Um Herói de Brinquedo 2


Existe um velho ditado no ramo de entretenimento, especialmente em filmes: se viu o penta… Não, pera, esse é outro… Se algo não está quebrado, faça uma sequência ou reboot até esmigalhar esse algo.

E ao que parece, quanto maior a companhia, maior a probabilidade disso acontecer, como temos visto recentemente com a Disney, Warner, e Amazon, que  dia desses comprou os restos da MGM.

Outras empresas tentam entrar no mesmo nicho de roubar uma IP pertencente a outros e estragá-la a um nível que só lhe resta coçar a cabeça e quotar alguma frase do Angry Videogame Nerd, começando por “WHAT WERE THEY THINKING?”.

Caso em questão: WWE com Um Herói de Brinquedo 2.


O produto principal da WWE são as lutas ao vivo usando lutadores com carisma suficiente pra ser um personagem de Street Fighter ou Guilty Gear, lutas essas que são 100% reais e muito mais perigosas que qualquer lutinha de mentirinha, como UFC, MMA, boxe ou debate em programas de rádio.

Mas lá nos anos 2010, nosso amigo Vince McMahon acordou um dia e pensou “VAMO FAZER FILME”, pra fazer sua marca ser conhecida no público através de outras vias, uma vez que desde sempre era comum wrestlers altamente populares migrarem pra TV e cinema, como foi o caso de Hulk Hogan e Ted Boy Marino.

A WWE costumava fazer muito filme de ação, onde normalmente se juntava com outras produtoras, algo que é mais notável quando eles fazem crossvers com Os Jetsons, Flintstones, ou os dois crossovers com Scooby-Doo. Mas isso é história pra outro dia, o importante é saber que o nicho que eles atuavam mais era o tipo de filme que passaria num Super Cine, filmes envolvendo espiões, policiais, ou justiceiros durões.

Aqui e acolá tinha uma comédia mais familiar e leve, como Ajudante de Papai Noel; ou até um drama religioso como Gavin Stone. E ok, podem não ser uma maravilha da sétima arte, mas são filmes que cumprem seu papel de forma competente e em alguns momentos, se esforçam mais do que tem direito.

O problema é quando a WWE começou a financiar e produzir sequências de filmes já estabelecidos, como Leprechaun, aquele outro que tem o Kane lá, e o caso de hoje, Jingle All the Way 2, que poderia se chamar Jingle Half the Way, traduzindo pra Um Cara Normal de Brinquedo.

Sim Mamaco, roubei sua piada, nenhum de nós dois pode pagar um advogado anyway.


Se você não viu Um Herói de Brinquedo, provavelmente você é um dos caras descritos por Weird Al naquele clipe que ele canta ao contrário. O filme de 96 (ou algo assim, sei lá, o IMDB tá fora do ar excepcionalmente hoje) conta sobre como Arnold Schwarzenegger é um terrível pai e que a culpa de Anakin virar o Darth Vader na real é porque ele nunca teve um boneco do Turbo Man quando pivete.

E sim, eu escrevi o nome do Arnoldo de cabeça. É meio triste saber que esse é meu poder mutante.

O primeiro filme é um filme engraçado, divertido, vários momentos memoráveis e quotáveis caso você esteja soltando frases soltas com seus amigos, e tem aquele sentimento quentinho e wholesome que só filmes natalinos conseguem dar, ao mesmo tempo que faz uma crítica ao consumismo que blablabla é muito inteligente quando cê tem 8 anos ou 80, mas qualquer outra idade é um negócio brega.

Claro, ignorando o fato de que o pai é o personagem mais inocente de todo o filme mas que mesmo assim leva a culpa por tudo, como era costume na época.


Um Herói de Brinquedo 2 já te zoa porque o título brasileiro não tem nada a ver com o filme, já que nunca vemos Larry the Cable Guy vestido de urso, embora ele seja grande, gordo, peludo e dócil. Larry é mais conhecido por vocês ao estrelar grandes obras do audiovisual como Carros, Carros 3, os jogos de Carros, provavelmente atrações de Carros dos parques Disney, e O Fada do Dente 2, porque os anos 2010 foram o purgatório do cinema, e hoje presenciamos o inferno.

Eu faria uma piada com Inferno de Dante, mas não vou desperdiçar uma piada tão cabeça num filme do Larry the Freakin’ Cable Guy. É como colocar passas num pudim perfeitamente suculento.

Tá, wathever, qual o lance desse filme? A história é ao menos parecida com a original? Sim e não, da maneira mais sofrível possível.


Larry é um pai divorciado que ama sua filhota e faria tudo por ela, e de fato ele o faz. Ele é carinhoso, atencioso, vive contando piadas pra ela, e tenta explicar o mundo da melhor maneira que pode, porque ele é um caipira que levou 5 anos pra terminar o fundamental.

