrigado a capitalizar os longas clássicos, lançando sequências que nunca ninguém pediu.

Mas isso é história pra outro dia. Por ora, o importante é ter em mente todas essas qualidade que eu dissertei sobre Nemo agora, e comparemos com os próximos longas animados do estúdio, começando por Irmão Urso.




Irmão Urso (Brother Bear, 2003)


...raio, que filme PAIA.

Eu entendo totalmente os filmes animados Disney terem particularidades de cada época, mas normalmente se espera que essas particularidades envelheçam como vinho. Tu olha pra Peter Pan e sabe que aquilo foi feito nos anos 40 ou 50, mas não impede de assistir hoje e se divertir ou apreciar o filme.

Claro, há filmes que tomam muito mais referências de sua época, mas não chega a ser distrativo ou prejudicial pro filme (como Labirinto e O Grande Mentiroso).

Irmão Urso não consegue fazer isso.


A história se passa no Alaska, numa tribo de nativos onde Kenai vive com seus dois irmãos mais velhos, e tá prestes a passar pela cerimônia de maturidade. Kenai recebe o totem do urso, que simboliza o amor, mas como todo jovem rebelde dos anos 2000 ele queria algo "daora" tipo um tigre dente-de-sabre.

Após não ter cuidado direito da comida, Kenai vai atrás do urso que roubou seus peixes, o urso acaba matando seu irmão mais velho, e Kenai mata o urso por vingança. Ou algo assim, não lembro direito a ordem de eventos e não me importo o suficiente pra ir atrás. Meu tempo é PRECIOSO demais, prefiro gastar procurando fotos de face characters nos parques fazendo palhaçadas ou sendo adoráveis.


Enfim, depois dessa onda toda de vingança, os espíritos dos ancestrais transformam Kenai em um urso, e a velha da aldeia manda que Kenai vá pra montanha "onde a luz toca o chão", que eu não sei se legalmente é território dos leões falantes, já que é outro continente.

Eu sei, não faz sentido, mas depois que tu considera que a série do Timão e Pumba se passa no mesmo universo dos filmes, nada mais importa. Pelo que todos sabemos, a essa altura a tal "montanha onde a luz toca o chão" pode ser a cozinha do diretor Skinner.


Depois de virar urso, Kenai se encontra com Koda, um urso pirralho irritante pra uma desgraça que sabe onde fica a montanha onde a luz toca o chão, e eles acabam criando um vínculo de irmandade e blablabla mas oh tem o plot twist e tem dois alces irritantes e...

...é, parece muito um knock-off Disney.

Sabe, quando um estúdio menor quer um espacinho no mercado de animação e tenta emular o estilo Disney sem saber exatamente o que faz as animações Disney serem tão boas e memoráveis. DreamWorks já passou por isso, Fox também, Warner já teve suas tentativas, bem como outros estúdios cujos nomes eu não vou lembrar agora. Esse filme parece MUITO o tipo de filme que tava saindo na época de seu lançamento, só mais um na multidão.

DreamWorks a essa altura já tinha dado umas zoadas na Disney com Shrek e tava conseguindo um sucesso meio tronxo, mas que a Disney entendia como uma competição que poderia ser prejudicial. Uma tendência que surgiu nessa época foi o uso pesado de referências modernas e à cultura pop, como Shrek e O Espanta Tubarão. Irmão Urso ainda consegue não se rebaixar a esse nível, mas os animais se comportam mais como o esperado de animais animados em filmes infantis, com uso de gírias e diálogos previsíveis e com piadas sem graça.


Enquanto humanos é ok, eles ainda se comportam como gente moderna às vezes (eu duvido que os nativos implicavam com os irmãos menores da mesma forma que Denahi implica com Kenai), mas na maior parte do tempo eles parecem ter o coração no lugar certo.

Quando o foco passa a ser nos animais, cê pode imaginar o que se transforma. É um festival de cenas prontas pra botar no trailer e é UM. SACO.

