Ok, cês sabem que eu gosto de trazer filmes obscuros pra cá, porque eu acredito que tenha muita pérola escondida no mar de conteúdo que temos acesso. Eu gosto da idéia de caçar coisas curiosas, porque em alguns casos, até o conceito parece interessante, mas por qualquer motivo acaba sendo mal utilizado.

Uma piada recorrente que eu faço é "só eu e mais duas pessoas no mundo assistiram isso", ou variações disso.

Pois bem, o filme de hoje foi visto por mim e segundo o Letterboxd, mais 6 pessoas.

E eu fui a primeira a dar mais que duas estrelas pra esse filme.

...isso nunca é um bom sinal.

O filme conta sobre Izzy, uma molequinha fofolete e chocolatante que seguiu os ensinamentos das propagandas Caloi e usa de meios pouco ortodoxos para que seus pais não se esqueçam de que assim que acabar a aula, precisam ir pra loja comprar a guitarra dela.

Ela ficou guardando dinheiro até que tivesse uma promoção na loja durante o Natal, o que parece algo tão improvável que eu nem vou me dar ao trabalho de ressaltar como tudo no Natal fica mais caro e porque raio ela guardaria dinheiro pra comprar um presente pra ela mesma sendo que ambos os pais dela trabalham e parecem ter dinheiro de sobra pra simplesmente dar uma guitarra pra ela.

Mas hey, ensinar crianças a economizar pra algo específico sempre é uma boa lição e eu aprovo.

Mas, como sempre, os pais dela se esqueceram de buscá-la na escola, e ela fica por lá mesmo perambulando esperando que eles venham. Mas devido a uma tempestade de neve, três ladrões acabam usando a escola como esconderijo e...

...

Sim, é uma tentativa de ser Esqueceram de Mim.
Só que uma versão beeeeem diet.

Primeira coisa a notar é que, fora "o cara de Máquina Mortífera", nenhum dos atores aqui é conhecido. A menos que tu tenha um gosto pra filmes pior do que o que eu sou obrigado a desenvolver e tenha visto outros filmes da mesma produtora, ou alguma coisa tipo sei lá, Starship Troopers e o Grinch da Illumination.

Aliás, é engraçado ver os créditos no IMDB. Uma das companhias é a Koan, que talvez tu não conheça de nome, mas eles produziram uma PANCADA de filme que saiu aqui, tipo Kingdom Under the Sea e A Princesa e a Ervilha, de 2002. Também produziram desenhos dirigidos por Richard Rich, sobre histórias bíblicas, personalidades históricas, e mórmons. Mas talvez cê conheça mais os trabalhos dele na franquia Alfa e Omega e no filme O Espantalho.

Ainda não? Pois bem... Ele dirigiu e dirige até hoje os filmes da Princesa Cisne. É.

Sim, até hoje tem filme novo daquilo, é tipo Em Busca do Vale Encantado. Se o pessoal da dublagem soubesse que iriam ter trocentos desses filmes mais uma série animada, nunca teriam nomeado assim.

Agora é tarde demais.

A humanidade tá marcada pra sempre, em curtos intervalos de tempo teremos Em Busca do Vale Encantado, A Princesa Cisne, um Kamen Rider e um Sentai, tudo novo, até o fim dos tempos. Já não temos mais um novo Vale Encantado desde 2016, o que nos resta com só 3 franquias eternas.

Mas todos sabemos que quando cancelarem Os Simpsons, estaremos mais mais próximos do Fim de Tudo.
...
Onde eu parei? Ah, sim.

A outra companhia, chamada G It's for Entertainment, fez uma pancada de outros filmes de baixíssimo orçamento e segundo o site deles, o foco é produzir filmes pra família, incluindo Honeymoon from Hell, Suicide Note, Varsity Blood, etc.

You know, for kids!

E se tu for dar uma olhada nos filmes, todos eles parecem ter sido produzidos praquele público muito específico que assiste filmes tapa-buraco de tv a cabo durante o Natal pra não ter que conversar sobre política com a família.

E... pra um filme assim... Christmas Break-In é aceitável. Mas vamos por partes.

Embora eles tentem fazer o lance de Esqueceram de Mim, o conceito não funciona totalmente nesse filme. No original de John Hughes, a idéia funciona porque nos relacionamos com a família McAllister, seus dramas, suas dinâmicas familiares, etc. Izzy e sua família tem uma dinâmica legal, mas os relacionamentos entre eles nunca são devidamente explorados a ponto de nos importarmos com eles.
O que não quer  dizer que sejam detestáveis.

