O Cântico de Natal dos Flintstones


E mais uma vez, voltamos a Uma Canção de Natal, uma daquelas histórias que se tornaram tão clássicas e atemporais, que tentar encaixar personagens e conhecidos nos papéis é uma boa maneira de conhecer ou testar personalidades, assim como Alice no País das Maravilhas e O Mágico de Oz.

Ou talvez só eu que faça isso no meu tempo livre e por isso que minha única companhia é um copo de isopor com um rosto desenhado.

Enfim, já que Uma Canção de Natal é domínio público, vamo aproveitar pra fazer quantas versões quisermos né, porque é uma história que fomos acostumados a simplesmente aceitar no final do ano e que dá margem pra várias interpretações criativas.

No entanto... É possível cansar dessa história, por incrível que pareça. Então qualquer novidade que se possa colocar na historia se torna mandatória em adaptações, e foi algo assim que O Cântico de Natal dos Flintstones tentou fazer, e caso não tenham notado, é sobre ela que comentarei hoje.

Se não notou isso ainda, procure um médico. Ou o Faustão, sei lá.



Ao invés de recontar diretamente a história original só jogando os personagens do desenho nos seus respectivos papéis, o especial conta uma história dentro da história, no mesmo molde de Muppet Show, onde Wilma tenta organizar a peça comunitária de Uma Canção de Natal, narrada por Charles Brickens.

Oh, trocadilhos de Flintstones, tão 8 ou 80.

O problema é que Fred vai interpretar o personagem principal, o velho sovina avarento mesquinho pão-duro desgraçado infeliz fã de banco, Ebenezer Scrooge. Mas Fred encarna tanto o personagem que começa a agir como "estrelinha", e chega a incomodar e desprezar seus velhos amigos, numa atitude que chega a ser até fora do personagem.

Cê sabe, aquele astro que se acha a última Coca-Cola do deserto e por isso merece tratamento especial e diferenciado e vive dando piti nos colegas de posições inferiores, como Rex Harrison em Dr. Dolittle, Judy Garland em O Pirata, e Hermione em Belifera 2016. E por estar tão imerso nos ensaios, Fred literalmente fica alheio ao mundo ao seu redor, sem saber porque Wilma tá brava com ele ou porque de repente seus amigos passam a desprezá-lo.

Provavelmente porque ele esqueceu de buscar a Pedrita na creche.

De novo, Fred é um protótipo de Homer Simpson, mas eu não consigo ver com facilidade ele esquecendo de coisas importantes assim, a menos que eu teja esquecendo do desenho original, que eu só lembro claramente de assistir religiosamente todos os dias junto de Scooby-Doo, quando o SBT ainda se importava de passar desenhos em horários que não fossem de manhã.

Sim, sim, bons tempos... Dava pra ver desenho no SBT estudando de manhã ou de tarde, era legal.


O especial fica alternando entre mostrar a continuidade da história original (adaptada pro universo de Bedrock) com os shenanigans de backstage, que nem no Muppet Show, só que não tão engraçados quanto as peripécias da trupe de Kermit, mas que pelo menos seguem a história de fundo. Então na prática é mais próximo de um programa da WWE, que nem sempre é algo engraçado, mas geralmente é algo que avança a história dos personagens.

É um equilíbrio bom, até porque Fred passa obviamente pelo mesmo tipo de transformação que Scrooge e ficaria muito repetitivo caso os segmentos de backstage fossem mais longos. Mas ele parece alheio a tudo isso e só vai se dando conta aos poucos durante a peça. Tanto a idéia quanto o desenvolvimento é um pouco clichê demais e a mensagem que eles querem passar pode ser percebida a um quilômetro de distância, mas é um especial de Natal, é muito comida de conforto, sabe?

...continua repetitivo, mas me ouça.

Por um lado, é previsível demais e logo pode cansar porque cê já sabe o final das duas histórias, mas ao mesmo tempo, é um desenho feito pra ser assistido junto de outros desenhos natalinos, só pra entrar no clima da festa. E já aprendemos com Chaves que a gente tende a assistir algo que nos dê alguma segurança, que a gente saiba mais ou menos o que vai acontecer, mas ainda sermos surpreendidos.