Piadas previsíveis e sem graça, maçantes, cê já sabe exatamente por onde a história vai andar, e os personagens não se esforçam em serem interessantes ou engajantes, o dilema deles é bem simples de ser resolvido e não requer muito raciocínio nem por parte dos personagens, nem do público. É tudo muito seguro.

O que é uma pena, porque há conceitos interessantes aqui. O fato do filme não ter um vilão e Denahi caçar Kenai-urso como resultado do mal-entendido e pra ensinar a lição tanto a Kenai como a Denahi por parte do irmão mais velho, é muito interessante. Mas eu não consigo comprar a idéia de Kenai como urso, ou como irmão mais velho do Koda, o filme basicamente presume que a gente aceite "porque sim".


É tipo sei lá, o filme do Garfield que força um romance entre Jon e a Jeniffer Love-Hewitt do absoluto nada por motivo nenhum exceto que "nas tiras era assim". É preguiçoso, é imbecil, mas é altamente marketeável e seguro de vender.

O que é uma pena, porque mesmo quando o velho Walter fazia filmes mais marketeáveis pra sua época e tentando ser menos atemporais (como Mogli ou 101 Dálmatas) ainda tinha algo de valor, algum senso de diversão. Claro, tivemos coisas como A Espada era a Lei, e até Bernardo e Bianca pós-Walt, mas nunca era uma tortura assistir.

Irmão Urso é chato que dói. Todos os tropes de filme animado pra criança nos anos 2000 tão reunidos aqui, e esse sim, foi um filme feito focado majoritariamente em crianças e não em famílias, ou na criança que reside fundo nos adultos.

Até a direção de arte, que é algo FANTÁSTICO e que merece todos os elogios do mundo por buscar um estilo meio impressionista e pelo lance de usar uma paleta de cores mais brilhante e viva e uma tela maior quando Kenai é urso contrastando com uma paleta mais realista e uma tela menor quando ele é humano no começo do filme, até isso meio que perde seu valor. É impressionante de olhar, mas não tem a mesma graça quando tá atrelado a personagens irritantes e uma história previsível.

Tipo... na moral. O clímax onde Kenai conta pra Koda sua história era pra ter sido uma conversa e eles tacaram uma música que descreve o que acontece. Ugh.


E só agora eu descobri que Rick Moranis dublou um dos alces. Queria fazer uma piada mas preguiça.

Talvez a dublagem brasileira consiga salvar o filme, porque Selton Mello conseguiu salvar boa parte de A Nova Onda do Imperador, mas eu provavelmente não vou rever esse filme em um bom tempo. No mesmo tempo de Irmão Urso, eu poderia tar vendo... sei lá, Thammy and the T-Rex.


E pra provar que essa época era REALMENTE fraca pra Disney nos longas animados, eu vou inverter a ordem de lançamento dos filmes e comentar sobre Nem Que a Vaca Tussa antes de Mansão Mal-Assombrada.

...minha justificativa é que sim, Vaca saiu em 2004 nos EUA e Mansão saiu uns meses antes ainda em 2003... mas no Brasil os dois saíram em 2004.

...meu blog, minhas regras, AVANTE ENTÃO PORQUE HOJE EU QUERO HAMBURGUER!


Nem Que a Vaca Tussa (Home on the Range, 2003)

Não tirei print do título,
vai essa vinheta mesmo.

Eu lembro BEM desse filme, porque eu vi no cinema na época em que ir pro cinema era um evento grandioso, especialmente se for no (na época) maior shopping da cidade, que fazia a gente se tacar pro outro lado da metrópole. Ou talvez porque eu era uma criança com energia, sonhos, esperança e um brilho no olhar.