O novo padrasto da menina (que, aliás se chama Noel, e não Noelle porque a Disney tem posse de uma máquina do tempo e impediu a Fox de fazer um filme de Natal porque eles iriam fazer aquele filme com a moça fofinha do sorriso bonito) é um maluco que parece o Jughead velho de To Riverdale and Back Again, só que ricaço, e embora ele mime demais a menina dando a ela trocentas coisas caras, ele legitimamente só quer a afeição da garota.

Larry então abre a cartinha que Noel mandou pro Papai No… Pai Natal, e descobre através de uma letra absurdamente ruim mesmo pra uma criança de sete anos, que ela quer um ursinho de pelúcia falante que é a febre do Natal.

Porque é claro que sim.


E aí Larry e o Jughead vão se matar numa disputa altamente descompensada pra dar o maldito ursinho pra menina. O plot twist é exatamente esse que cê tá pensando.

A história em si não é nada especial, mas o primeiro também não era. A diferença é que o roteiro final nos dava muita personalidades engraçadas e com dinâmicas interessantes entre os personagens. Era engraçado ver o raio do Conan, o maluco que cortou a cabeça de James Earl Jones do alto de uma pirâmide, ter que nadar no meio de gente pobre pra comprar um boneco que parece aqueles bonecos falseta que cê compra no camelô do Centro, só pra tentar dar um pouco de alegria pro filho antes dele descobrir que a vida é cruel e vai te dar tanta porrada quanto Seth Rollins e o Murphy deram no Domnik Mysterio.

Calma, já já eu comento a participação da WWE nesse filme.


Como se isso não fosse suficiente, temos o vizinho do Arnold, Troy McClure, que você deve conhecer de filmes como Pequenos Guerreiros, O Natal de Buster e Chauncey, e Dois Pestinhas em Apuros. Troy é o vizinho perfeito que provavelmente poderia roubar a esposa de Arnold com toda a facilidade do mundo caso quisesse, mas é só um vizinho legal.

Ou então eu tou lembrando o filme errado e confundindo com lapsos de O Mentiroso e Os Simpsons.


O filme original tinha um ritmo bom, introduzia personagens com dinâmicas diferentes pra atazanar Arnold, mas de maneiras diferentes, que funcionavam tanto pro schadenfreude como pra que torcêssemos que tudo desse certo pra ele. Tipo Sinbad, o carteiro, ou o exército de Papais Noéis que fabricavam brinquedos falsificados.

Aliás, o Big Show era um dos Papais Noéis, o que me faz imaginar se não foi um dos motivos que fez Vince pensar que uma sequência feita pela WWE seria uma boa idéia.

A sequência… Meio que tem esses personagens estranhos, mas numa dose menor. É como se o diretor desse a instrução “ok, ajam exagerados, mas não o suficiente pra que a cabeça de alguém exploda”, o que deixaria os atores confusos e resultaria numa performance estranha, mas só ligeiramente estranha.


O vendedor da loja de brinquedos é estranho, mas não memoravelmente estranho. A ex namorada do Larry que aparece aleatoriamente num momento também é ligeiramente estranha, mas ela não diz nada particularmente memorável. Nenhum “that was a bomb?” ou “put that cookie down”, mas os momentos em si são engraçadinhos. Tem essas gêmeas idosas que dão um tabefe poderoso o suficiente pro Larry cair.

Tem até um moleque que quase cria um momento de schadenfreude, mas não o suficiente. Isso basicamente resume todo o filme: ele tenta ser engraçado, ele tenta ser memorável, ele tenta ser estranho, mas só consegue fazer essas coisas ligeiramente. Não chega a ser dolorosamente intragável como… sei lá, Home Alone4 ou Space Jam 2, que poderiam contar como violações da Convenção de Genebra.


O que torna o filme pelo menos assistível é a performance de Larry e em certa medida, de Noel. Ok, a piveta não sabe atuar bem, mas pra uma criança que claramente não recebeu a direção adequada, é uma performance perfeitamente aceitável. Ela é adorável, fofolete, pululante, e consegue ter alguma emoção quando necessário. Ela é ideal pro papel que lhe deram, e ela funciona bem com o Larry como o paizão tonto de bom coração.

Larry é um cara que eu provavelmente deveria consumir mais de suas produções, pelo menos naquilo que ele é bom, relacionada a rádio, stand-up, e TV. Ele faz parte de um grupo de comediantes que satirizam o estilo de vida mais caipira e colarinho azul. Cê sabe, os trabalhadores braçais, certeza que Larry estaria bem à vontade com Otis pré-gimmick Alpha Academy.

Eu vi uns trechos do Blue Collar TV, e a sensação que me deu foi de um humor popular com piadas por vezes previsíveis, mas tão exageradas e tão características com uma entrega tão engraçada que cê não tem outra opção a não ser soltar um risinho que seja. A melhor forma de descrever é como se fosse o Nas Garras da Patrulha, só que ao invés de bonecos, são atores representando num teatro real com uma gravação ao vivo.

Ou seja, é o que aconteceria se a gente misturasse Garras com Sai de Baixo.