Por exemplo, temos alguns momentos de desgraçar a cabeça, que Fred torna toda a situação pessoal ainda mais difícil de resolver (porcausa dum lance de compras de última hora que ele tem que ir buscar e etc), o que colabora tanto pra que torçamos por ele, por vermos um esforço de mudança em sua vida, mas também que vejamos que ele ainda é um zé que precisa aprender muito, especialmente em situações extremas como a que ele se coloca.

Ou então só alguns momentos que te fazem dizer "NÃO PERA", como quando a Wilma manda soltar a neve e a câmera corta pra um monte de pássaro alinhado em cima do palco.

...não é o que cês tão pensando, mas poderia ser.

E tem também um meio que subplot do Fred estar MUITO empolgado de fazer a cena romântica com uma colega de trabalho, e ela também tá MUITO empolgada...


...

You know, for kids!

E olha que esse especial saiu uns bons 7 anos antes de Flintstones on the Rocks, é um pouco bizarro ver esse tipo de humor adulto numa época que Flintstones já era marketeado pra crianças.

Sim, claro, Fred ainda faz as pazes com Wilma, não sem antes dar a entender pra própria que preferia fazer a cena com a loira aí cujo nome eu não lembro... Mas ainda é bizarro de ver isso.

Also tem um subplot constante da Febre Bedrock, que fica tirando ator de cena e obrigando Wilma a substituir todos os doentes o que reforça minha teoria de que Os Flintstones se passam no futuro e que a tal febre é uma variação do coronga wilson.

Não, sério, só assim pra eles comemorarem o Natal, conhecerem Uma Canção de Natal, e mencionarem até Albert Einstein em Flintstones Kids (que por algum motivo o IMDB diz que se chama Os Flintstones nos Anos Dourados). Sei lá, teve um apocalipse nuclear que forçou a civilização a recomeçar da Idade da Pedra, mas eles não queriam abrir mão dos luxos do passado como chuveiros, liquidificadores e televisão, e foram usando os animais que se tornaram sentientes devido à radiação mas que ainda não considerados uma classe inferior aos humanos.

Esse que é o tipo de conversa legal pra se ter durante a ceia de Natal.


A animação é ótima comparado ao desenho original, mas não o suficiente pra passar a emoção necessária. Ok, é um desenho mais comédia que drama (como Mickey's Christmas Carol), então o foco dele é em caretas e slapstick e quid pro quos gerados em diálogo, e ele faz todos esses momentos ok, enquanto ainda dá um upgrade no traço econômico que é marca registrada da Hanna-Barbera.

Quanto à história de Uma Canção de Natal, o desenho faz um ótimo trabalho, introduzindo gerações mais novas à história, mas talvez de uma forma não tão eficaz, graças às interrupções da história maior, que ocasionam até mudança de atores nos personagens. Nada que vá fazer muita diferença, mas se me perguntar uma versão pra apresentar aos pequenos, eu escolheria O Conto de Natal do Mickey, que conta a história direta sem o background de teatro, com personagens ainda reconhecíveis em papéis que lhe cabem bem, e com uma animação ESPLÊNDIDA e todo o drama e spookyness que a história original traz.

Digo, O Conto de Natal dos Flintstones passa bem por cima da morte do Pequeno Tim, que por algum motivo chamam de Tiny Tim mesmo na dublagem brasileira.

Nunca vou entender essas regras de adaptação.

Also, a versão do Rato dura menos tempo, em 20 minutos tu pega a história toda de uma forma divertida sem perder o drama e clima. Se tiver mais tempo, eu colocaria O Conto de Natal dos Muppets. Ainda assim, O Cântico de Natal dos Flintstones é um bom desenho pra ver no Natal, é uma forma interessante de rever a clássica história.



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Sério, já viu o preço do salmão? Pois é.




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