O lance é que eu cresci numa casa sem muitos longas clássicos Disney, ou por serem vistos como "infantis" (tipo sei lá, Cinderela) ou porcausa das polêmicas falsas de "mensagens subliminares". Os únicos que entravam em casa era uns gatos pingados tipo Tarzan, Robin Hood, Chicken Little... A Lenda do Tesouro Perdido... e os filmes da Pixar. Ir pro cinema ver um filme da Disney nessa situação era algo memorável.

Deus abençoe meus pais por me aguentarem tiroleando pela casa.


Assim como outros filmes do estúdio, a idéia era ter um longa animado baseado na história do Flautista de Hamelin. Já tem um curta da Disney baseado no conto, mas talvez eles pensaram que o curta não foi sombrio o suficiente, então a idéia era ter o flautista e uma garota surda.

Michael Eisner, provando que ainda não tinha ficado abirobado de vez, cortou a idéia, e a história foi pra vacas que prendem um ladrão de gado que hipnotiza vacas igual o flautista, só que ao invés de flauta é tiroleio.

Olha, diga o que quiser, ao menos é self-aware.


Maggie é uma vaca que perdeu sua fazenda pro tal ladrão tiroleio, Alameda Slim. Seu antigo dono a deu pra Pearl, uma fazendeira que poderia muito bem ser uma parente distante da Vovó dos Looney Tunes, que tem duas vacas e um monte de bicho que é como parte da família dela. Mas Pearl também tá prestes a perder a fazenda pro banco, e Maggie e as outras duas vacas vão capturar Slim porque graças às Leis da Conveniência Universal, a recompensa é exatamente o valor a ser pago pro banco.

Ainda tem o cavalo do xerife, Buck, que vira o cavalo do caçador de recompensas Rico, que eu juro, na matéria da Recreio botaram a imagem de um dos bandidos imaginários que Buck enfrenta na fantasia dele.

Era engraçado sempre que a Recreio fazia uma dessas, uma vez disseram que o Big em Sonic X parecia ser tão rápido quanto Sonic e que ele aparecia e sumia aleatoriamente, e que isso "é um grande mistério!".

Jornalista é jornalista não importa onde seja, né?


Quando criança, eu dava mó valor esse filme. Eu vi no cinema tinha o DVD (copiado), mas provavelmente eu gostava mais de ver o filme com comentários do que o filme em si. Talvez pelo fato de eu já ter visto filme com comentários dos diretores, mas com dublagem brasileira e legenda dos comentários, com esse filme eu descobri que dava pra botar a faixa de áudio com os comentários de fato.

Eu era um moleque tonto, o que explica muita coisa hoje em dia.

Mas fora isso, era um filme esquecível. Eu consigo tirar alguma nostalgia dele, mas só porque eu via o filme no mesmo PC que eu jogava Skate Radical do Pateta da Disney™, e o design de produção de faroeste vez ou outra me fazia lembrar do mapa de velho oeste do jogo. A CG também era ligeiramente similar em alguns aspectos.


De fato, mantenho a mesma opinião de quando moleque, o filme só fica REALMENTE bom quando aparece o Jack da Sorte, lá pro final, o que é uma pena. Depois que ele aparece, o filme parece tomar um ritmo frenético de ação e aventura, mas sem se levar muito a sério, o que é ótimo. O clima do filme durante todo o filme é muito... infantil. Digo, ok, é um filme familiar com foco em criança pra fazer elas querer comprar bonecos e cadernos e estojos dos personagens, mas...

...sabe, Disney.

Esse filme é o que se esperaria de... sei lá, Illumination. Talvez Blue Sky ou a DreamWorks num dia ruim. Não, minto, DreamWorks tacaria mais referências de cultura pop sem motivo. Enfim, cês entenderam. Não parece algo que a Disney faria conscientemente, a menos que fosse direto pra DVD.

