Klaus


Cês lembram quando a Disney simplesmente matou a indústria de animação 2D no cinema? Depois que Princesa e o Sapo foi um fracasso comercial, eles mudaram totalmente os próximos dois filmes, Enrolados e Frozen, que seriam uma mistura de 2D com 3D.

O que eu consigo lembrar agora é que Enrolados seria 2D com os cabelos da Rapz em 3D, e Frozen... Eu não lembro bem, mas tava bem no início da produção, então foi fácil fazer a transição. Enrolados custou sozinho mais do que a Trilogia Senhor dos Anéis só pra fazer essa mudança de 2D-3D pra full 3D.
O que é irônico que foi a própria Disney que revolucionou a mistura de 2D com 3D lá na Renascença.

Conto isso porque um dos caras que trabalhou em filmes como Corcunda, Hércules, e (pra mim) o pináculo da mistura de D's, Tarzan, foi o criador e diretor de Klaus.
E tu sente essa mesma paixão em cada frame.


A história conta sobre Jesper, o filho do presidente dos Correios ou algo assim. Ele é mimado, preguiçoso, cheio de si, e não quer abrir mão de nenhuma de suas regalias. Mesmo com seu pai fazendo tudo pra que ele entrasse na Academia de Carteiros (o que é algo que existe nesse mundo, aparentemente), o moleque simplesmente não dá valor ao trabalho e quer viver uma vida mansa.

Seu pai então o designa pra ser o carteiro de uma cidade esquecida pelo tempo no meio da neve. A cidade é regida por duas famílias que vivem numa eterna briga que dura desde que o chão é chão. Uma daquelas clássicas disputas entre famílias como Hatfield e os McCoy, que até virou um curta pela Disney.


A cidade não tem interesse nenhum de contactar o mundo de fora, obviamente, mas Jesper precisa enviar 6 mil cartas dentro de um ano (ou algo assim), caso contrário ele vai ser deserdado da família. Mas Jesper descobre um lenhador com uma rruma de brinquedo, e convence as crianças a escrever pedidos de brinquedo pra ele, e junto do lenhador ele vai entregar os brinquedos e assim começa a ter uma pancada de carta enviada.

Mas além disso, ele começa a transformar a cidade pra melhor, através das crianças. Rivalidades acabam sendo desfeitas, vizinhos se cumprimentam na rua, pessoal começa a trocar doce, etc.
Mas os velhos da cidade não querem que todo mundo conviva em paz e harmonia, porque tradição e blablabla, you know the drill.


Eu creio que vocês também concordam que a qualidade geral dos filmes nos últimos anos decaiu MUITO. Quando eu sou obrigado a elogiar o remake de Aladdin como "espetacular" quando ele não fez muito além da obrigação dele, é porque a gente tá numa situação feia. Raios, eu me incomodo de Frozen ter que explicitar com palavras certas coisas que deviam ser óbvias (tipo o Olaf tendo que exclamar "um ato de amor verdadeiro" durante o clímax).

Às vezes eu tenho saudade das animações dos anos 30 e 40, onde eles podiam ser mais atmosféricos, podiam ter cenas com pouco diálogo onde a história era guiada pelas imagens.
Bambi é um filme totalmente fora do meu gosto pessoal. Se eu tiver que escolher entre Bambi e... sei lá, Meu Amigo Totoro (que eu não tenho lá esses carinho todo), eu escolheria Totoro.

Mas Bambi tem uma classe, uma fineza na animação, que é sem igual. As cenas de maior emoção seguem sem diálogo, sendo contadas apenas por movimentos e música sincronizados, quase um balé clássico. É sensacional.


Klaus não tem o lance do balé, mas tem esse mesmo refino artístico. O filme dá espaço e tempo pros personagens respirarem, atuarem, serem quem são. Nada é esfregado na tua cara e cortando o mais rápido possível pra alguma coisa mais divertida ou enérgica, tem momentos lentos e incrivelmente atmosféricos sensacionais.

Grande parte disso funciona porque os personagens tem um coração real. São personagens identificáveis, relacionáveis. Jesper é um cara que teve de mudar de vida bruscamente e o faz porque teme pela sua própria vida. É egoísta e mesquinho, mas ele evolui no decorrer do filme, e seus dilemas ainda são familiares a nós. Basta se lembrar da última vez que tu ficou sem internet que vai notar que existe um pouco de Jasper em ti.

Ava é a professora local que teve que começar a vender peixe pra sobreviver, e junta dinheiro pra sair o mais rápido da cidade. Ela também é incrivelmente simpática e também passa por uma mudança drástica durante o filme. De fato, todos os personagens mudam consideravelmente, e eles tem características familiares a nós, o que os torna mais inspiradores.


Klaus é o velho madeireiro com um passado trágico, e... É sensacional. Ele é um grandalhão com um coração e vida partidos, eu gosto da forma que ele banca o tipo silencioso e anti-social, mas algo a mais o insulta a seguir o plano de Jesper.
O fato de ele ser dublado pelo JK Simmons é a cereja do bolo.

Outro elemento que te suga imediatamente pro filme é a animação e o design de produção. Os personagens são quase tão humanos como nós, mas de nada valeria se não fosse a animação e a atuação dos personagens.
E a animação surpreende de mais de uma maneira.


Primeiro que sim, ela é incrivelmente bem executada. Os personagens se mexem com naturalidade e as expressões faciais são sutis e perceptíveis. O design de personagens também é fantástico, tu consegue deduzir a personalidade de cada um só de olhar, e cada personagem é divertido de se ver. É muito estilizado, mas não tão cartunesco que pareça irreal. É algo no meio-termo, algo como um quadrinho do Asterix ou Lucky Luke.

De fato, eu não me surpreenderia se essas forem as influências (subliminares ou não) dos designs. O estúdio que animou Klaus fica na Espanha e o diretor Sergio Pablos já trabalhou na Disney Animation France e em Asterix e os Vikings.
Also, ele também foi um dos criadores de Meu Malvado Favorito. Como disse o Saberspark, "Klaus foi necessário pra que o universo ficasse em equilíbrio".

Mas não só o design de personagens e de cenário são fantásticos, mas a técnica das camadas também. É um filme animado tradicionalmente, mas a forma que eles acabaram o desenho dá a impressão de ser 3D. Ao mesmo tempo que os personagens se movem como personagens 3D, eles tem um acabamento que parece ter saído de um livro de histórias infantis.


A animação é nada menos do que surreal. É linda, é fluida, é natural, mas ao mesmo tempo é algo novo e surpreendente. Eu realmente não faço idéia de como raios eles conseguiram esse visual deslumbrante de tão lindo.

Sério, faça um favor a si mesmo e assista Klaus na Netflix. É engraçado, é divertido, tem boas morais (e práticas, inclusive), é lindo de se ver, é divertido de se olhar. Meu único problema é com o clichê da Revelação do Mentiroso, mas é um pouco aguado demais, então é passável.

É simplesmente o pacote completo pro Natal.

Sério, vá ver. Venha me agradecer depois nos comentários.


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