E eu achei engraçado à beça, por vezes pelo absurdo cartunesco e por vezes pela entrega estranhamente específica das falas. Larry traz isso pro filme, visto que ele é um ator de personagem, tal qual Didi e o Mr. T, que não só rimam em seus nomes, mas já tiveram uma certa história no Wrestling: Mr. T na WWE e Didi com Ted Boy Marino, inclusive atuando no filme Dois na Lona.

Isso significa que em toda performance que Larry, Renato, e seja lá o nome real do Mr. T, eles atuam exatamente da mesma forma, geralmente com o mesmo nome, mesmos trejeitos, mas não é o mesmo personagem canonicamente. A menos que o Didi seja uma espécie de Doctor, só que ao invés de regenerar ele envelhece e o mundo ao seu redor que se transforma completamente.

A entrega das falas e o tipo de coisa que Larry diz é muito parecida com o Mater de Carros, e vez ou outra ele solta algo engraçadinho ou só tão bobo e wholesome que acaba te fazendo sorrir de alguma forma.


Larry, Noel e o resto do elenco é a única coisa que me manteve ativo durante o filme, porque a qualquer momento poderia ter alguma piada de improviso que me fazia sentir alguma coisa além de tédio, porque o roteiro em si, a forma que a história é desenvolvida, e os diálogos que tentam desenvolver a história, a menos que tenham algum improviso de Larry, são absrudamente maçantes.

Ah é, tem algo a ver com WWE. Tem que ter pelo menos um wrestler emprestado pro filme, e nesse caso foi Santino Marella, o qual eu não sei absolutamente nada, além do fato dele ser italiano e ter sido ajudado pelo Beaker dos Muppets uma vez. Nunca vou esquecer que na narração brasileira, por algum motivo, chamaram o Beaker de JAIRO.


E sim, o fato de ter um wrestler da WWE aqui não faz a menor diferença pro filme, o que deve ter sido parte do business, fazer com que o pessoal se acostumasse com o rosto dos wrestlers. O que não ajuda terem pegado um cara que não é tão memorável quanto um wrestler devia ser, e ainda servindo de straight man pro Larry, que tem uma presença marcante e memorável. A presença de um wrestler aqui tem tanta funcionalidade quanto as referências aleatórias à WWE que eu salpiquei durante esse artigo.

Aliás, a dublagem desse filme é uma desgraça também. As vozes não combinam e nem de longe tem a mesma graça que a voz original de Larry. Se for ver esse filme, faça um favor a si mesmo e não veja. Ou veja no áudio original, caso tenha a curiosidade mórbida de ver a sequência de Um Herói de Brinquedo.

A melhor coisa desse filme, de fato, foi a sugestão do Disney+ quando eu terminei de ver o filme:


***
  Esse post foi feito com o apoio do padrim João Carlos. Caso queira contribuir com doações pro blog, dá um pulo lá no Padrim, que cê vai poder dar pitaco nos artigos futuros, ler artigos assim que forem terminados, e mimos aleatórios na medida do possível.
Ou dá uma olhada nas camisas da loja, tem camisa com o símbolo do blog, designs exclusivos de Disney e Archie, e também aceito sugestões de ilustrações, aliás.

Também dê uma olhada nos livros originais do grupo SRT, que podem ser lidos usando o Kindle Unlimited, que é basicamente uma Netflix de e-books. Tu paga uma mensalidade e pode ler QUANTOS LIVROS QUISER, no kindle, tablet, celular e computador.
Clica na imagem e faz um teste de graça por 30 dias, na moral.


Ou se tu preferir filmes e séries, dá uma chance pra Amazon Prime, que não só tem um catálogo diferente da Netflix, como tem uma pancada de outros benefícios, tipo frete grátis, assinatura de revistas, brinde na Twitch, etc.

Inclusive o Prime Gaming dá jogo de graça todo mês, pra ficar na tua biblioteca mesmo. Vez ou outra aparece umas pérola tipo arcade da SNK, point and click da LucasArts e sei lá, o jogo de Dark Crystal, além dos pacotes pra uma PANCADA de jogo online.

Sério, faz o teste gratuito aí clicando na imagem abaixo, talvez tu encontre algo que não tenha na Netflix, ou Disney+, ou wathever que te interesse. Tem filmes clássicos também, tipo os da Pantera Cor-de-Rosa no MGM.
Se não gostar ou não quiser continuar com o(s) serviço(s), só cancelar a qualquer momento, sem besteira.


Cê também pode ajudar compartilhando os artigos do blog nas redes sociais, pros amigos que também possam gostar, etc. Manda pro teu amigo e termina a mensagem com "se tu não mandar pra mais 5 pessoas tu vai pegar cirrose no dedão do pé".

Se quiser dar uma doação random de qualquer valor sem compromisso ou assinatura, escaneia o algum dos códigos abaixo ou usa o botão do PayPal ali do lado. Qualquer valor já ajuda a manter o blog e impede que o Joshua morra de fome.


 

You May Also Like

0 comments