Mas esse é o mesmo estúdio que nos deu Aladdin, Rei Leão, Corcunda de Notre Dame, e até Hércules. Um pouco de auto-respeito pela gerência devia botar esse filme nos trilhos e perceber nos estágios iniciais que algo tava faltando, alguma coisa não tava funcionando e que precisava ser consertada logo. Um faroeste sobre vacas falantes que enfrentam o Flautista de Hamelin que poderia se apresentar no America's Got Talent pode ser feito pela Disney com uma certa fineza, mesmo sendo uma comédia.

Raios, uns anos antes eles lançaram A Nova Onda do Imperador, e esse filme é BEM menos sofrível que Nem Que a Vaca Tussa.


Talvez, TALVEZ, uma solução seria focar no Jack da Sorte ao invés das vacas. Digo, sim, as vacas são o plot emocional, elas que podem perder a fazenda, Maggie que teve a fazenda roubada e tá prestes a perder de novo seu lar e tem motivos pra lutar, mas Jack é o personagem realmente interessante aqui.

Ele já começa o filme com um certo foco, sendo o alvo de slapstick constante, e só lá pro terceiro ato vamos de fato conhecê-lo, e ele é um personagem FANTÁSTICO pra esse cenário de comédia. Ele é basicamente uma lebre que se gaba de ter uma sorte medonha, mas tudo de ruim acontece com ele, justamente por ele ter perdido uma das pernas e usar uma perna de pau no lugar.

Mas ainda ssim, ele não é um personagem depressivo e parece alheio aos azares que a vida lhe dá, mas ainda reage de acordo com eles, só que pra ele é só mais uma dificuldade e na cabeça dele, ele ainda é sortudo. E ele é de fato um personagem útil, ele consegue lutar, ele consegue pensar, e ele perdeu o lar pra Slim quando o vilão começou a usar a mina do eco como esconderijo.


Minha idéia seria usar Jack como o protagonista, e fazer ele encontrar as vacas, e suas histórias iriam se cruzar de alguma forma. Jack iria ensinar às vacas como sobreviver no deserto, causando hijinks hilários e schadenfreude com a pobre lebre azarada.

...pera, não era pata de COELHO que dava sorte? SENSACIONAL.

As personalidades das vacas são ok, mas meio que cansam depois de um tempo. Maggie é basicamente o Pumba (porque sei lá, o público ainda tava com Rei Leão MUITO vivo na mente e associava "humor Disney" a arrotos, provavelmente); Calloway é a chefona no-nonsense; e Grace é a doidinha adorável e meio hippie.

Não, sério, ela é basicamente a Janice dos Muppets, só que sem efeito de ervas.

...e é por isso que não existiam
vacas antes de 1972.
DE FATO.

A idéia mais primordial do filme (nos anos 90 em plena Renascença) era um faroeste sobrenatural onde Slim e seus capangas seriam fantasmas que se vingavam de gado por terem sido mortos pisoteados por um rebanho. Mas uma bezerra e Jack iriam impedi-los, e Slim era o cara que roubou o pé de Jack pra início de conversa.

Olha, ainda não tá LÁ, mas já é MUITO mais interessante que o filme final.

Mas esse filme é uma prova cabal da falta de gerência na Disney como um todo. Sabe aquele conceito que todo executivo é um pouco ou muito imbecil, dependendo do caso?


Pois bem, durante algum tempo, esse filme foi o que matou a animação 2D na Disney, pelo menos nos longas. A divisão francesa de animação fechou depois de Hércules, e já rolavam rumores que a Disney ia acabar com animação 2D, já que a Pixar tava indo muito bem com seus filmes (como eu venho mostrado nesses artigos), e Katzembug tava morto de alegre com Shrek 2 e Espanta Tubarão.

ESPANTA TUBARÃO TAVA MELHOR NA FITA QUE A DISNEY.

POIS É!