Eu gosto de como Izzy é energética, mas também é ela que tem que ficar fazendo anotações no corpo dos pais pra que eles se lembrem de buscar ela (é um traço da personalidade impulsiva dela, não é organizacional e metódico como aparenta à primeira vista); eu gosto como o irmão mais velho realmente se importa com ela, mesmo que eles se provoquem a um nível de insultos um pouco maior do que eu esperava; e eu gosto de como os pais tentam coordenar a família e conciliar com os trabalhos.

O personagem do zelador como um todo também é MUITO gostável, aquele velho simpático com um passado trágico e sombrio, mas que por conseguir superar tudo isso ele usa seus talentos, disposição e sabedoria com uma gentileza e simpatia absurdos. Esse maluco simplesmente incorpora o Natal e eu adoro esse personagem, especialmente porque a atuação dele é muito engajante. Tu fica interessado e acredita em cada palavra que ele diz, mesmo quando ele tá claramente distraindo os vilões com táticas que faria os vilões de Scooby-Doo dizerem "ok SÉRIO que vocês caíram nisso?"

As armadilhas são um pouquinho mais realistas do que estamos acostumados, mas o roteiro não aproveita o total potencial delas. Até porque o filme tem um tom cartunesco que fica bem mais evidente com os vilões. Eles são grande parte do filme, e são os mais memoráveis por serem os mais caricatos.
Tem o maluco latino covarde com pose de durão; a namorada dele que parece uma vilã de novela da Record; e o irmão da vilã que é o perfeito esteriótipo do gordo abobado.

Eles tem até um apelido não-oficial, tal qual os Bandidos Molhados. É muita vontade de ser Esqueceram de Mim.

E assim... Eu gosto da Izzy como protagonista. Ela é simpática e inteligente e tudo o mais, mas o maior problema é que não simpatizamos com a situação dela o suficiente. Ela se vê sozinha na escola e faz aquela montagem tipo do Chris sozinho com o diretor na escola. Ela brinca de roqueira no palco vazio, toca bateria com panelas, fica zoando com o microfone do colégio, etc.

Mas, de novo, eles nunca vão 100% na idéia. Nunca fazem algo absurdamente divertido com o conceito. E é um conceito interessante pra esse tipo de filme, eles poderiam ter feito muito mais antes de nos mostrar Izzy fazendo as armadilhas pros vilões.

As armadilhas inclusive são quase inexistentes, são coisa ridiculamente básicas mas funcionais, nada exagerado ou minucioso como as de Kevin. Mas... faz sentido, ela tá no colégio e não em casa. Se fosse em casa ela teria mais intimidade com o ambiente, podendo fazer coisas mais mirabolantes.

Mas ainda assim... É um Home Alone wannabe. Eles podiam ter esticado a baladeira pra ser algo REALMENTE absurdo a ponto da gente rir sobre o quão absurdo é o que ela faz, sei lá.

E o que ela faz aqui ainda é mirabolante o suficiente, e até ligeiramente diferente do que Kevin fez, fora que ela teve menos tempo de preparo e teve que passar menos tempo escondida. E também temos menos tempo de duração e menos orçamento, que eu imagino que metade dele tenha sido usado pra pagar Danny Glover.

E tem um lance com um Papai Noel lá que até agora eu não entendi se era pra ser o Noel verdadeiro ou não, o filme deixa em aberto mas ao mesmo tempo não dá pra concluir se é o Noel real ou não.

É um filme INCRIVELMENTE básico, mas ainda conseguiu tirar umas duas boas risadas de mim, mas bem esporádicas. Praticamente na única piada slapstick que tem, que ao menos é bem-feita. Nada memorável, mas te pega desprevenido e talvez te arranque um risinho genuíno.

E os atores parecem se divertir durante as gravações, os pós-créditos (ou durante-créditos, sei lá o nome) mostra algumas falas alternativas bem engraçadas e uns improvisos divertidos.

Talvez com mais orçamento e um produtor melhor, tivéssemos um resultado mais memorável. É um filme de baixo orçamento provavelmente feito pra lavar dinheiro, mas dá pra fazer algo melhor com os instrumentos em mãos.

Orçamento baixo não é desculpa pra não ter boas idéias.

Se tiver interesse, dá uma olhada, mas se não tiver, não perdeu muita coisa. Gostei de ter visto, não sei se veria de novo tão cedo.