E qual foi a decisão dos executivos? Qual foi a lógica por trás de suas ações? "As pessoas não querem mais ver filme animado em 2D, só querem 3D, então vamo migrar pro 3D." SIM, BANDO DE BABUÍNOS SACRIPANTAS COM TENDINITE NAS GÔNADAS, O PÚBLICO TÁ PREFERINDO VER SHREK 2 E PROCURANDO NEMO PELO ÚNICO MOTIVO DE SEREM FILMES EM COMPUTAÇÃO GRÁFICA, NÃO POR SEREM EXCELENTES FILMES COM PIADAS LEGITIMAMENTE ENGRAÇADAS, MOMENTOS MEMORÁVEIS, FRASES ALTAMENTE QUOTÁVEIS E PLOTS EMOCIONANTES! VOCÊS NÃO ENXERGARIAM QUALIDADE NEM QUE ELA FOSSE UMA DOMINATRIX DE UM METRO E NOVENTA PISANDO NA CABEÇA DE VOCÊS COM UMA BOTA DE CANO ALTO E SALTO DE 20 CENTÍMETROS ENQUANTO REPETE "ARA ARA"!

HALLELULAH! HOLY SHIT! Where's the tylenol?


Ok, além disso, teve o fato de o filme ter tido uma reação tão negativa das críticas, que eles demitiram o designer de produção.

DEMITIRAM O DESIGNER DE PRODUÇÃO! NUM FILME CUJO MAIOR PROBLEMA ERA A HISTÓRIA! E O DESIGN DE PRODUÇÃO ERA LINDO!

Sério! Olha os prints! Os designs de personagens não são ruins, são limpos, agradáveis, e comunicam bem quem são os personagens, e os cenários são cheios, vistosos, bonitos, e artisticamente competentes, tem um ar de pintura que combina bem com a fotografia de alguns westerns.

Sério, a Disney tava um caos, Michael Eisner nunca se recuperou do falecimento de Frank Wells, e não só tava deteriorando a saúde dele (tendo ido parar no hospital pelo menos duas vezes por conta de stress), como também seu tino artístico. O cara tava atirando pra todos os lados, fazendo puras apostas e torcendo pra dar certo. Algumas davam certo, como Piratas do Caribe, e outras são o próximo filme, a Mansão Mal Assombrada.


...eu devia ter dado um fechamento melhor pro filme anterior né? Mas não quero, é um filme que me dá raiva porque poderia ter sido bem mais interessante do que é, mas que conseguiu ser "pelo menos" melhor que Irmão Urso. Eu sei, nos círculos de animação provavelmente Irmão Urso tá beeem acima de Vaca, mas eu não ligo, Vaca é bem melhor que Urso porque pelo menos não é maçante, não é previsível demais, e é visualmente interessante. A cena do Alameda Slim hipnotizando as vacas por si só é algo que vale a pena rever, mesmo que seja eles tentando refazer o Pink Elephants on Parade.

...

Esse é o único filme animado dos anos 2000 que Alan Menken participou, e provavelmente é um de seus trabalhos mais fracos. Não é ruim, só fraco.

Pronto, agora podemos seguir?


Mansão Mal-Assombrada (Haunted Mansion, 2003)


Seguindo os experimentos de filmes baseados em atrações, dois projetos foram feitos no mesmo período: Mansão e Piratas do Caribe. Só que Piratas já se tornou uma franquia de peso e bem consolidada, então faz mais sentido dedicar um artigo inteiro pros filmes, igual eu fiz com Flubber e Super Patos.

Mansão... já é outra história. Ainda cruza com Piratas, mas... Uhg, vamos com isso.

A época que isso saiu foi meio estranha pra mim, porque eu lembro distintamente que parecia tão "não-Disney" um filme de terror assim, mesmo que não fosse realmente assustador. A estética toda indicava que era meio Scooby-Doo, mas o linguajar (especialmente as rimas da Leota que pipocavam no site em flash do filme) tudo era tão... fora do lugar, pra mim.


As fontes que eu verifiquei indicam que o filme foi mais inspirado pela Phantom Manor (a versão francesa da ride), mas depois de dar uma olhada no lore da ride francesa... Tem muita coisa a ver não, hein. Além do plot principal do casamento que nunca aconteceu, quase nada é igual ao filme.

Aliás, depois olhem a lore da Phantom Manor, é um negócio muito bem bolado aproveitando a ride de faroeste perto da Manor, que é algo que até onde eu lembro só existe na Disneyland Paris e só lá mesmo que faz sentido.

A história conta sobre William Gracey, um ricaço da época da Guerra Civil Americana que propõe casamento pra uma guria lá, mas ela se mata ao receber a proposta. Ele, em resposta, também comete suicídio, de uma forma que seja vistosa e chocante pra visitantes do mundo todo e que dê pra estampar em camisas e vender a 30 dólares.

Pois é, filme da Disney que começa com dois suicídios e nudez frontal em cartas de tarô. You know, for kids!


No presente (ou tão presente quanto 2003), Eddie Murphy é um corretor imobiliário workaholic que após perder MAIS um evento importante com a família, resolve levar a esposa e os pimpolhos numa viagem à casa do lago. Só que antes ele faz um pequeno desvio pra ver uma mansão que os donos querem vender, e entram após o portão se abrir sozinho.

Eu faria uma piada-referência com o standup que o Eddie fez sobre negros em filme de terror, mas todo mundo fez essa piada então vou me abster disso e focar em piadas sobre respeitadores de casadas. Que são... três ou quatro, o que não é muito mas é mais do que eu esperava num filme da Disney.


Enfim, obviamente a mansão é do Gracey, que acredita que a mulher do Eddie é sua falecida amada e blablabla. You know the drill.


Não, sério, todas as batidas narrativas aqui são absurdamente previsíveis, especialmente pra um filme do começo dos anos 2000. Mas...

...sabe, Haunted Mansion. É exatamente o que tu espera.

A ride em si não tem uma história muito clara, tem temas recorrentes e personagens marcantes (como a noiva Constance, o Hatbox Ghost, Madame Leota, os Hitchhiking Ghosts, o Ghost Host, 999 fantasmas que tem lugar pra mais um e fechar os mil como se a transição pro pós-vida fosse parte de um esquema de pirâmide), e cada um deles é adaptado de uma forma diferente em outras mídias.


Por exemplo, tem uma antologia de quadrinhos que é só sobre os diferentes tipos de fantasmas que habitam a Mansão, porque a idéia original é que a Mansão fosse tipo uma casa de repouso pra fantasmas viajantes. Numa dessas histórias, Gracey era um pirata, inclusive. Tem outro quadrinho que conta uma história fechada dum moleque que sente falta de seu falecido avô e descobre a mansão e seus habitantes; o jogo de PS2 e Game Cube envolve um aspirante a escritor que aceita o trabalho de caseiro da Mansão, e vai acabar tendo que salvar a casa de um feiticeiro DUMAL... ou algo assim. O caseiro também é um personagem da ride, embora no jogo ele seja bem mais jovem.

Meu ponto é, existem várias formas de se adaptar as iconografias e plotlines sugeridas pela ride em histórias novas, mas mantendo o aspecto sombrio, humor negro, e uma sensação assustadora real aqui e ali. O plot principal é fantástico e encaixa muito bem nessa proposta, o que estraga tudo... é o plot humano.


E vejam bem, eu entendo totalmente que num filme com estrutura de três atos, precisemos de um protagonista gostável com um arco narrativo pessoal interessante e que seus problemas possam ser resolvidos com as coisas que acontecem na Mansão.

Negócio é que o filme não parece perceber isso, porque o personagem de Eddie é simplesmente um sujeito desgostável. Não exatamente desprezível, mas aquele cara que claramente tá cavando a própria cova (HAH!) e não percebe. É um clichê recorrente e chato, especialmente nos anos 2000.

E dava pra tornar esse personagem gostável, mas Eddie tem uma cara tão naturalmente socável que é difícil ter empatia ou simpatia pelo maluco, especialmente quando o personagem toma atitudes e decisões desprezíveis.

Ele era pra ser o everyman, o sueito comum que enfrenta o desconhecido de uma forma similar a nós, e a atitude de um vendedor de casas acostumado a estar no controle da situação é argumentalmente boa, mas Eddie não consegue passar essa simpatia.

O que explica que era pra ele ter sido Winston em Caça-Fantasmas na época que Michael Eisner era presidente da Paramount, mas por questões contratuais Eddie não poderia ir fazer o filme da Columbia. Esse filme foi uma forma de Eisner se desculpar com Eddie por isso.


Se a atuação do Eddie é fraca e não te faz acreditar nos sentimentos dele em cenas em que drama era necessário, a das crianças não fica pra trás. São terrivelmente escritas e terrivelmente atuadas, mesmo pro padrão de crianças. O que ainda se safa aqui e acolá é o moleque, o fato dele ser um ano mais velho que a guria mas interpretar o irmão mais novo pode ajudar.

Ou não, sei lá.

A guria (que também fez a Kesha em Todo Mundo Odeia o Chris) tá constantemente lendo as falas com a mesma emoção que eu passo nas aulas de EAD. É distrativo, mas quando ela faz um trabalho bom é... Passável. Não deve ser fácil atuar num filme que tenta fazer que acreditemos que uma criança de 13 anos passou 3 anos estudando latim "porque sim", e essa informação só nos é passada quando ALGUÉM na party de personagens jogáveis TEM que ler latim pra progredir na história.

Mano, eu tou estudando latim na faculdade e cada aula é uma vontade de me tornar o milésimo fantasma, como essa piveta aprendeu latim por conta própria EM PLENO ANOS 2000 SEM INTERNET???


As únicas atuações que realmente são críveis é do elenco fantasma e da mulher do Eddie. Gracey é um anfitrião charmoso e misterioso sem parecer forçado; o mordomo é cartunesco sem deixar de ser assustador, e os servos são engraçadinhos.

O que me faz pensar, se esse filme tá de alguma forma ligado a Princesa Prometida. Digo, eles fazem quase a mesma piada do "Inconceivable!" com o mesmo ator, e se o personagem for o fantasma do siciliano que sequestrou Buttercup mas quando ele foi pro pós-vida ele não lembra exatamente de quem ele era, herdando só alguns trejeitos e uma frase-feita que ele não lembra exatamente como era?

Also, todo mundo, mas TODO MUNDO que eu vi resenhando esse filme reclamou da Jeniffer Tilly como Leota, sempre ressaltando que ela é engraçada e talentosa, mas foi simplesmente uma escolha errada pro papel. Eu entendo daonde eles vem, Madame Leota na Ride tinha a voz da Eleanor Audrey, que interpretou a Lady Tremaine em Cinderela e a Malévola em Bela Adormecida. É uma BAITA voz, dá um ar de dignidade à Leota, e te faz acreditar em cada palavra que ela diz.


Tilly é mais cômica, mas... Sabe... Eu não me incomodei com a Leota dela. Ela consegue passar uma certa dignidade, não faz caretas, não conta piadas o tempo todo, e no geral tá lá basicamente porque devia ser alguma obrigação contratual com a Disney, já que ela dublou a Cellia em Monstros S.A. e a Grace em Nem Que a Vaca Tussa.

Não foi a melhor escolha, mas ela fez o melhor que podia com o papel.

O que realmente me incomoda é que algumas cenas foram colocadas só pra ter um fanservice pra quem conhece a ride, o que exigiu refilmagens quando o filme não teve boa aprovação dos públicos-teste. Acontece que Eisner explicitamente mandou que os filmes baseados nas atrações dos parques não tivessem foco em fanservice, e... Por um lado, faz sentido. A idéia é que mesmo quem nunca foi nas rides possa aproveitar o filme pelo que ele é, sem nunca ter ido pros parques ou mesmo conhecido as rides através daquelas propagandas que tinha no final dos VHS Disney.

Piratas do Caribe conseguiu mesclar bem o fanservice de referências à ride com a tradução da emoção de andar no negócio e criar um lore próprio, mas tu não precisa andar no negócio pra entender o plot do filme. 

Meu pai não conseguiria diferenciar o Walt Disney World da Hong Kong Disneyland nem que a vida dele dependesse disso mas eu consigo totalmente ver ele investido em Misson to Mars, por ser um sci-fi atmosférico com idéias interessantes. Pelo menos até chegar o terceiro ato, onde ele provavelmente ia me dizer "ô filme mentiroso" ou algo do gênero.


O negócio é que quando se faz uma adaptação tão icônica quanto Piratas, Mansão ou até Country Bears, algumas coisas são impossíveis de fugir, argumental e visualmente falando. Michael Eisner tinha razão no seu raciocínio, mas a idéia foi longe demais. Piratas conseguiu fazer uma coisa tão original mas ao mesmo tempo tão ligada à ride que funcionou, porque o material original era absurdamente bom.

Mansão... Não. O design de produção é fantástico, a Mansão é soberbamente construída, os efeitos visuais em CG são... terríveis mesmo pra época, mas quando tem um efeito prático, é impressionante. A cena de perseguição dos zumbis especialmente, é algo que não chega a ser assustador, mas é absolutamente desconcertante. O design dos zumbis é muito daora, e olha que eu nem gosto de zumbis.

"Tio, quer comprar BigBig?"

Mas por exemplo, o caseiro (que na ride é um humano vivo) aqui é um fantasma, sabe-se lá porque;   e o personagem que diz "there's always MY way" não é o Ghost Host, e sim Ezra, o siciliano com amnésia. Parece cata-piolhagem, mas é uma fala icônica demais da ride, que tem um pouco do humor negro característico a ela. E tem um momento que parece que o Ghost Host vai dizer isso, quando na primeira noite começa a tempestade e ele diz "There's no way out", mas ficaria forçado e sem sentido aqui, admito. Mas a construção da frase indica que houve uma tentativa, pelo menos num roteiro primitivo.

Also, os fantasmas na cena da carruagem (que aliás, muito massa o uso da carruagem fantasma aqui) não fazem sentido. Na ride eles são fantasmas viajantes que pararam pra relaxar, então faz sentido ter fantasmas medievais e nórdicos e de outras partes do mundo. Mas teoricamente os fantasmas que habitam a Mansão aqui foram presos junto com Gracey então... daonde eles vieram?

Se pensar um pouco dá pra pensar numa justificativa boa, mas o filme nunca se preocupa em explorar muito a fundo, provavelmente fruto das refilmagens pra botar mais fanservice no filme.


Also, também nunca explicaram direito porque Gracey e Elizabeth nunca puderam ficar juntos. O filme dá a entender que eles iam fugir juntos e assim, abandonar a Mansão, mas sendo Nova Orleans... Pode ter sido porcausa de racismo, já que Elizabeth era negra.

Numa cena deletada (que dá pra ser vista nos bastidores aqui) o fantasma do Rex siciliano e a empregada que parece ter vindo de Chocolate com Pimenta explicam que Elizabeth cresceu na Mansão, então provavelmente ela era escrava, ex-escrava, ou simplesmente uma serva da Mansão, logo, plebéia.

Ainda é um filme que vale a pena ver? Absolutamente. É um filme com partes tão bem elaboradas, com um design de produção tão competente e com um plot fantasma tão... Haunted Mansion, que dá pra assistir vez ou outra ignorando os efeitos em CG e o plot da família humana.


Mas, como deu pra notar, o tino artístico de Eisner começava a mostrar suas várias falhas. Não só isso, mas ele havia se tornado um executivo intragável e odiado, e a situação iria começar a piorar cada vez mais pra ele.

Sorte que ele já tinha um herdeiro em mente.


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